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DIPLOMACIA

Diplomata avalia que Trump percebeu erro e busca reaproximação com o Brasil

Diplomata analisa que mudança americana veio da percepção de que medidas punitivas prejudicavam a economia dos EUA e a popularidade de Trump

Da Redação

Terça - 07/10/2025 às 18:20



Foto: Fotomontagem Piauí Hoje Lula e Trump devem se encontrar em breve no Brasil e nos EUA
Lula e Trump devem se encontrar em breve no Brasil e nos EUA

A recente e inesperada ligação telefônica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva  marca um capítulo significativo na conturbada relação bilateral dos últimos anos. Segundo análise do ex-embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur, o gesto não foi um "milagre" diplomático, mas o resultado de um trabalho de bastidores e, principalmente, da percepção de Trump de que suas próprias políticas contra o Brasil estavam prejudicando os Estados Unidos.

Em entrevista ao UOL News, Abdenur, um diplomata de carreira com vasta experiência, detalhou os fatores por trás da mudança de postura da administração Trump. O ponto de partida foi a imposição de tarifas sobre o aço e o alumínio de vários países, incluindo o Brasil – uma medida conhecida como "tarifaço mundial". Em retaliação, o Brasil aprovou uma lista de produtos americanos que poderiam ser sobretaxados, criando um impasse.

Interesses nacionais falam mais alto

Para Abdenur, a relação havia se tornado "uma anomalia". No entanto, a recente movimentação sinaliza uma guinada. "O que está acontecendo é que as relações estão, pela primeira vez, passando a ser conduzidas de Estado a Estado, e não mais em termos da picuinha política de um, ou da preferência ideológica de um setor ou de outro", afirmou o ex-embaixador.

Ele ressaltou que, embora Trump seja ferrenho defensor de suas tarifas – a "joia da coroa" de sua política econômica –, a pressão interna se tornou insustentável. Abdenur citou que informações sobre o aumento de preços de commodities importadas do Brasil chegaram ao presidente.

"Eu acho que terá chegado agora ao Trump a informação de que a carne subiu 40%, o café outros tantos, e isso está contribuído para uma queda substantiva da popularidade dele. Então, o Trump está reagindo a uma mudança interna e também a uma percepção melhor, uma avaliação mais cuidadosa dos erros que ele estava cometendo com o Brasil", explicou.

Trabalho de bastidores foi fundamental

O ex-embaixador também destacou que, paralelamente a esses fatores econômicos, um trabalho conjunto de diplomatas e autoridades pavimentou o caminho para um diálogo mais pragmático. Ele mencionou a atuação essencial de figuras como o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o conselheiro especial Celso Amorim e o vice-presidente Geraldo Alckmin para superar entraves históricos e construir pontes, especialmente em temas sensíveis como tarifas e barreiras comerciais.

Abdenur enfatizou que o sucesso não foi apenas do Itamaraty, mas envolveu "agentes econômicos, empresários brasileiros, empresários americanos [e] outras autoridades brasileiras". Esse esforço coletivo, somado à mudança de cálculo por parte de Trump, criou o ambiente para a retomada do contato no mais alto nível.

A relação Brasil e EUA

A conversa entre Lula e Trump, ocorrida na segunda-feira (06/10) foi descrita pelo Palácio do Planalto como "cordial" e focada em "questões de interesse mútuo". Ambos concordaram em manter o diálogo aberto, indicando um desejo de desfazer os nós que tensionavam a relação.

Enquanto o governo Trump buscava realinhar seus acordos comerciais sob a máxima "America First", o Brasil respondia com a defesa de seu setor produtivo. O recuo americano, ainda que parcial, é visto como uma vitória da diplomacia brasileira e um reconhecimento prático de que a guerra comercial é uma faca de dois gumes, capaz de ferir tanto quem a aplica quanto seu alvo.

A expectativa agora é de que as relações ganhem um novo tom, menos marcado por disputas ideológicas e mais focado em interesses de Estado concretos, embora o tema das tarifas continue sendo um ponto de atenção sensível.

Fonte: UOL/Agência Brasil

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