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CIDADE QUENTE

Desmatamento em Teresina corresponde a 217 campos de futebol a cada ano e aumenta o calor

A capital registra temperaturas que chegam a mais de 40 °C, provocados principalmente pela diminuição da arborização, a urbanização acelerada e as ações humanas

(*) Por Ingrid Santana

Segunda - 12/08/2024 às 13:43



Foto: Reprodução Teresina perdeu o seu título de
Teresina perdeu o seu título de "Cidade verde" com a diminuição da arborização

Teresina é considerada uma das cidades mais quentes do Brasil. A cidade atinge altas temperaturas que chegam a mais 40 °C, devido as condições naturais da localização da capital, as ações humanas que provocam poluição, o processo de urbanização e a diminuição das áreas verdes. São as altas temperaturas que intensificam a queda da umidade do ar e o desconforto térmico da população teresinense.

As elevadas temperaturas de Teresina já registraram mais de 40 °C. Foto: reprodução

Segundo o climatologista Werton Costa, a cidade de Teresina é tão quente em virtude de fatores naturais e ações humanas que propiciam as altas temperaturas.

Climatologista Werton Costa. Foto: Arquivo pessoal

Dentro da dinâmica natural, o principal fator é a localização da capital. Teresina é uma cidade que está na faixa intertropical, próxima à linha do Equador, isso faz com que a gente receba uma quantidade extraordinária de insolação. Outro detalhe importante é que Teresina é uma capital interiorana, então ela está distante do litoral, por isso sofre um fenômeno geográfico curioso, a continentalidade, o que significa que as temperaturas tendem a ser mais elevadas. Um fator que podemos adicionar é que a cidade está situada em terras baixas, a altitude mal chega a 100 metros acima do nível do mar, Werton.

O climatologista esclarece também que as ações humanas são danosas e provocam as temperaturas elevadas na capital. "Elas são as principais responsáveis pela elevação da temperatura máxima na capital, principalmente porque Teresina cresceu de forma acelerada no plano horizontal, de tal forma que esse crescimento teve um custo ambiental muito elevado, a redução da cobertura vegetal nativa. Optamos pela solução do calçamento, do asfalto, do concreto, dos prédios, dos conjuntos habitacionais, de tal forma é uma cidade que tem além de cobertura vegetal original bastante reduzida, uma frota de veículos automotores crescente que despejam todos os anos quantidades excepcionais de monóxido e dióxido de carbono", explica Costa.

O crescimento urbano impactou diretamente na queda de áreas verdes em Teresina. Foto: Reprodução/YouTube

Teresina perdeu a sua condição de 'cidade verde', por causa da diminuição progressiva da sua vegetação natural. O fato da cidade ter aumentado a sua concentração de concreto e asfalto criou uma ilha de calor. Isso potencialmente ajudar a criar o que nós chamamos de microclima com profundo desconforto térmico. As ações humanas, então, potencializam a condição natural e, claro, sendo uma cidade quente o ano inteiro, existem àqueles momentos que as temperaturas avançam progressivamente, como no B-R-O BRÓ, onde há o aumento de temperatura máxima e de radiação ultravioleta e, consequentemente, redução da umidade relativa do ar, finaliza o climatologista.

Antes, a capital era conhecida como "Cidade Verde", título criado pelo escritor e poeta maranhense Coelho Neto, ao visitar a cidade, em 1899. Mas, atualmente, devido a redução da arborização, Teresina perdeu esse título, e apresenta aumento das temperaturas que resulta no desconforto térmico da população, baixa umidade do ar e temperaturas elevadas.

De acordo com um levantamento realizado pela Prefeitura de Teresina, a cidade perde, em média, área verde correspondente a 217 campos de futebol por ano.

A amenidade térmica está relacionada às condições ambientais de um local, como a temperatura, a umidade do ar, a velocidade dos ventos, a radiação solar e a pluviometria. Esses fatores têm impactos prejudiciais ao ambiente devido à impermeabilização do solo e ausência de vegetação.

A arquiteta e urbanista Patrícia Mendes, formada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Uninassau, afirma que o processo de urbanização acelerado e a perda da vegetação são parâmetros relevantes que definem a temperatura de um local.

Arquiteta e urbanista Patrícia Costa. Foto: Arquivo pessoal

Nas últimas décadas, em Teresina, tem ocorrido o aumento da ocupação do solo urbano, acarretando, inevitavelmente, a retirada da vegetação nativa de grandes áreas, substituída por equipamentos urbanos. Além disso, modificou-se o costume da população de plantar árvores de grande porte, em seus jardins e quintais, com o objetivo de sombreamento. O que se observa é a impermeabilização, cada vez maior dessas áreas, portanto, reduzindo as áreas arborizadas e permeáveis da cidade, afetando o aumento de temperatura e, consequentemente, a qualidade de vida da população, explica.

De acordo com a arquiteta e urbanista, em 1989, Teresina tinha uma maior quantidade de áreas verdes do que em 2009, quando grande parte da vegetação é substituída por construções e solos expostos ou desnudos. "Como consequências, têm surgido as mais variadas formas de poluição, gerando crises ambientais nos mais diferenciados ecossistemas, alterando a qualidade da nossa cidade", conclui.

Para que a capital volte a ter um clima mais agradável e ameno é necessário a implantação e revitalização das áreas verdes, ações de educação ambiental para a população e o serviço de coleta de material proveniente de poda.

"É necessário a elaboração de planos de conservação, quando possível, da vegetação existente, e ainda, de projetos voltados para a implantação de espaços livres com mais área de vegetação e arborização urbana. O poder público através de campanhas de educação ambiental, no sentido de conscientizar a população da importância da conservação da vegetação urbana. O serviço de coleta do material proveniente da poda, por parte dos órgãos de limpeza pública também seria uma medida de incentivo ao plantio e à manutenção de árvores", finaliza a arquiteta e urbanista.

Planos de rearborização em Teresina

A Prefeitura de Teresina possui um projeto em andamento, o Agenda 2030, que tem o objetivo de melhorar a condição climática e restabelecer as áreas verdes da cidade para promover a sustentabilidade e melhorar a qualidade de vida da população. O projeto visa plantar mais de 1,5 milhão de mudas nos próximos 30 anos. Para este ano, 15 mil devem começar a ser plantadas.

O CAU-PI (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí) integra o plano "Teresina, verde que te quero verde", idealizado pelo publicitário Silvio Leite, que pretende executar políticas que viabilizam a arborização ampliada e revitalizada com o plantio de árvores nativas em grandes condomínios, conjuntos habitacionais, vias rodoviárias, praças e logradouros públicos. O projeto busca recuperação da vegetação nativa de Teresina, através do plantio de espécies originárias da região, para proporcionar melhor controle ambiental contra os problemas climáticos comuns ao teresinense (calor extremo, chuvas intensas, alagamentos entre outros). Em 2023, a Câmara de Vereadores aprovou o seu plano diretor de arborização e foi sancionado pela prefeitura, mas ainda não foi colocado em prática.

O presidente do CAU-PI, Gerardo Fonseca, defende que qualquer ação que venha melhorar a qualidade de vida da população, como o plano "Teresina, verde que te quero verde", provoca uma reflexão sobre o que queremos par a nossa cidade, até onde podemos aguentar e que cidade vamos entregar para as futuras gerações. "Sabemos que a natureza, seja ela selvagem ou um projeto de arquitetura paisagística que introduz essa biodiversidade na vida das pessoas, altera para melhor a experiência de habitar em uma cidade. Teresina com seu clima hostil, merece uma atenção especial para que a vegetação nativa ou importada adaptada ao nosso clima venha amenizar esse desconforto que somos submetidos devido apo extremo climático das altas temperaturas das altas temperaturas experimentados pelos nossos habitantes",  declara.     

Gerardo Fonseca, presidente do CAU-PI

(*) Ingrid Santana é estagiária sob supervisão do jornalista Luiz Brandão

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