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OCUPAÇÃO

Famílias sem-teto ocupam terras no Ininga, próxima à UFPI, e prometem resistir a despejo

Movimento de sem-teto avança em Teresina enquanto relatos apontam especulação imobiliária dentro do acampamento

Por Marília Lélis e Luiz Brandão

Segunda - 31/03/2025 às 17:06



Foto: Marília Lélis/Piauí Hoje A ocupação foi batizada de
A ocupação foi batizada de "Terra de Abraão"

Uma nova ocupação de terras por famílias sem-teto está em andamento em Teresina, desta vez em um terreno no início da Avenida Professor Arimatéia Santos, no bairro Ininga, vizinho ao setor de esportes da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Desde o final da semana passada, dezenas de palhoças e barracos foram erguidos rapidamente na ocupação batizada de "Terra de Abraão", dividindo o espaço em lotes nominados – um sinal de organização do grupo, que já reúne pelo menos 50 famílias.

A área ocupada fica perto da rotatória que dá acesso à ponte em construção e que ligará a zona Leste à zona Norte da capital, passando pela Vila Risoleta Neves. Ainda não há informações oficiais sobre a extensão total do terreno invadido, mas testemunhas relatam que a divisão foi feita de forma acelerada, com alguns ocupantes reservando lotes para suposta especulação imobiliária. "Estão cobrando como se fossem donos do lugar", denuncia uma fonte local.  

Cenário de luta por moradia

Esta não é a primeira ocupação em Teresina, mas chama atenção pela localização – uma região mais central, diferente dos movimentos recentes, que costumam ocorrer em áreas periféricas. A crise habitacional e a falta de políticas públicas efetivas têm impulsionado famílias a ocuparem terrenos públicos e privados em busca de um lugar para viver.

Os ocupantes relataram ao portal Piauí Hoje que o início do movimento de ocupação se deu a partir de cinco mães solteiras que não estavam conseguindo sustentar os filhos e que a partir da iniciativa dessas mulheres, outras famílias visando sair do aluguel, somando 214,  buscaram a mesma alternativa.

"Estão querendo dizer que nós somos faccionados. Mas nós não somos, somos pais de família que ganham um salário mínimo e não temos como viver pagando aluguel de 700 reais e ainda comprar alimentos, tá tudo muito caro", disse um ocupante que não quis ter o nome revelado.

"Nunca fui preso na minha vida, sou trabalhador. Mas está impossível pagar tudo, pagar água, luz e aluguel. Estamos conversando com o advogado do Movimento Sem Terra. Nós estamos aqui  para termos onde morar. Somos humildes, mas não somos bandidos, somos cristãos e vamos tentar a moradia nesse lugar e seja o que Deus quiser", disse F.E.F.B.

Em 2023, ocorreram duas grandes ocupações no bairro Buenos Aires e no Parque Piauí, ambas desencadeadas por grupos organizados que reivindicam o direito à moradia digna. O poder público, no entanto, tem reagido com reintegrações de posse, muitas vezes conflituosas, sem apresentar soluções de reassentamento.  

Especulação dentro da ocupação

Enquanto a maioria das famílias busca apenas um teto, há indícios de que alguns estão se aproveitando da situação para lucrar. Relatos apontam que certos indivíduos estariam "vendendo" lotes dentro da área invadida, uma prática ilegal, já que o terreno não tem titularidade regularizada.  

A Prefeitura de Teresina e o Governo do Estado ainda não se pronunciaram sobre o caso. Movimentos sociais, porém, já se mobilizam para oferecer apoio jurídico e logístico aos ocupantes, temendo um possível despejo violento.

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