
Empresas de tecnologia, e-commerce, dos setores alimentício e médico-farmacêutico têm apresentado desempenho positivo neste começo de ano.
Os três primeiros meses de 2020 foram marcados por instabilidade no mercado financeiro. A explicação para isso é que a Covid-19, síndrome respiratória grave provocada pelo novo coronavírus, atingiu rapidamente o status de pandemia.
Nos primeiros casos notificados, ainda na província de Wuhan, as bolsas de valores sofreram impacto. Afinal, a China estava prestes a se tornar a maior potência econômica do mundo, superando a hegemonia dos EUA.
Logo, um vírus que pode ter complicações e se tornar letal, além de ter rápida propagação, atingiu todas as economias mundiais.
Além do seu poder econômico em ascensão, a China é o maior importador de commodities (matérias primas) e com sua atividade industrial paralisada por conta do avanço da doença, esse foi o setor mais afetado no mercado de ações.
Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a doença como pandemia, em março, a situação nas bolsas de valores ficou fora de controle.
Aumentou a especulação e o comportamento de aversão ao risco de alguns investidores levou ao que os especialistas chamam de “efeito manada”. Com isso, uma enxurrada de ações passou a ser vendida a preços mais baixos. Como em qualquer relação comercial, quando há mais gente querendo vender do que comprar, os preços despencam.
À medida que os governos foram divulgando programas para tentar mitigar os impactos da escalada da doença na economia de cada país, os ânimos foram arrefecendo um pouco.
O cenário está longe de ser o ideal. Ainda há bastante volatilidade e o momento é de incerteza.
Somando todos os casos ao redor do mundo, já são mais de 2,7 milhões de pessoas com diagnóstico confirmado de covid-19 (fora as subnotificações e os casos assintomáticos) e quase 194 mil óbitos.
Atual epicentro da doença, os EUA já contam com mais de 50 mil mortes provocadas pela nova cepa do coronavírus.
Com esse panorama, apesar do pacote trilionário de Trump, ainda é cedo para se falar em recuperação da principal economia do mundo e, consequentemente, de estabilidade no mercado financeiro.
Setores mais afetados
Como foi mencionado, o primeiro setor afetado pela então epidemia chinesa foi o de commodities.
As matérias primas com baixo índice de industrialização, como petróleo e ferro, têm a China como responsável por boa parte de sua demanda.
No entanto, com a recomendação da OMS para que as pessoas mantenham distanciamento social e as medidas protetivas dos governos, outros setores foram impactados negativamente.
O principal deles foi o setor de turismo. Companhias aéreas e redes hoteleiras de capital aberto viram suas ações despencarem no primeiro trimestre. Muitos países estão proibindo a entrada de turistas, fora as medidas de limitação de locomoção terrestre que, naturalmente, inviabiliza passeios turísticos.
Impacto positivo
Curiosamente, a mesma medida que prejudica alguns setores, é favorável para outros.
Com a campanha para que as pessoas fiquem mais em casa, algumas empresas superaram o impacto negativo inicial. Um deles foi o e-commerce.
As ações da Amazon, por exemplo, apresentaram queda importante, mas a empresa colocou em prática uma eficiente estratégia de enfrentamento. Priorizando itens essenciais listados em categorias específicas, a empresa conseguiu alavancar seus papeis em 24% no atual ano fiscal.
Isso porque seu modelo de negócios está alinhado à necessidade de confinamento recomendada pelos órgãos de saúde.
Nessas empresas, as relações comerciais acontecem 100% no âmbito virtual, dispensando o contato físico, que precisa ser evitado neste momento. Inclusive os pagamentos, que podem ser feitos de casa por meio de transferências internacionais.
Estratégia interessante no curto e no longo prazo, já que mesmo após a quarentena, a tendência é de que ainda demore para que a vida volte ao que era antes e o e-commerce promete ser ainda mais presente no cotidiano.
A Netflix segue o mesmo caminho. A gigante de streaming ganhou quase 16 milhões de assinantes no primeiro trimestre de 2020, 23% a mais do que o mesmo período do ano anterior.
Apesar da adesão duas vezes maior do que o esperado, a receita do trimestre ficou dentro do que era previsto, US$ 5,8 bilhões, porque o dólar valorizou bastante frente a outras moedas.
Além disso, a Netflix gastou mais de US$ 200 milhões por causa da paralisação de todas as suas produções originais.
Para a gigante de streaming, no entanto, o cenário futuro não é tão certo. Com a flexibilização da quarentena e o desemprego aumentando em todo o globo, os investidores temem a debandada de assinantes e, consequentemente, a queda no valor das ações da empresa.
Embora os resultados ainda não tenham sido divulgados oficialmente, é possível observar um crescimento importante no valor das ações de empresas do setor alimentício, como os supermercados.
A rede Atacadão, por exemplo, que faz parte do grupo Carrefour, chegou a crescer 18% em março. Alavancagem explicada também pela quarentena, que levou as famílias a estocarem alimentos e produtos de limpeza. Outras redes de supermercado como o Grupo Pão de Açúcar também apresentaram desempenho positivo.
A indústria médico-farmacêutica como as Raia-Drogasil e a Johnson & Johnson também têm se destacado, já que estão diretamente envolvidas com o novo coronavírus. Seja na produção de medicamentos ou nas pesquisas de vacinas e tratamentos.
Vale lembrar, que nesse momento ainda é tudo muito incerto. Especialistas advertem que não é hora de grandes movimentações de entrada e saída do mercado de ações. Tudo deve ser muito calculado, analisando todos os riscos de comprar ou vender ações porque o futuro é uma incógnita. Cautela é palavra de ordem.