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MEIO AMBIENTE

Brasil já perdeu 33% das áreas naturais do seu território, revela estudo

As alterações aumentam o risco climático e reduzem a proteção em situações de eventos climáticos extremos

Da Redação

Quarta - 21/08/2024 às 08:16



Foto: Agência Brasil Brasil já perdeu 33% das áreas naturais do seu território
Brasil já perdeu 33% das áreas naturais do seu território

A utilização e a cobertura do solo no Brasil, influenciadas pela a ação humana, continuam a sofrer alterações que aumentam o risco climático, conforme um mapeamento divulgado nesta quarta-feira (21) pela MapBiomas. O estudo que analisa dados de 1985 a 2023, revela que o país já perdeu 33% de suas áreas naturais, que incluem vegetação nativa dos biomas, superfícies de água e regiões naturais não vegetadas, como praias e dunas.

“O desaparecimento da vegetação nativa nos biomas brasileiros tende a afetar negativamente o clima regional e reduz a proteção em situações de eventos climáticos extremos”, afirma Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.

Nos últimos 39 anos, o Brasil perdeu 110 milhões de hectares dessas áreas, representando 13% do território nacional; outros 20% já haviam passado por alterações anteriormente. Esse resultado também considera a recuperação da vegetação nativa a partir de 2008, ano em que o Código Florestal foi regulamentado pelo Decreto nº 6.514, que introduziu mecanismos para sanção e compensação por danos ambientais.

Municípios  

Enquanto 37% dos municípios brasileiros registraram aumento na vegetação nativa, 45% – quase metade dos 5.570 municípios do país – apresentaram uma diminuição na cobertura de áreas naturais durante o período analisado. Os outros 18% permaneceram estáveis entre 2008 e 2023, com uma variação de ganho e perda nas áreas naturais inferior a 2% ao longo desse tempo.

“O que podemos observar é que a vegetação secundária já é considerada floresta e está incluída na área nativa em 2023. Isso significa que uma área pode ter sido desmatada ou sofrer queimadas severas, sendo mapeada como pastagem, mas, após a recuperação, volta a ser classificada como floresta”, explicou Marcos Reis Rosa, coordenador técnico da MapBiomas.

Os dados da Coleção 9 de mapas anuais de cobertura e uso da terra foram obtidos a partir do monitoramento de 29 mapas que analisam aspectos como a cobertura do solo e o uso da terra, considerando diferentes recortes territoriais, como biomas, municípios e terras públicas e privadas. A publicação inclui novos mapas que detalham as fitofisionomias, que são as características das vegetações em regiões específicas.

Biomas  

Com base nesse extenso conjunto de informações, os pesquisadores concluíram que até 2023 o Brasil manteve apenas 64,5% da vegetação nativa, além das superfícies de água e áreas naturais não vegetadas, como praias e dunas, que representam 2,5% do território. Dos 110 milhões de hectares de vegetação nativa perdidos, 55 milhões estão na Amazônia, 38 milhões no Cerrado, enquanto a Caatinga perdeu 8,6 milhões de hectares e o Pampa perdeu 3,3 milhões de hectares. 

O pesquisador Eduardo Vélez Martin, defende que, os dados que a plataforma MapBiomas disponibiliza, permitem plataforma compreender a dinâmica territorial de maior ou menor aceleração da taxa de perda ao longo do tempo. “A gente vê por exemplo que o Cerrado e o Pampa têm uma perda proporcional muito alta, praticamente em torno de 27% e 28% do que tinha em 1985. Isso mostra uma tendência muito grande e acelerada de mudança nesses 39 anos, em contraste com outros biomas, por exemplo o Pantanal”, diz.

Pela primeira vez, foi feito um recorte específico sobre a perda de cobertura vegetal nas florestas públicas não destinadas, que são aquelas onde a União ainda não definiu o uso da terra, como Unidades de Conservação, Terras Indígenas e concessões florestais. Essas florestas representam 13% da Amazônia Legal e ainda mantêm 92% de sua área coberta por vegetação nativa.

As florestas públicas destinadas, especialmente as Terras Indígenas, se destacam como as áreas mais preservadas do país. A perda de vegetação nativa nessas regiões foi inferior a 1% em 39 anos, e elas abrangem 13% do território nacional.

Em contrapartida, as áreas privadas sofreram um impacto significativo, com uma perda de 28% na cobertura vegetal ao longo de 39 anos. Dos 281 milhões de hectares convertidos pela ação humana até 2023, impressionantes 60% estão em propriedades privadas. Desde 1985, houve uma expansão de 228% das áreas convertidas para agricultura e um aumento de 76% nas áreas destinadas à pastagem.

Ao analisar o relevo, notou-se uma diferença marcante entre a zona rural e as áreas urbanas. As terras mais planas foram mais afetadas no campo, com regiões inclinadas entre 0 a 3% perdendo cerca de 20% de sua cobertura nativa. Nas zonas urbanas, as áreas de encostas com inclinação superior a 30% foram as que apresentaram maior redução na vegetação nativa, com uma média de perda de 3,3% ao ano.

Bárbara Costa, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e da Mapbiomas, destaca que essa informação sobre a declividade pode ser crucial para entender outros processos como erosão, deslizamentos e infiltração da água no solo. Assim, ao considerar riscos climáticos, o tipo de terreno é fundamental para o zoneamento e para as áreas destinadas à conservação.  

Fonte: Agência Brasil

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