Brasil

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

85% das mulheres negras vítimas de violência vivem com agressores

Pesquisa revela que 66% das mulheres negras agredidas não têm renda suficiente para manter a si e seus dependentes

Da Redação

Quarta - 20/11/2024 às 08:48



Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil Sem autonomia financeira, 85% das mulheres negras que sofreram violência doméstica
Sem autonomia financeira, 85% das mulheres negras que sofreram violência doméstica

A Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra, conduzida pelo DataSenado e Nexus em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, revelou dados alarmantes sobre a relação entre vulnerabilidade econômica e violência de gênero enfrentada por mulheres negras no Brasil

Divulgada no Dia da Consciência Negra, o estudo aponta que 85% das mulheres negras vítimas de violência doméstica ou familiar que não têm renda suficiente para se sustentar continuam convivendo com seus agressores. Esse número é quatro vezes maior que a média geral de mulheres negras que sofreram violência (21%).

Entre as mulheres negras que declararam não ter condições financeiras para se manter, 32% já sofreram agressões, e 24% vivenciaram episódios de violência nos últimos 12 meses. Quando questionadas sobre situações específicas de abuso descritas na pesquisa, esse número subiu para 31%, indicando que parte das entrevistadas inicialmente não reconheceu o que sofreu como violência doméstica.

Outro fator que agrava essa situação é a presença de filhos menores de 18 anos: 80% das mulheres negras com filhos em idade infantil que sofreram violência doméstica ainda convivem com o agressor.

Impacto da Renda e Educação

A pesquisa evidenciou que 66% das mulheres negras vítimas de violência não têm renda suficiente ou dependem financeiramente de terceiros. Mesmo entre essas mulheres, apenas 30% buscaram assistência médica após episódios graves de violência, e apenas 27% solicitaram medidas protetivas. Esses índices refletem barreiras no acesso a serviços de proteção, independentemente do nível educacional.

Na questão das denúncias, mulheres negras com menor escolaridade tendem a procurar mais a Justiça. Entre as vítimas, 49% das não alfabetizadas e 44% das com ensino fundamental incompleto buscaram ajuda em delegacias. Por outro lado, o percentual caiu para 34% entre as mulheres com ensino superior completo.

Realidade Socioeconômica

A pesquisa destacou que o Brasil tem 45 milhões de mulheres negras (pretas e pardas) com 16 anos ou mais. Entre elas, 66% vivem com até dois salários mínimos e apenas 33% afirmaram conseguir se sustentar. Comparando com mulheres brancas, 42% das brancas conseguem sustentar a si mesmas, enquanto 28% não têm renda e 29% têm renda insuficiente.

Além disso, a falta de escolaridade é um desafio significativo: 6% das mulheres negras são analfabetas e 25% possuem o ensino fundamental incompleto, refletindo diretamente nas oportunidades econômicas e na independência financeira.

Dados Complementares sobre a Violência

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) apontam que, em 2022, 55% das 202.608 mulheres que sofreram algum tipo de violência eram negras. O Sistema Nacional de Segurança Pública também revelou que, entre as vítimas de violência sexual com registro de cor/raça, 62% eram negras.

Já o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) mostrou que, entre as 3.373 mulheres assassinadas em 2022, 67% eram negras. Esses dados reforçam a urgência de políticas públicas específicas para proteger mulheres negras e romper os ciclos de violência e desigualdade estrutural.

Metodologia

A pesquisa foi realizada entre 21 de agosto e 25 de setembro de 2023, com 13.977 mulheres negras de 16 anos ou mais, representando a opinião da população feminina negra brasileira. As entrevistas foram conduzidas por telefone e distribuídas por todas as regiões do país, com margem de erro média de 1,44% e nível de confiança de 95%.

Segundo Elga Lopes, diretora da Secretaria de Transparência e do Instituto DataSenado, “a vulnerabilidade financeira não apenas limita a autonomia dessas mulheres, mas as mantém reféns de relações abusivas, onde a dependência econômica se torna mais uma ferramenta de controle e violência.”

Fonte: Brasil 247

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