Teresina (PI) - No Piauí, onde 79,25% da população é negra, eles correspondem a 88,24% das vítimas da letalidade provocada por policiais. O dado é revelado no boletim Pele Alvo da Rede de Observatórios, que ainda destaca a grande concentração do número de óbitos na capital Teresina, onde foram registradas 22 das 39 mortes no estado em 2022. O estudo reforça que a violência localizada ocorre pela concentração demográfica na capital, fato que centraliza as atividades policiais no espaço.
Esse é um dos dados que fazem parte no novo boletim Pele Alvo: a bala não erra o negro, divulgado nesta quinta-feira, 16. Há quatro anos a Rede de Observatórios monitora as informações sobre a cor da letalidade causada por ação policial a partir dos dados obtidos junto às secretarias estaduais de segurança pública via Lei de Acesso à Informação (LAI). Nesta edição, além do Piauí, são avaliados os números e registros de Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
A juventude é uma característica marcante do perfil mais atingido pela letalidade provocada por agentes de segurança do Estado: 58,97% das vítimas tinham entre 18 e 29 anos. O estudo também destaca que o governo do Piauí tem reduzido investimentos para políticas educacionais, culturais e econômicas de inclusão, fator que se reflete diretamente na manutenção do número de mortos pela polícia, já que entre 2021 e 2022 o total registrado foi próximo, porém com cinco ocorrências a mais no último ano analisado.
“Precisamos de alguma forma criar instâncias de controle externo da atividade policial, porque estão matando um perfil e protegendo pessoas de segmentos sociais específicos. Não estamos falando de abstração, mas sim que a polícia mata mais pessoas negras que brancas. Esse é um fato estatisticamente comprovado e queremos saber o que será feito a partir disso”, questiona Elton Guilherme, pesquisador do Observatório no Piauí.
“Precisamos de políticas públicas no campo da segurança e da compreensão da letalidade das pessoas negras. Não se tem nada a não ser a culpabilização dessas pessoas por suas próprias mortes”, completa.
A bala não erra o negro
O novo boletim Pele Alvo: a bala não erra o negro revela que a cada quatro horas uma pessoa negra foi morta, em 2022, pela polícia nos oito estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança. Considerando os dados oficiais sobre raça e cor disponíveis, eram negros 87,35% (ou 2.770 pessoas) dos mortos por agentes de segurança estaduais no ano passado. Como nos estudos anuais anteriores, o novo monitoramento demonstra o alto e crescente nível da letalidade de pessoas negras ocasionadas por policiais.
“São quatro anos de estudo e nos causa perplexidade e inquietação observar que o número de negros mortos pela violência policial continua a representar a imensa maioria de um total elevado de vítimas”, diz a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios. “Ainda lidamos com uma prática de negligenciamento do perfil dos mortos por agentes de segurança, fato que impacta diretamente no desenvolvimento de políticas públicas que possam mudar essa realidade e efetivamente traga segurança para toda a população”, acrescenta
Fonte: Com informações da Rede de Observatórios da Segurança