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Ufpi, reencontro de militantes


Brasão/logo do DCE-UFPI

Brasão/logo do DCE-UFPI Foto: Divulgação

A criação legal da Fufpi já dista de nós pouco mais de 51 anos e essa instituição inscreve um protagonismo notável de juventude, haja vista que, em todo tempo, são jovens os sujeitos históricos que espanam-lhe a poeira das quietudes infecundas. Demais agentes atuam junto, no conjunto e/ou disjunto.

Na Ufpi, organizada num tempo de obscuridade e repressões da ditadura de 64, por volta de 1978, os estudantes da Ufpi aceleram seu movimento em busca de ajustar aos ritmos do Brasil a sua ação militante contra a tirania e pela construção democrática.

O DCE fora estabelecido enquanto instância da burocracia universitária, em 1976, com a nomeação de presidente pelo reitor, à vista de escolha indireta feita pelos diretores dos então chamados Diretórios Setoriais, um por cada Centro de Ensino. 

Esse modo de escolha logo se mostrou inadequado e só servia para impressionar, na aparência, a existência de representação estudantil nas instituições escolares. Eram entidades formatadas consoante o decreto-lei ditatorial 228, de 28 de fevereiro de 1967.

A partir do ano de 77, noutros centros urbanos e com significativa repercussão em Teresina, a juventude universitária move-se para recompor seu protagonismo já historicamente conhecido em favor da liberdade, igualdade, justiça, enfim, lutas embasadas na pulsão libertária de mudar o mundo.

Aqui na Ufpi, no dito 1977, surge um movimento com ensaio de atuação a contrapelo da vontade “oficial” e, dentro do processo eleitoral formal regulado, articula-se e concorre com propostas de liberdade de organização e mobilização. Ganhou nesse ano o Diretório do CCHL, a partir do qual levantou-se uma organização independente – o GEG – Grupo de Estudos Gerais, núcleo que, com a entidade oficial setorial, alcançou fazer eleições diretas para o DCE em 1978, ainda que atrelada ao Regulamento oficialesco vigente no Brasil e na própria Ufpi.

Além do GEG, esse movimento organizou um braço eleitoral chamado Travessia e passou a disputar e ganhar eleições, inicialmente nos diretórios setoriais, depois o próprio DCE, proclamado e estatuído como entidade estudantil livre em novembro de 1979.

O avanço das jornadas de luta contra a Ditadura se acentuou a partir daquela segunda década dos 70, a crise econômica/petróleo fragilizou o autoritarismo, e já em 79 em diante se começou a respirar em brisas de liberdade política crescente. O AI-5, Decretos-leis 477 e 228 foram então revogados. À ditadura esgotada sucedeu-se uma reconstitucionalização, em 1986-88. As entidades estudantis brasileiras foram reorganizadas livremente. Na Ufpi, concretizou-se a volta dos Centros Acadêmicos dos antigos cursos – organização política por cursos, pavor da Ditadura. Outros foram criados e a vida seguiu.

Hoje o Brasil vive um sufocamento de caráter fascista, no rastro de uma ruptura constitucional a partir do golpe que anulou o resultado da eleição presidencial de 2014 e aboliu criminosamente o mandato legítimo de Dilma Rousseff. E neste tempo de 40 anos depois daquelas referidas mobilizações sonhadoras de liberdade, para muitos filhos das duas gerações que nasceram após, lastimavelmente, tais jornadas, e a própria Ditadura passada, parecem uma pálida nuvem em dissipação.  

A vontade de recordar coletivamente esses acontecimentos – na chave dos 40 anos do DCE-Livre –, levou a que vários lutadores-estudantes ligados ao protagonismo juvenil dessa entidade, voltassem a se reunir para “sacudir a poeira” do preocupante esquecimento e até negação politicamente produzidos pela manipulação ideológica do regime golpista em curso, que transformou o Estado de Direito numa quimera.

Ainda em novembro, um primeiro reencontro do segmento mais ligado ao Movimento Estudantil do contexto de 1990, puxando 80; no último dia 7 de março, gente dos 80, puxando os 70.

Significativos reencontros do Movimento Estudantil, o Emeé. No rosto de muitos entre os reencontrados – num cenário que tem tudo a ver, a sede da Adufpi –, sopravam as alegrias sinérgicas do abraço e um quê de apreensão com as armadilhas da conjuntura simbolizada na síntese infame do bolsomorismo e na submissão covarde de chefias parlamentares, militares e judiciárias a serviço da perversão neoliberal. A rigor, pré-moderna.  

Fonte: Fonseca Neto

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.
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