Proa & Prosa

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O baque

O primeiro que qualquer pessoa tem a fazer é evitar pegar o micróbio, não se deixar contaminar e hospedar por ele

Fonseca Neto

Sexta - 03/04/2020 às 09:12



Foto: Youtube Coronavirus
Coronavirus

O baque

Fonseca Neto 07/02/202019

Sim, um baque assustador atormenta a sociedade humana. Um micróbio novo passa da ameaça à exterminação de pessoas – ainda não se sabe até que ponto ameaça animais de outras espécies. Que fazer para deter a propagação e ação mortal desse vírus? Dessa espécie de “veneno”, na acepção trazida pela linguagem de latinos e romanos?

O primeiro que qualquer pessoa tem a fazer é evitar pegar o micróbio, não se deixar contaminar e hospedar por ele. Bilhões de habitantes da Terra estão fazendo isso: autodefesa, compulsão de se conservarem vivos. Outros, não.

Os estudos científicos são todos intensificados para ter uma mais definida identidade do micróbio e assim se conseguir ter meios mais eficazes para enfrentá-lo. É o desafio maior neste instante. A aldeia humana não se encontra num nível de organização suficiente para defender-se nessa terrível guerra. E alguns brigam ante a iminência da hecatombe.   

Trata-se de um tipo diferente de revolucionamento na dinâmica das estruturas sociais. O vírus é traiçoeiro e é de sua natureza quando viaja ir mudando – mutação – o material do seu corpo invisível ao olho de seus grandes hospedeiros. Daí que a mais armada que seja entre as nações e repúblicas, para as guerras comuns, na presente situação, precisa requalificar os processos dos enfrentamentos.

Enfrentar o microbicho e a doença que causa com o melhor dos conhecimentos e práticas de tratamento. E enfrentar o desarranjo na vida humana, inclusive com impactos diversos no exercício do poder político sobre a polis ecúmena.

Uma questão real: o vírus ameaça a todos, independentemente se pobre ou rico, mais ou menos poderoso, ao Brasil ou à Índia, Turquestão ou Guiné, Canadá ou Rússia? Sim. Mas é não em termos de potencial destrutivo de vidas e impactação econômica e política. Neste caso, ser nação detentora de conhecimento científico sistemático e com garantia de sua aplicação em termos de educação e igualdade, sendo nação rica, bem armada e com instituições estáveis, tem uma vantagem mais que relativa. Autodefesa? Solidariedade? Negócios?

Não dispondo da riqueza do conhecimento científico, de poder econômico autônomo, das armas, de instituições sãs, tudo leva a que a devastação seja mais acentuada. E assim, o mundo desigual, real, na hecatombe, tende a reproduzir, em modo de piora, os padrões desigualantes próprias do sistema social amplamente hegemônico. Conjuntura-mundo marcada pelo avanço intenso do que se vem chamando há mais de um século de liberalismo, nesta hora, uma espécie de onda neo(liberal) em si mortífera. Isto é, uma onda de insana acumulação de riqueza em poucas mãos, de aço, enquanto impõe a supressão de valores imprescindíveis à vida e ao viver humanos.

Como em toda guerra, o vírus está levando a vantagem do ataque mais ou menos surpreendente, por isso conseguiu atingir, no começo, pessoas das mais diversas posições no organismo social. Pegou príncipes e plebeus, generais e aiatolás, milionários. Com o passar dos meses, já devasta os socialmente desprotegidos, assalariados em geral, os desempregados e os que já sobrevivem caídos à beira do caminho das oportunidades.

O sacolejo é enorme no contexto das pactuações internas de cada sociedade em particular e das relações que buscam e sustentam o necessário equilíbrio entre as nações. Pode não acontecer nada de extraordinário nesse sentido após a pandemia, mas grandes mortandades, claro, às vezes têm preço alto. Afinal, não é de hoje que este mundo velho conhece as guerras de toda espécie e forma. Inclusive as chamadas “guerras biológicas”; fala-se até em choque de meteorito...

Fato é que a crise pega praticamente todos no contrapé. Apenas três meses do “novo ano” de 2020 e nenhum advinho previu coisa de tamanho impacto, apesar da alastração do corona desde dezembro lá para as bandas do Oriente.

Falou-se de muita coisa em alusão à segunda década findante do século XXI e também do que vem na segunda década: viagem tripulada a Marte, cura do câncer e de outros males etc. Marcelo Coelho lembrou os “drones no lugar de motoboys fazendo entrega”, inclusive de pizza “pela janela do apartamento”, “carro sem motorista e sem gasolina”, “carne artificial com gosto de churrasco”, fim das tomadas e de fiagens, reino da energia solar.  

Mas não teve ciência e profecia que dissesse da dimensão do estrago desse danisco elemento que logo nos dias seguintes daria carona para o fim de tantas vidas e o desmanche de tanta coisa que parecia sólida no ar...

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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