Proa & Prosa

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Difusora, ZYQ-3

A primeira Rádio teresinense: Nilsângela dá conta de tudo a respeito da Difusora, no que todos dizem ser o período “de ouro” da emissora, por volta de 1948 a 1962

Fonseca Neto

Quinta - 10/02/2022 às 15:38



Foto: Divulgação Difusora ZYQ-3
Difusora ZYQ-3

Nilsângela Cardoso de Lima é uma dedicada filha da Ufpi: estudante e agora professora da Instituição. Cumpre relevante papel social-intelectual com esse labor.

Dela, ao leitorado especializado e boa indicação a qualquer leitor, um livro agora lançado sobre a Rádio Difusora de Teresina. O título: Invisíveis asas das ondas ZYQ-3 – sociabilidade, cultura e cotidiano em Teresina (1948-1962). Mais que elemento pré-textual protocolar da espécie, a obra vem agraciada com um prefácio interessante do professor Santiago Jr., na Graduação, colega de aulas da autora. Eu vi.

O livro? Trata da história da Difusora de Teresina. Uma história dessa emissora de rádio, a primeira estação formal dessa espécie na capital do Piauí. Faz ela uma viagem à concepção, ao corpo, às falas e ondas desse aparato comunicativo que se tornou um ícone da cidade desde a década de 1940. Hoje de pouco impacto na dinâmica teresinense, com dezenas de concorrentes e linguagens tecnológicas muito diversas em se tratando de comunicação social.

A primeira Rádio teresinense: Nilsângela dá conta de tudo a respeito da Difusora, no que todos dizem ser o período “de ouro” da emissora, por volta de 1948 a 1962. Como se ergueu, como e para que a Rádio. Os impactos no coletivo citadino – e do próprio Piauí – e também na vida doméstica e noutros domínios da esfera privada. A cidade ouvindo suas próprias pulsações por vibrações elétricas, timbres, tons e textos. Sim, a cidade já sabia de conversas andando por fios e o código Morse desde o fim do outro século, mas no feitio “rádio”, ainda não.

Teresina de 1948 tem a sua, chegara ao nível da interiorana Parnaíba, lugar da primeira Rádio do Piauí.

Antecedida por uma emissora implantada em Parnaíba, Teresina da metade do século XX, 1948) tem agora sua Rádio, a cidade podendo ser ler e ver pelas ondas do ar, além das folhas impressas e das teias de vizinhança“: estas depois sintomaticamente chamadas de “rádias calçadas”,

Sobretudo para a camada mais privilegiada materialmente, a famosa sinalização de progresso alcançara Teresina. A maioria das pessoas – a autora não trabalha essa falta – o benefício desse progresso literalmente “soava” distante. Para se ter uma ideia, nos primeiros anos da radiodifusão no Brasil e em Teresina, raras pessoas podiam comprar um aparelho receptor.

A leitura do livro nos leva ao contato com o mundo da comunicação radiofônica em Teresina, seus funcionários de locução e de outras operações, a formação de uma audiência receptora, uma espécie de consumo de jornalismo-reportagem, repertório musical, do debate de ideias, enfim, painéis com nova modalidade de manifestação do acontecer.

Quais fontes Nilsângela amealhou para fazer chão firme ao conteúdo do livro? Vários acervos de referenciamento: documentos, coleções de jornais do Arquivo Público do Piauí, estudos anteriores sobre o tema e correlatos, são todos chamados ao labor da professora. E já não escassas, diga-se, as elaborações qualificadas nessa vertente da vida piauiense, em particular de Teresina. Mas ela dialoga, à larga, com fontes orais constituídas por entrevistas/depoimentos de pessoas com algum grau de envolvimento na prática da radiofonia em Teresina. Fartas memórias. Imagine o leitor o quanto a dicção de José Lopes dos Santos, por exemplo, ressoa nesse livro. Santos, o homem do “Grande Jornal Q-3”, de 6 às 7 da noite, de muita audiência.

A orientar seu leitorado, ela chama a atenção para as três questões que toma para análise, com centralidade, na emergência e atuação da RDT nos seus 14 primeiros anos. Questões-capítulos: a) rádio e lazer/cultura, b) rádio e gênero, e c) rádio e política. 

Uma contribuição valorosa essa de Nilsângela para se entender Teresina. Associa-se a outros pesquisadores para cuidar dos pespontos do tecido historiográfico sobre a cidade em que vivemos.

Registre-se que, estudante de História com acendrado tino, e esforço louvável, Nilsângela não titubeou quando, em 2002, foi por nós chamada a participar da elaboração do “Teresina 150 Anos” e marcou presença. É assim.

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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