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Carnaúba

Carnaúba – uma riqueza do Piauí: este o título do livro do acadêmico Zózimo Tavares Mendes sobre o assunto

Fonseca Neto

Sábado - 03/07/2021 às 07:08



Foto: Paulo Pincel A Carnaúba é a árvore símbolo do Piauí
A Carnaúba é a árvore símbolo do Piauí

Aqui no Piauí se tem a carnaúba em grande conta: é uma palmeira mais que simbólica, de fato e por lei. 

Tanta importância, eis um bom livro contando a história dela, suas glórias, e nem tanto. 

Carnaúba – uma riqueza do Piauí: este o título do livro do acadêmico Zózimo Tavares Mendes sobre o assunto, obra feita com o timbre da exaltação das boas qualidades que a planta oferta a nós, seus primos, viventes do reino animal. 

Um livro-álbum. Apresenta um repertorio fotográfico que revela a carnaubeira em toda sua pompa e circunstância. De encher olhos. Uma espécie de crônica da ocorrência dela no grande vale do rio Parnaíba chamado de Piauí e seu significado econômico. De como se faz marca na vida social piauiense. 

Na composição didática do volume, o autor secciona em capítulos a palma-tema, de modo a que seu leitor vai re/conhecendo as múltiplas – e até insuspeitas – usanças da carnaúba: “a carnaúba e a nossa identidade”; “árvore-símbolo do Piauí”; “cera, o produto mais nobre”; “os mil e um usos da...”; “da maçã ao código de barras a carnaúba está ao seu redor o tempo todo”; “a carnaúba na literatura”; “a carnaúba na economia”; “a preservação da espécie”; “o futuro da...”.

Quando se promoveu a criação artística de um brasão para assinalar simbolicamente a unidade historicamente conhecida como Piauí, há cem anos, agregou-se um desenho da carnaubeira, de par com a palma do babaçu e o buritizeiro. Já no governo atual, do índio Wellington Dias, reitera-se a grandeza real e simbólica da palma, por força de decreto, em face de consulta mais ampla aos piauienses, em cuja percepção ela sobressaiu entre outras árvores muito comuns nesta “nesga de sertão” que encanta a muitos. Ganhou com 49,1%, entre os mais votados aparecendo o Ipê Amarelo, com 37,4, o Bacuri, 10,4, e o Jatobá, 3,1.

Escolha popular ajustada à realidade do Piauí: antes das primeiras tranqueiras ou currais da gadaria serem levantados com seus troncos é possível que a população original do vale a utilizasse, talvez seus minúsculos coquilhos aparentemente pretos, como alimento. As primeiras moradias do colonizador nestas terras, é certo utilizaram seus troncos e palmas como materiais construtivos.

A propósito, Tavares Mendes, com muito tino, e acerto, vale-se no seu trabalho do notável referente de estudos elaborado por Olavo Pereira da Silva Filho, publicado com o título Carnaúba, pedra e barro na capitania de São José do Piauí. Notável coleção de livros, repita-se, por constituir uma monumentalidade editorial que mostra o processo formador do Piauí do ponto de vista de suas expressões culturais-construtivas: o Piauí obra de arte; o Piauí artefato; o já referido curral, a moradia, a capela... As vilas e cidades piauienses nascendo nos fluxos da história material-cultural.  

O Carnaúba, de Zózimo, além de leitor, convoca a quem o folheia, extasiar-se na abundância fotográfica que apresenta. A carnaubeira é fotogênica, que o diga Campo Maior; os derivados dela, pelas mãos dos artistas, por exemplo, são peças utilitárias, quanto ornamentais, de encher olhos... Os trançados, quibanos, arupembas...

Mas de tudo da carnaúba a cera é o quindim. Por quê? O chamado “mercado internacional”, a exportação. Aquela coisa da inveterância colonizada: só presta o que os de longe acham que presta... A cera fez “ciclo” de riqueza no Piauí, afirmam os estudos. Em suas aplicações industriais, os sintéticos aplasticados fizeram-lhe concorrência e o Piauí dependente de seus ganhos, declinou. 

Disse-nos um dos irmãos Félix, do ramo, em Campo Maior, em presença do querido professor doutor Monteiro de Santana, e diante de um monte de pó de palha tenra, especial, em seu armazém...: “Agora o uso até em componente de computador...!” E laboratórios e pesquisas do mundo chegaram à conclusão que não há na natureza melhor essência para lubrificar as camisinhas, sem a menor rejeição de cheiro...”. Rsrsrs: Vênus satisfeita, há que se dizer que nunca mais a economia cerífera entrará em crise. 

O primeiro cientista piauiense, também escreveu o primeiro tratado sobre a Carnaúba: Notice sur la palmier carnaúba, obra publicada em Paris, no ano de 1867. Estudou química industrial na França. Era de Jaicós, nascido em 1808. 

Carnaúba é passado e futuro

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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