Olhe Direito!

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Três festas e um ponto em comum

Já se vai longe, porém, o tempo em que as pessoas usavam o jejum como meio para purgar

Por Álvaro Mota

Quinta - 06/04/2023 às 15:24



Foto: https://pixabay.com/pt/illustrations/liberdade-para-viajar-liberdade-596512/ Páscoa
Páscoa

Este ano é 2023 para os cristãos; 5.783 para os judeus (até 15 de setembro) e 1.442 para os islâmicos (até 19 de julho) marca também a incomum coincidência de três grandes festas das três religiões monoteístas, a Páscoa Cristã (ressurreição de Jesus), a Pesah (libertação e saída do povo hebreu da escravidão no Egito) e o Ramadã, o mês sagrado do Islã.

Além do fato de uma raiz comum à fé (o Deus único) e de similaridades facilmente perceptíveis em seus respectivos escritos sagrados, as três grandes religiões monoteÍtas têm umas suas festas celebradas em geral em datas móveis de seus calendários, mas no caso da coincidente celebração das Páscoas Cristã e Judaica com o Ramadã, em abril (na marcação que fazemos em nosso calendário gregoriano) nos faz considerar outra similitude: o jejum que é uma ação depuradora nas três festas.

Já se vai longe, porém, o tempo em que as pessoas usavam o jejum como meio para purgar ou expiar suas culpas e pecados – ao menos até onde se pode perceber em nossa prática católica. E não se trata evidentemente apenas da privação do alimento, mas da contrição e parcimônia em tudo o quanto se faça ou se possa fazer, sobretudo considerando um aspecto de prazer pessoal e físico que se tenha.

O jejum, para além do alimento, é renúncia consciente àquilo que nos torna mais humanos e mais distanciados no divino. O apego material pode certamente nos desligar de Deus ou nos tirar a sensibilidade para com a dor do outro. Daí, o jejum na Páscoa, na Pesah ou no Ramadã convergirem para o sentido de nos fazer mais próximos de Deus e, nesta condição, mais capazes de compreender a dor alheia e de exercer a empatia – que pode, por exemplo, ser entendido como amar ao próximo como a si mesmo, conforme o ensinamento cristão.

O jejum de alimentos ou de prazeres nessas festas parece o sentido contrário do que provoca a fome, que resulta não do nosso querer; em vez de enfraquecer como a fome, o jejum se movido pela força da fé, é capaz de fazer de nós portadores de uma boa palavra, que, como uma árvore nobre, tem raiz profunda que seguram uma copa que se eleva ao céu, conforme está no Al Corão, o livro sagrado do Islã.

Fazer-se essa árvore com raízes fortemente fincadas no chão para fazer a copa atingir o céu exige de nós a lembrança permanente de que temos que pensar nos nossos semelhantes – não somente no jejum religioso, mas todo o tempo, seguindo os passos dos que sabiamente nos ensinaram, desde sempre, que ajudar agora é ser ajudado no futuro; amar agora é espalhar as sementes da paz no amanhã de nossos filhos; ser grato agora é eliminar uma injustiça futura.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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