Quando em 16 de dezembro de 1930 nascia em Parnaíba o futuro advogado Reginaldo Santos Furtado, a Ordem dos Advogados do Brasil ainda não existia. A seccional piauiense da entidade viria à luz em 25 de abril de 1932, tendo como um dos seus fundadores e primeiro presidente um conterrâneo de Reginaldo, João Osório Porfírio da Mota, meu avô.
Em março de 1979, quando o Brasil iniciava uma transição para a democracia, com a anistia aos que o regime autoritário pôs no exílio ou em proscrição, esse valoroso advogado parnaibano se tornava o presidente da OAB-PI, cargo que exerceu até 31 de janeiro de 1985 – quando o Brasil entrava na Nova República sob a liderança de Tancredo Neves.
Podemos depreender a partir desses marcos históricos – o nascimento de Reginaldo, o início e fim de seu mandato como presidente da OAB-PI – que sua vida esteve marcada por acontecimentos históricos fundamentais na vida brasileira e na formação do país que temos hoje.
Sob sua liderança, a Advocacia do Piauí assistiu à transição do regime autoritário para uma democracia que se não é a melhor, enquadra-se na ideia de Churchill, para quem é o pior dos sistemas políticos, excluídos os demais. E podemos dizer que Reginaldo tem muito a ver com isso.
Em 1983, a OAB-PI sob sua liderança, esteve à frente do Comitê Estadual pelas Diretas Já, em apoio à emenda Dante de Oliveira, que propunha alterar a Constituição Federal para eliminar a escolha indireta do presidente da República por um colégio eleitoral com 684 integrantes. A emenda não se fez vitoriosa, mas a pressão das ruas levou o regime autoritário a um revés em seu próprio campo, o Colégio Eleitoral que em 1984 votaria pela eleição de Tancredo Neves, pondo fim a 21 anos de ditadura.
Pode-se dizer que a História registra este como um ponto fundamental em uma biografia carregada de realizações pessoais, corporativas e públicas. Reginaldo Furtado caminha para um século de vida. Faz agora 94 anos, com uma carreira longa, que inclui passagens pelo governo de seu conterrâneo Chagas Rodrigues (1959-1963), a quem serviu como secretário particular e integrante da Advocacia Pública no Piauí na condição de Procurador e chefe da Defensoria Pública.
Na OAB teve a preocupação de planejar melhorias físicas, sem descuidar da formação dos advogados, o que levou a seccional sob sua liderança a realizar eventos jurídicos – uma preocupação que pode ser considerada a gênese de avanços na construção de uma cultura de estudos jurídicos sempre presentes na OAB-PI.
Homem de hábitos simples, lançou dois anos atrás o livro “Chagas Rodrigues e a hidrelétrica da Boa Esperança”, que narra a ação do ex-governador com o objetivo de que se construísse a hidrelétrica, afinal erguida sob o regime militar que cassou o mandato dele na Câmara dos Deputados. O trabalho de Reginaldo Furtado, neste sentido, faz justiça a um governante que iniciou no Piauí um processo de planejamento, essencial para o desenvolvimento do Estado.
Por tudo isso, nos 94 anos de nascimento de Reginaldo Furtado, além de expressar votos de parabéns, devemos dizer a ele do preito de gratidão de advogados piauienses de todas as gerações.