Olhe Direito!

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Quanto vale o que não se pode medir?

E que riquezas são essas?

Alvaro Mota

Quinta - 25/05/2023 às 09:50



Foto: Brazilian Voice Riqueza
Riqueza

A riqueza é tem uma medida física, que desde que o homem se reuniu em sociedade se estabelece por variados parâmetros. Já se mediu a riqueza pelo valor do sal, daí existir a palavra salário; pelo gado, que no Latim se dizia pecus, daí pecúnia ter o sentido de monetização; pelos metais preciosos; pelas gemas como o diamante e o rubi e por um padrão monetário mais aceito em razão do tamanho da economia do país emissor da moeda, como o dólar.

Temos, assim, as mais variadas maneiras de medir fisicamente a riqueza – sendo a mais recorrente delas pela acumulação de ativos, que vai de dinheiro a metais preciosos, passando pelas moedas digitais e investimentos nos mercados de ações ou em fundos que propõem tornar maior uma determinada riqueza.

Há que se imaginar, então, que riqueza é tão-somente aquilo que pode ser medido e pesado e que, num ambiente de negócios, possa ser liquidado para virar um ativo imediatamente disponível, dinheiro mesmo, com o qual se poderá comprar o que se quiser de modo muito prático e rápido, talvez até mesmo o amor verdadeiro, como sugeriu o dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues.

Porém, como dizia um comercial de uma bandeira de cartão de crédito, existem coisas que o dinheiro não compra. E se não compra, essa é uma riqueza não mensurável, pelo menos se recorremos aos parâmetros já citados no primeiro parágrafo. O que não se pode medir, assim, é difícil que possa ser colocado como existente ou que possa ter valor. Errado. Há que se considerar a possibilidade de medição das riquezas não mensuráveis.

E que riquezas são essas? Vamos imaginar a qualidade do ar de nossa cidade, que poderá ser melhorada pelo plantio de árvores pelos setores público e privado. Em geral, não conseguimos monetizar o valor do ar puro, mas é razoável que imaginemos que as árvores e outras medidas para esse fim tenham um custo e, assim, um valor monetariamente medível.

Vale para as árvores de uma cidade, vale para a conservação (ou restauração) de nascentes e mananciais; para a evapotranspiração das florestas com a Amazônia, que produzem “rios voadores”, que produzem chuvas que alimentam colheitas e criações que produzem bilhões de dólares. Vale essa medição para agricultura de baixo carbono ou agroecológica, cultivo e manejo de florestas naturais que sequestram carbono, com ganhos de bilhões de dólares.

Temos que pensar sobre isso em lugares como o nosso Estado: na medida em que se promove a conservação de recursos naturais, que e pode pesar e medir como uma riqueza, é essencial que a gente pense em quão será importante que as pessoas – que são parte do processo dessa conservação – sejam favorecidas por essa riqueza que hoje não se pode medir ou pesar, mas que existe. Nosso desafio é fazer essa riqueza girar em favor de todos.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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