Olhe Direito!

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Países e seus interesses

Faz muito sentido que, sim, haja relações comerciais e econômicas mesmo com países com diferenças

Alvaro Mota

Sexta - 02/06/2023 às 07:44



Foto: Ricardo Stuckert Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Um dos mais notáveis diplomatas norte-americanos, advogado por formação, John Foster Dulles, dizia não haver amizades entre países, mas interesses comuns. A afirmação evidencia o fato que o distanciamento ou aproximação entre estados não se pode nem se deve guiar por critérios amigáveis, mas pelo pragmatismo do custo-benefício dessa relação.

No Brasil tensionado por uma polarização política, muitas vezes a máxima, que certamente guia a diplomacia dos EUA faz bastante tempo, não é percebida na ação do presidente em curso de mandato. O debate se contamina por menor ou maior percepção dos interesses nacionais e por um realçamento maior que o necessário das orientações ideológicas.

Se olharmos antes ainda da fala de John Foster Dulles para dois estadistas, um francês, outro português, talvez possamos valorizar mais os interesses do país e deixar de lado questões comezinhas.

Durante a chamada Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), sendo o mais importante ministro do rei da França, Luís XIII, o cardeal de Richelieu, fez um acordo com os holandeses – um reino protestante. Sendo ele um dirigente secular e clerical em um país católico, seria de se esperar que não seguisse esse caminho, mas o fez pelo que se ficou conhecido daí em diante como “razões de Estado”, que superaram, então, questões religiosas tão fortes nas relações inter estados.

Outro que colocou os interesses do seu país acima de eventuais amizades foi o Marquês de Pombal, que governou Portugal como principal ministro de Dom José I, entre 1750 e 1777). Portugal sempre se guiou mais por seus interesses que por amizades e isso fez de sua diplomacia um mecanismo poderoso de sua própria sobrevivência enquanto um estado autônomo. No caso de Pombal, ao assinar os tratados de Madri, El Pardo, Paris e Santo Ildefonso, manteve a salvo interesses lusitanos e ainda concorreu para a formação territorial do Brasil quase que na totalidade de sua atual conformação.

Os três exemplos do pragmatismo diplomático – de Foster Dulles, do Cardeal de Richelieu e do Marquês de Pombal – evidenciam a necessidade de o Brasil seguir a trilha em que esse serviço de Estado prevalece sobre as visões imediatas do governo em curso. Faz muito sentido que, sim, haja relações comerciais e econômicas mesmo com países com diferenças políticas, culturais e sociais, sem que se perca de vista que quando os choques quanto a isso forem grandes demais, tal condição pode ser desinteressante e, assim, eventual amizade não pode estar acima do interesse nacional.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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