Olhe Direito!

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Os 100 anos de Castellinho

Sua trajetória no jornalismo segue o roteiro clássico de outros tantos colegas

Alvaro Mota

Quinta - 02/07/2020 às 19:09



Foto: Divulgação Carlos Castello Branco
Carlos Castello Branco

Passou sem muito alarde o centenário de Carlos Castello Branco, o piauiense que podemos defini como um dos criadores do moderno jornalismo político brasileiro, com muitas fontes, a proximidade com o poder, mas nenhum encanto por esse, a não ser pela necessidade de obter as informações para levar ao público com fidedignidade.

Esse piauiense nascido em Teresina no dia 25 de junho de 1920 ganhou uma boa biografia escrita pela professora Diane Rufino, da Universidade Estadual do Piauí, que pesquisou o trabalho de Castellinho para uma dissertação de mestrado tratando de jornalismo opinativo. “Carlos Castello Branco, o comentarista paradigmático da imprensa brasileira”, terminou sendo publicada como livro, o que permite a muitas pessoas referenciar e reverenciar esse grande nome da imprensa brasileira.

Sua trajetória no jornalismo segue o roteiro clássico de outros tantos colegas: a faculdade de Direito, primeiro, o jornalismo como praticamente uma consequência natural. Em 1939, Castellinho já estava trabalhando em jornais, mais de três anos antes de se graduar em Direito na capital mineira, em 1943.

Em 1949, estava em O Jornal, no Rio de Janeiro. Trabalhou ainda no Diário Carioca e na revista O Cruzeiro. Mas todos sabem que foi no Jornal do Brasil que ele se consolidou como o jornalista que assinava a mais importante coluna política do país, a Coluna do Castello.

O prestígio do jornalista junto às fontes durante um governo autoritário (1964-1985) não impediu Castellinho que experimentar as agruras que uma ditadura impõe à imprensa. Em 1969, quando da decretação do AI-5, que endureceu o regime autoritário, teve ele a experiência da prisão injusta e injustificada. O que fez? Manteve a dignidade para seguir escrevendo, noticiando e buscando as garantias constitucionais como regra de ouro para nossa existência.

Esse grande jornalista trilhou um caminho bem-sucedido, é verdade, mas nada é muito fácil para um homem que deixa uma cidade pequena no interior do Nordeste (Teresina) para se aventurar e tornar-se um dos maiores jornalistas brasileiros. Talvez isso explique sua coragem e desprendimento, demonstrados em sua candidatura vitoriosa à presidência do Sindicato dos Jornalistas de Brasília, em 1977. Sua decisão ajudou certamente a garantir que se protegessem os jornalistas e o jornalismo.

A memória desse brasileiro que se fez jornalista e escritor, integrante das Academias Brasileira de Letras, segue sendo preservada, felizmente. Há um excepcional site sobre ele (carloscatellobranco.com) no qual estão disponíveis depoimentos de brasileiros notáveis que tiveram a honra e o privilégio de conhecê-lo. Como Hélio Doyle, jornalista em Brasília, que lembra sua candidatura à presidência do sindicato: “A credibilidade foram fundamentais para retomarmos o sindicato subserviente à ditadura e o engajarmos nas lutas pela democracia e pelas liberdades políticas.”

Há ainda depoimentos de Cristiana Lobo, Zuenir Ventura, Gilberto Gil, Leilane Neubarth, Roberto D’Ávila e de Elio Gaspari, jornalista e escritor, que muito apropriadamente diz que “a melhor maneira de lembrar os cem anos do Castelinho é fazer uma visita ao site organizado por sua filha Luciana” E segue: “Lá estão mais de oito mil colunas publicadas na página 3 do Jornal do Brasil em 1963 e 1993. Mostram um mestre do estilo, elegante e atento, Castelinho atravessou uma ditadura mostrando que a política é a arte de buscar o entendimento.”.

Que assim seja!

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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