Olhe Direito!

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Ensinar a pescar. Mas onde?

O Parnaíba, que tantos vapores viu subir e descer suas águas, também não atrai mais banhistas para as coroas

Álvaro Mota

Quinta - 14/07/2022 às 22:26



Foto: Autoria desconhecida Rio Parnaíba
Rio Parnaíba

Faço parte possivelmente da última geração de teresinenses que usavam os rios Parnaíba e Poti como espaços comuns de lazer – para todas as classes sociais da cidade. Tomávamos banho, às vezes sem a aquiescência de nossas mães, que para nos advertir dos riscos repetiam a frase lugar-comum: água não tem cabelo. Pescávamos também, às vezes sós, mas quase sempre na companhia de adultos. Pescar e banhar de rio era lazer de todo mundo e pegar os peixes em muitas casas garantia uma refeição.

Com o tempo, crescimento urbano de Teresina, maior concentração de efluentes contaminantes nos rios e novas opções de lazer fizeram com que a cidade e seus moradores pouco a pouco fossem deixando de ter nos rios um local de lazer para banhos e pesca. A cidade que surgiu muito em função do Parnaíba e do Poti como que se virou de costas para eles.

O rio Poti, com parques lineares, teve suas margens valorizadas, mas suas águas cada vez menos balneáveis, só trazem polêmicas todo ano por causa da infestação de aguapés.  Tomar banho não é mais uma opção de lazer e pescar, menos ainda.

O Parnaíba, que tantos vapores viu subir e descer suas águas, também não atrai mais banhistas para as coroas ou pescadores para suas margens – tomadas em boa parte da área urbana da cidade por serviço de lavagem de carro, uma atividade que emprega pessoas – ainda que precariamente – mas concorre para despejo de poluentes nas águas do Velho Monge.

Pode até ser malhar em ferro frio propor ou sugerir que se adotem ações administrativas ou políticas públicas para os dois rios, mas é forçoso que façam essas tentativas o tempo inteiro. E não somente em Teresina, mas em toda e qualquer cidade que tenha o curso de águas em seus territórios.

É um dever para com as atuais e futuras gerações que sociedade e governo cuidem para dar aos rios medidas saneadoras, mantenedoras e conservacionistas que assegurem a balneabilidade de suas águas e, portanto, a possibilidade de se ter peixes nelas. Afinal, sem rios, como algum dia poderemos nós sugerir que mais importante que dar o peixe é ensinar a pescar? Onde, sem rios vivos e cheios de peixe, poderemos dar esse tipo de lição?

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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