Toda cidade pode ser vista pelos mais diversos ângulos. Pode ser cantada ou descrita em verso e prosa. Pode ser apresentada em música, imagens, sons e fotografia. Pode ser memória e passado. Podem ser sonhos e futuro.
Hoje, quando Teresina completa 172 anos de fundação, há muito o que se falar dela pela poesia de seus filhos ou mesmo daqueles que de longe vieram para construir seus versos.
A Coelho Neto, o poeta e advogado nascido em Caxias, atribui-se o cognome de Cidade Verde, que se transformou em símbolo pela quantidade de espaços verdes da cidade – boa parte perdida e que precisa ser recuperado, pelo bem-estar e também pela poesia, que se impulsiona pelas palavras, mas que pode ser incentivada pela beleza de árvores e plantas.
Plantas, como a rosa pequenina citada por Caetano Veloso em “Cajuína”, canção que confirma uma ligação com o poeta Torquato Neto, universal o bastante para cantar nossa aldeia nos versos de “A rua”, firmando em nossas memórias que “toda rua tem seu curso, por onde passa a memória”.
Esse verso tem muito a ver com a minha geração, porque vivi na Teresina dessa canção, onde “meninos correndo atrás de bandas que passavam, como o rio Parnaíba que passava manso no fim da rua”. Era a rua de lajedos, que ainda hoje estão próximos da margem do rio, a rua São João, antes chamada Pacatuba, perto do Barrocão, separadas pelo Parnaíba, das ruas do Maranhão.
A poesia de Torquato Neto é uma entre tantas a revelar uma Teresina recôndita nas memórias, como se pode avistar na obra de outro poeta, H. Dobal, que 72 anos atrás produziu seu “Roteiro sentimental e pitoresco de Teresina”, fixando de modo indelével um momento histórico sobre uma Teresina com 100 anos de existência: “Há praças para os namorados a quem a polícia não permite muitas expansões, cinemas, a missa dos domingos, os bailes, a cerveja e em qualquer lugar há sempre a música de um alto falante. A cidade é aberta, sem segredos, acolhedora. Tem um ar de família que vem do fato de que quase toda gente tem relações ou se conhece. O que dá uma intimidade deliciosa.”
A intimidade deliciosa que H. Dobal vê na cidade possivelmente envolveu a alma dos poetas e dos compositores que usaram seus versos para falar sobre ela ou declarar seu amor, como fez Lázaro do Piauí, que sobre a cidade afirma ter sido deixado “louco de encantamento” pela cidade que “com olhar de querubina” faz o sol esquentá-lo, a ponto de fazê-lo delirar na beira do cais.
Paulo Mendes, que fazia jingles – músicas comerciais – é outro que se referiu a Teresina com essa intimidade. Em 1985, sob encomenda da Prefeitura, trouxe falas sobre uma cidade em que se abre a janela e vê-se que de “longe o Parnaíba vai passando como anunciando que o dia raiou” e que “no mercado o menino grita, Troca-Troca agita, o dia começou”.
A cidade avistada com intimidade e afeto pelos poetas segue seu curso, como os rios que a banham. Vê surgirem, ficarem e irem pessoas, “risonha entre dois rios” que a abraçam, no verde exuberante que a veste, sendo fruto do trabalho de sua gente, como propõe outro poeta, Cineas Santos, que à cidade deu sua cultura e uma letra de hino.
De verso e de prosa a cidade tem uma imensidão de boas palavras e de definições precisas e preciosas sobre si mesma – as quais precisam ser conhecidas e apreciadas, o que nos coloca na condição de que resgatar e manter vivas textos para o bem de nossa memória, que garantem às gerações futuras saberes sobre afetos e amores das gerações passadas à cidade com nome de princesa.