É o que eu acho

APESAR DE VOCÊ!

Quarta - 11/10/2017 às 16:10



Foto: Arquivo pessoal Imagem ilustrativa
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“[…] A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu [...]”

            A letra de Apesar de Você, de Chico Buarque durante os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil foi um hino da resistência e tinha todo o sentido.

            Ela é representativa de um período de 21 anos em que pessoas foram presas, torturadas, assassinadas e enterradas em valas comuns clandestinas somente porque queriam ter a liberdade para se expressar e lutavam contra um regime que impôs a censura, fechou o Congresso, desvalorizou a arte e impôs um tempo de intolerância e perseguição.

            Passamos por décadas praticamente esquecendo esses versos pois passamos a viver a Democracia com suas liberdades e um período de progresso com redução de desigualdades sociais sem precedentes.

            Hoje, essa letra volta a adquirir sentido.

            O que aconteceu recentemente nas exposições do Queermuseu Santander no Rio Grande do sul e no MAM em São Paulo são indicativos de que a intolerãncia está subindo a níveis extremamente perigosos.

            Não acreditemos que os incidentes foram causados por pessoas que realmente estão preocupadas com os costumes e a família brasileira. Não.

            É muito fácil desmascarar isso.

            Só pelo perfil dos protagonistas às reações já podemos ter uma boa ideia.

            Gente como Alexandre Frota, ex-ator pornô, que protagonizou vários filmes de sexo explícito, e o pessoal do MBL que nunca havia se manifestado sobre a arte  não podem ser levadas a sério como protetores da família.

            Estão somente fazendo política da pior espécie. Querem um país fascista. Só isso.

            Vemos pastores que, ao invés de serem os mediadores a conduzir seu rebanho para a paz, invadem templos, destroem ídolos, ateiam fogo e espancam seus adversários na fé.

            A nova onda agora é criar as condições necessárias para que o General Mourão e sua trupe iniciem o golpe militar.

            Tudo faz parte dos planos montados para isso.

            Aproveita-se da insatisfação popular quanto ao desmantelamento dos programas sociais como o bolsa-família, Minha Casa Minha Vida, congelamento do salário mínimo, investimentos em saúde  e educação por um ano, reforma trabalhista e previdenciária e aumento de preços de luz, gás, água e gasolina.

            Em outra frente o juiz Moro trabalha freneticamente para prender Lula sem provas, perpetuamente para afastá-lo das eleições presidenciais de 2018. Assim, elimina-se uma possível esperança do povo para reverter esse quadro e procura-se criar um salvador da Pátria no lugar para preencher o espaço vago por Lula: Bolsonaro ou intervenção militar, já que o PSDB, histórico concorrente do PT, não demonstra ter condições para vencer as eleições.

            Essas ações violentas por parte da direita não vão cessar mas continuarão num crescendo, trabalhando corações e mentes para que o povo aos poucos deseje e peça a intervenção.

            Foi assim na Alemanha nazista quando gente comum, donas de casa e velhinhos bondosos foram aderindo aos poucos ao regime de Hitler, denunciaram judeus e comunistas à Gestapo e se calaram durante o holocausto.

            Não tardará para que escolas sejam invadidas, livros e quadros sejam queimados e mortes comecem a aparecer.

            Aliás, uma morte já aconteceu: a do reitor da UFSC, Luis Carlos Cancellier de Olivo que, investigado pela PF e preso antes de ser investigado, julgado e condenado, suicidou-se motivado pela vergonha diante de colegas acadêmicos, amigos e familiares.

            O tempo encurta e não vemos reação a esses atos.

            A verdadeira gente de bem do Brasil, que é seu povo simples que não tolera a violência, precisa começar a reagir contra isso expulsar esses falsos e oportunistas guardiões da moral e dos bons costumes.

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Fernando Castilho

Fernando Castilho

Arquiteto, Professor e Escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, A Sangria Estancada

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