Algumas considerações sobre o relatório da CIA


Ernesto Geisel passa a faixa presidencial a Figueredo em 1979

Ernesto Geisel passa a faixa presidencial a Figueredo em 1979 Foto: Arquivo/Agência Estado

A Folha publicou aquele relatório da CIA sobre a autorização de Geisel para que a “política” de execuções (assassinatos) durante a ditadura continuasse.

Algumas considerações.

1 – O jornalista Elio Gaspari, italiano de nascimento, escreveu cinco volumes sobre a ditadura que se tornaram referência para quem quisesse conhecer o que aconteceu naquele período sombrio da História do Brasil.

Sustentou que o ditador Ernesto Geisel que conduziu o país a uma abertura lenta e gradual, fazia parte da ala linha moderada das Forças Armadas. Costa e Silva foi um dos representantes da linha dura.

Ao serem liberados os relatórios da CIA, ficou claríssimo que se Geisel era linha soft, imaginem o pessoal da linha dura. Geisel autorizou a continuidade da matança de gente, desde que fosse gente perigosa. Foram então assassinadas 104 pessoas. Como saber se eram ou não perigosas? Qual o critério? Subjetivo? Que tipo de periculosidade? Periculosidade para quem? Para o Estado ou para o regime que prendia, torturava e matava quem se colocasse em seu caminho? Ou até mesmo não se colocava?
A pergunta que se faz é se Gaspari foi bem informado para escrever seus livros ou usou de opinião pessoal porque seria simpatizante de Geisel e, por consequência, do regime.

2 – A Folha de São Paulo e a Rede Globo se referiram nos noticiários a Geisel como ex-presidente. Ora, ora, ora, ex-presidente? Por acaso, foi eleito pelo povo? Geisel foi ditador.

Na outra ponta, os dois órgãos de imprensa sempre se referiram a Fidel Castro, e agora a Kim Jong-Um, como ditadores. Qual a diferença?

3 – Os comentários na Folha foram “primorosos”. A grande maioria deles defendeu as execuções, talvez porque foram selecionados pelo jornal para tentar demonstrar que a maioria do povo brasileiro apoia o regime militar. Falso.

Um dos comentários dizia mais ou menos assim: “Foi uma época em que havia segurança e bem-estar. A mais feliz da minha vida”. Ora, ora, ora. Fui conferir a idade do gajo. 45 anos! Ou seja, nasceu em 1973, o mesmo ano em que Geisel autorizou a continuidade das execuções.

4 – Embora tenha existido a Comissão da Verdade no Brasil, ninguém foi punido pelas torturas e matanças e até hoje pouca coisa se sabe sobre o período.

Salta aos olhos a quantidade de informações que a CIA tem sobre o regime militar no Brasil. Todo mundo (todo mundo não) sabe que foram os americanos que comandaram o golpe militar no Brasil, da mesma forma como estão comandando o golpe que se iniciou com a derrubada da presidenta eleita e honesta, Dilma Rousseff.

5 – Por fim, encerro convidando quem quiser debater, discordar ou contra argumentar sobre esse período sombrio da História. E desafio a quem quiser fazer apologia das prisões, torturas e execuções.

Vivi o período, sofri com ele, paguei um preço (muito menor do que muita gente) e não admito que defendam os assassinos que mandaram no país por 21 anos.

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Fernando Castilho

Fernando Castilho

Arquiteto, Professor e Escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, A Sangria Estancada
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