Lendo, pela manhã, ensaio do filósofo Renato Nunes Bittencourt, doutor em filosofia e professor-coordenador da UFRJ, sobre Religião, com o título “Doutrina Social da Igreja: uma guinada progressista” na revista Filosofia (Ciência&Vida), ele faz recorte das Encíclicas dos Papas Leão XIII, João XXIII e Paulo VI. E nestes tempos obscuros da vida política nacional, em que a classe trabalhadora passa por terrível revertério nos seus direitos inalienáveis e impostergáveis para a subsistência, gostaria de transcrever um trecho da sua abordagem sobre a Encíclica Mater e Magistra de João XXIII, em que diz: “Quando desponta um político demagogo defendendo um moralismo hipócrita cristão atrelado a um modus operandi agressivo, truculento e autoritário e flexibilização do sistema econômico encontramos a expressão mais nítida da corrupção moral do poder governamental, pois essa figura se aproveita da demanda humana da pureza e honestidade para impor sua pauta reacionária contrária aos objetivos sociais autênticos, a promoção da justiça econômica, em favor de um empresariado soberbo e egotista.
Podemos afirmar que toda crise econômica é de base moral, pois se houvesse maior desprendimento dos detentores do meio de produção em relação ao seu ímpeto de gozo, maior capacidade de frugalidade, maior senso de distribuição e mesmo de doação, mais boa vontade em suas disposições pessoais, a sociedade encontraria uma capacidade maior de reorganização da sua base produtiva, vencendo assim recessões e problemas estruturais de maneira muito mais eficiente e harmoniosa. Contudo, a cantilena ultraliberal apenas exige perda de direitos e corte na própria carne do lado mais fraco do sistema capitalista, os pobres, os trabalhadores, pois a proeminência do processo é outorgada aos detentores dos meios de produção. A ausência de um Estado intervencionista e de governantes capacitados a exercer esse dever público é a causa da degradação da sociedade, subjugada aos interesses dos detentores dos meios de produção, que não hesitam em estabelecer relações promíscuas com os poderes estabelecidos para que possam perpetuar legalmente os seus privilégios”.
Eis, pois, a realidade governamental brasileira desde a aplicação do golpe parlamentar-constitucional-judicial em 31 de agosto de 2016 e, agora, na sua face mais angustiante com a abolição dos cursos de Filosofia e Sociologia para dificultar ainda mais o entendimento da sociedade das razões por trás do golpismo na terra da Santa Cruz.