Na última quarta-feira (06/11), durante uma entrevista ao lado do vice-presidente estadual do PT no Piauí, Maurício Solano, o professor e jornalista Roberto John Gonçalves da Silva quebrou o silêncio sobre uma decisão histórica que ajudou a definir os rumos da política piauiense nas duas últimas décadas.
Em 2002, Roberto John desistiu da candidatura ao governo do estado em favor de Wellington Dias, então deputado federal, o que permitiu ao petista se tornar governador do Piauí. Naquele ano Dias seria candidato a senador. Como a mudança, disputou o governo e John foi disputar uma vaga no Senado.
O petista disputou o governo com o grupo liderado pelo então governador Hugo Napoleão, que havia assumido o governo com a cassação do governador Mão Santa. Hugo iria para reeleição e liderava um grupo de politicos vindos da Arena, PDS e na época filiados ao Partido da Frente Liberal - PFL, que posteriormente foi batizado como "Partido Formador de Ladrões" pelo então senador Mão Santa.
O petista venceu o "velho esquema" batendo exatamente em pontos sensíveis para o elitorado, como o domínio político dos velhos coronéis e das oligarquias do Piauí, alvo das pesquisas que embasaram a aprovada tese de doutorado de Roberto John.
John, que é doutor em ciências políticas e um dos fundadores do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Piauí, comentou pela primeira vez o motivo por trás dessa renúncia. Ele havia vencido a disputa as prévias no PT. O concorrente foi o sindicalista Antônio Pereira. Estava tudo certo. Até a direção nacional do PT já havia confirmado a candidatura de Roberto John a governador.
"Cheguei a gravar com o Lula, que me indicava como candidato a governador e o Wellington candidato ao Senado. O então presidente nacional do PT, João Paulo Cunha e o Lula, candidato a presidente, já havia fechado questão em torno do candidato no Piauí. Tudo isso ocorreu.", relembra o professor.
Apesar do apoio, pesou para Roberto a complexidade da disputa e a necessidade de uma estratégia nacional que envolvia alianças. “Quando chegou o final, veio a proposta do MDB que faria uma aliança e uma pesquisa mostrava que, comigo viriam 30% de apoio dos que pretendiam se aliar a nós e com o Wellington viriam 70%", explica o professor.
A decisão de abrir mão da candidatura envolveu muito mais que articulações políticas. Roberto John, que dedicou boa parte de seus estudos às oligarquias e suas influências no atraso do estado, refletiu profundamente sobre o impacto de sua candidatura. "Na véspera da convenção, abri minha tese de doutorado e, na dedicatória, li: ‘Ao povo do Piauí, para que perceba a causa do subdesenvolvimento: as oligarquias’. Isso pesou muito fundo", diz o professor.
Ele garante que foi a partir da reflexão que fez que percebeu que sua candidatura poderia ser vista como um obstáculo à mudança de poder, e que sua responsabilidade com o futuro do estado era maior que o desejo pessoal de governar. "Foi por isso que abri mão para Wellington assumir a disputa que acabou vencendo logo no primeiro turno da eleição", lembra o jornalista.
John deixa claro que a decisão foi uma escolha pessoal e refletida. "Nunca me arrependi desse gesto", afirmou. "O Piauí hoje é outro estado, com outra dinâmica, e isso se deve ao processo que começou com a eleição de Wellington." Para ele, o desenvolvimento do estado está vinculado à continuidade dos governos do PT no Piauí, que transformaram a realidade local ao longo de mais de duas décadas.
Wellington Dias, que atualmente é ministro, reconhece publicamente a importância do gesto de Roberto John. "Sempre repete: ‘Roberto, eu só tenho gratidão’", diz o professor, ressaltando a lealdade que sempre existiu entre os dois. Para John, o reconhecimento do ex-governador e atual ministro é uma prova do impacto positivo da escolha que fez.
A entrevista completa com Maurício Solano e Roberto John vai ao ar no próximo sábado no canal do Piauí Hoje.Com no YouTube.