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COTIDIANO

Cegueira da ignorância alimentada pelas fakes é uma arma contra a própria humanidade

A ignorância nega a ciência, despreza pesquisas, ridiculariza especialistas e trata o conhecimento acumulado com desdém

Por Luiz Brandão

Terça - 02/12/2025 às 15:53



Foto: Divulgação A cegueira da ignorância é uma arma contra a humanidade
A cegueira da ignorância é uma arma contra a humanidade

Estudar é um ato transformador. Mais do que acumular informações, é um exercício de humildade, que nos ensina a dimensão do que ainda não sabemos e nos abre para a complexidade do mundo. No entanto, vivemos uma era paradoxal: o acesso ao conhecimento nunca foi tão amplo, mas a valorização da ignorância, elevada à condição de opinião, parece ganhar força. A ignorância, longe de ser uma simples falta de saber, é um estado ativo de recusa. Ela cega, empobrece o debate público e, como bem alertam estudiosos, é um dos males mais perniciosos da sociedade.

A pessoa ignorante, no sentido que eu trato aqui, não é aquela que não teve oportunidades, mas aquela que, podendo buscar entender, prefere o conforto do julgamento rápido. Ela se fecha em seus preconceitos, mede os outros pela sua própria régua limitada e ataca o que não compreende. Essa postura, quando individual, é prejudicial; quando coletivizada, torna-se catastrófica. A ignorância nega a ciência, despreza pesquisas, ridiculariza especialistas e trata o conhecimento acumulado com desdém.

Os efeitos dessa cegueira voluntária são tangíveis e devastadores. Historicamente, a recusa ao conhecimento científico já custou milhões de vidas. Negar a ciência das vacinas, por exemplo, não é um ato de liberdade, mas um risco coletivo. Movimentos anti-vacina, alimentados por desinformação, levaram ao ressurgimento de doenças como o sarampo em regiões onde estavam erradicadas. Durante a pandemia de COVID-19, vimos de forma trágica como a desconfiança irracional em relação às vacinas e às medidas de saúde pública contribuiu para a sobrecarga dos sistemas de saúde e para um número de mortes que poderia ter sido significativamente menor.

Na esfera política, a ignorância elege e sustenta governantes incompetentes. Eleitores desinformados, que não buscam analisar propostas, históricos ou dados, tornam-se presas fáceis de discursos simplistas e demagógicos. O resultado são gestões desastrosas, que desmontam políticas públicas baseadas em evidências, não investem em educação e ciência, e aprofundam crises econômicas e sociais. Como bem observado por estuda o assunto, a ignorância é responsável pela "escolha de estúpidos para cargos de comando", um fenônio que põe em risco a democracia e o bem-estar coletivo.

No campo social, a ignorância é o combustível do preconceito. Ela impede a compreensão do "lado social, econômico, psicológico e sociológico" do outro. Quem não estuda, não se esforça para entender a história, as dinâmicas de poder e as desigualdades estruturais, tende a culpar o indivíduo por problemas complexos. O racismo, a homofobia, a xenofobia e a misoginia encontram terreno fértil em mentes que se recusam a questionar seus próprios vieses e a aprender com a experiência alheia.

Portanto, defender a educação e o estudo contínuo não é um mero clichê academicista. É uma questão de sobrevivência civilizatória. A ignorância nos torna mais pobres, mais doentes, mais violentos e mais manipuláveis. Enquanto valorizarmos mais a opinião infundada do que o argumento embasado, estaremos fadados a repetir os erros do passado e a agravar os problemas do presente.

Precisamos ter, sim, pena do ignorante, pois ele é prisioneiro de sua própria mente estreita. Mas, acima de tudo, precisamos ter ação e vigilância. Combater a ignorância exige promoção ativa da educação de qualidade, do pensamento crítico e do acesso à informação confiável. Só assim poderemos construir uma sociedade que enxergue além de suas próprias sombras, capaz de enfrentar seus desafios com lucidez e empatia. O antídoto para a cegueira da ignorância chama-se conhecimento, e é um remédio que deve ser tomado diariamente, por toda a vida.

Hospitais lotados na pandemia da Covid-19 foi resultado da negação da ciência, uma demonstração do efeito da ignorância

Luiz Brandão

Luiz Brandão

Luiz Brandão é jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí. Está na profissão há 40 anos. Já trabalhou em rádios, TVs e jornais. Foi repórter das rádios Difusora, Poty e das TVs Timon, Antares e Meio Norte. Também foi repórter dos jornais O Dia, Jornal da Manhã, O Estado, Diário do Povo e Correio do Piauí. Foi editor chefe dos jornais Correio do Piauí, O Estado e Diário do Povo. Também foi colunista do Jornal Meio Norte. Atualmente é diretor de jornalismo e colunista do portal www.piauihoje.com.
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