Em política externa, simbolismo é substância. E o primeiro encontro formal entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Kuala Lumpur, na Malásia, foi repleto de ambos. Mais do que uma foto ou um aperto de mãos, a reunião representa uma vitória diplomática significativa para o Brasil e sinaliza o início de uma nova e mais pragmática fase nas relações entre os dois maiores países das Américas.
A avaliação positiva não é apenas uma leitura de governo, mas ecoa entre diplomatas e analistas internacionais. Após meses de tensão alimentadas pelo "tarifaço" americano de 50% sobre produtos brasileiros e sanções a autoridades, a abertura de um canal direto e pessoal entre Lula e Trump é, por si só, um resultado concreto. O simples fato de o presidente brasileiro ter consegurado sentar-se com seu colega americano e estabelecer uma linha de comunicação exclusiva já é um feito notável em um contexto de relações até então distantes e contenciosas.
A descrição de Trump sobre Lula como "um cara bastante vigoroso" vai além de um mero elogio protocolar. Revela que o líder brasileiro conseguiu, em uma única reunião, impressionar um dos chefes de Estado mais imprevisíveis do cenário global. Essa impressão positiva é o capital político mais valioso para qualquer negociação futura. A fala de Trump de que "não sabe se algo vai acontecer" é a postura pública esperada de um negociador, mas a abertura do canal privado contradiz o ceticismo da declaração pública.
Resultados imediatos
O otimismo moderado de Lula é justificável. Ele reconhece que "não era possível que em uma única conversa a gente pudesse resolver os problemas", mas a reunião criou a estrutura para solucioná-los. A decisão de delegar as tratativas técnicas a uma equipe de alto nível – citando nominalmente o vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o chanceler Mauro Vieira – e o fato de Lula ter entregue a Trump um documento com as posições brasileiras demonstram profissionalismo e conferem solidez ao diálogo.
Este encontro não foi um evento isolado. É a culminação de uma aproximação estratégica que começou com um breve contato na Assembleia Geral da ONU em setembro e foi cultivada nos bastidores. O fato de ocorrer durante uma movimentada cúpula no Sudeste Asiático, com a presença de dezenas de líderes, atesta a prioridade que ambos os lados deram ao assunto.
Agora, o caminho está pavimentado para que as equipes técnicas avancem nas complexas negociações sobre as tarifas e sanções. O canal direto Lula-Trump funcionará como um "botão de emergência" para desbloquear impasses, garantindo que questões técnicas não se transformem em crises políticas.
Para o Brasil, os benefícios de uma relação estável e produtiva com os Estados Unidos são enormes, abrangendo comércio, investimentos, tecnologia e cooperação em desafios globais. A reunião em Kuala Lumpur demonstrou que Lula recuperou um assento à mesa de negociações com a maior potência mundial, uma posição que havia sido perdida nos anos anteriores. O Brasil está de volta ao jogo diplomático global, e esta reunião é a prova mais clara disso.
Luiz Brandão
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