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Fumar parece bom, mas deixar de fumar é certamente muito melhor


O hábito de fumar leva milhões de pessoas aos hospitais todos os dias

O hábito de fumar leva milhões de pessoas aos hospitais todos os dias Foto: Divulgação

Fumar é sensacional, uma delícia. Quando se fuma parece que o cérebro recebe ordens para conter, instantaneamente, sinais de ansiedade, irritabilidade, inquietação e outras tensões do dia a dia. E dá uma sensação de prazer.

Também há quem diga que o tabagismo "gera" inspiração, segurança para realizar atividades e tomar  decisões. Às vezes é relaxante e, em outras, excitante. Mas considero que tudo isso não passa de ilusão causada pelo vício de fumar. Deixar de fumar, garanto, é muito melhor e faz bem à saúde.

O viciado em tabaco, geralmente, vive um ciclo do tipo "fuma pra dormir e acorda pra fumar". Esse comportamento passa a fazer parte da rotina do tabagista para toda a vida. Muitos, até mesmo doentes, não mudam esse modo de viver.

Para muitas pessoas a dependência é tão forte que o cigarro vira uma espécie de bengala pra tudo que o fumante vai fazer. O "troço é tão doido" que tem gente que só consegue fazer suas necessidades fisiológicas básicas com cigarro no "bico".

Todos os estudos feitos até agora comprovam que sair da dependência do tabaco não é uma tarefa fácil. Para a maioria das pessoas que querem ou tentam parar de fumar as dificuldades são vistas como gigantescas.

Falo tudo isso com muita propriedade. Tenho 58 anos e fumei por uns 30 anos. Não lembro quando comecei e nem quando parei de fumar. Mas lembro que não sofri quando deixei o cigarro. Só decidi parar defumar e pronto. Entreguei um maço de cigarros que tinha ao "meu médico", sai do consultório, fui embora e nunca mais fumei.

Eu nunca havia tentado deixar o cigarro. Mas já fui obrigado a parar de fumar por uns tempos. Foi há 34 anos, quando fui internado num hospital de Teresina (PI) com "pneumotórax espontâneo, causado "pela perfuração de bolhas apicais subpleurais", segundo diagnóstico médico.

Por causa disso fui submetido a duas grandes, delicadas e dolorosas cirurgias. Foram cinco buracos pra drenos e dois cortes imensos, saindo das costelas, rodeando as omoplatas até chegar o "lombo". As marcas são enormes e estão para sempre. Quem me vê sem camisa pode até pensar que eu era um anjo e cortaram minhas asas.

CIRURGIAS, DOR E SOFRIMENTO

A primeira cirurgia foi em novembro de 1985, no pulmão esquerdo. Eu acabara de chegar de uma viagem à cidade de Guadalupe, onde  cobri as eleições municipais. Eu tinha apenas 24 anos e não sentia nada. Voltei daquela cidade de carona num pequeno avião bimotor. Já desci da aeronave sentindo um pouco de falta de ar, mas não dei importância. Eu morava próximo ao aeroporto e fui pra casa a pé.

Três dias depois, ao entrar em um ônibus, senti uma dor forte abaixo da axila e comecei a respirar com dificuldade. Segui em frente e desci do coletivo em frente ao Hospital Getúlio Vargas. Fui direto ao Pronto Socorro. Já era quase meio dia e tive sorte: um dos médicos de plantão era o extraordinário pneumologista Zenon Rocha Filho.

Contei o que estava sentindo e logo nas primeiras auscutas ele disse que se tratava de um (*) pneumotórax. Pediu uma radiografia só pra confirmar. Demorou pouco e ele me chamou. Como sabia da gravidade do caso, o médico me disse para dali a duas horas encontrá-lo na extinta Casa Mater, no bairro Piçarra. (Saiba mais sobre pneumotórax na última parte do texto).

Segui a orientação dele e no final da tarde eu já estava com um terrível dreno enfiado pelo peito até próximo ao pescoço. Aquilo causou dores quase insuportáveis. Só umas doses de endorfina ou morfina (ou sei lá o que), amenizavam o sofrimento e as dores.

O pior estava por vir. Para tentar evitar a grande, delicada e arriscada cirurgia, quatro dias depois do primeiro me enfiaram outro dreno do meio das costelas até a cravícula. Foram mais quatro dias de muita dor. Era tanta mangueira enfiada no corpo que até parecia um projeto de irrigação.

Foram oito dias até que, finalmente, os médicos decidiram pelo procedimento muito invasivo e agressivo. Foi um corte tão grande que, se ficasse aberto, dava pra colocar "Pó de Anaseptil" com uma pá.

Mas a recuperação foi considerada rápida. Em 48 horas foi retirado o último dreno da primeira cirurgia. A dor terrível provocada por aquele objeto estranho ao corpo sumiu imediatamente. Oito dias após o "grande corte" eu estava de alta do hospital.

Porém, não demorei muito a voltar. Eu ainda estava de licença médica e ao completar exatos três meses da primeira cirurgia retornei à Casa Mater para passar pelas mesmas dores, o mesmo sofrimento e os mesmos procedimentos médicos.

A segunda cirurgia ocorreu em 18 de fevereiro de 1986. Logo após a internação veio o primeiro dreno para aliviar a pressão interna do tórax no pulmão direito. Havia acontecido o mesmo de três meses atrás, como já havia previsto o Doutor Zenon. A diferença é que a decisão pela cirurgia foi mais rápida.

No quarto dia que já sofria com as terríveis dores causadas pelo dreno, fui levado ao centro cirúrgico. O procedimento foi o mesmo da cirurgia anterior. A diferença é que na segunda operação eu ainda estava muito debilitado por causa da primeira e fui parar na UTI, quase em coma.

No dia seguinte à primeira cirurgia sai caminhando da sala de isolamento e recuperação até uma sala de exames e radiografias. Apesar do incômodo arrasador do dreno, fui e voltei sem maiores problemas. Na segunda operação, no pulmão direito, só consegui sentar na cama 20 dias depois.

Naquele tempo, a medicina não tinha os recursos de hoje. Grande parte do sucesso de operações como as que fui submetido dependia da habilidade e outros qualidade dos médicos.

Os grandes cortes feitos em mim não são mais necessários. Hoje, esse tipo de cirurgia já não causa tantas dores e riscos. Na época eu me senti meio que cobaia. Vários alunos de medicina ficaram sabendo do meu caso e me visitam no hospital.

O responsável pelas cirurgias foi o médico Zenon Filho. Ele e sua equipe se dedicaram ao que, na época, chamaram de caso raro: um pessoa com pneumotórax bilateral em pouco tempo.

Resumo - Há muito se sabe que o tabagismo é uma das causas de várias doenças pulmonares, incluindo pneumotórax. E, por causa do vício no cigarro, aos 24 anos, eu quase morri. Escapei, mas levei quase dois anos para me recuperar,  ficar "zerado" e voltar ao batente.

DECEPÇÃO 

Contei toda essa história pra mostrar a que nível de brutalidade o vício do cigarro pode levar um ser humano. É decepcionante um pessoa passar por um imenso sofrimento causado pelo tabaco e voltar ao consumo desse produto.

Mas foi exatamente isso que ocorreu comigo. Após as terríveis dores e a recuperação das cirurgias ainda fiquei mais de ano sem fumar. Mas não resisti e voltei a fumar.

No início até andei manerando um pouco na quantidade de cigarros que fumava por dia. Mas as dores e sofrimentos caíram no esquecimento e cheguei a fumar até três maços de cigarros numa noitada. Mas isso acabou.

FIM DA DEPENDÊNCIA

Um dia (não me lembro quando) fui a uma consulta de rotina com o Doutor Zenon. Me auscutou e pediu uma radiografia e uma espitometria, exame que prova como anda a função pulmonar.

Dois dias depois voltei ao consultório do médico. Ele olhou resultado dos exames. Pela radiografia estava tudo normal. Mas, pela espirometria, ele disse que 10% da minha capacidade respiratória estava comprometida. Eu, então, perguntei a causa. E ele disse que estava no bolso da minha camisa: um maço de cigarros.

Imediatamente, olhando para ele, também fumante e com cigarros no bolso, entreguei meus cigarros ao médico e disse: pegue, agora o senhor tem dois maços de cigarros.

Zenon Filho é um cidadão muito educado. Quando entreguei meus cigarros ele sorriu e perguntou o que eu estava fazendo. E respondi: estou deixando de fumar. Em seguida perguntei o que fazer pra melhorar minha capacidade respiratória. Meio sem acreditar na minha decisão, me orientou e receitou uns adesivos para ajudar durante a abstinência.

Conversamos mais um pouco e fui para casa. No caminho passei numa farmácia e comprei os adesivos, mas só usei um dia. Nunca mais fumei e já posso dizer com toda certeza que a indústria do tabaco perdeu um consumidor.

Eu não lembro e nem quero saber o dia, o mês e ano que parei de fumar. Só sei que já faz muito tempo e não sinto a menor vontade de  fumar. Convivo normalmente entre fumantes e não me sinto nem um pouco tentado a retornar a esse grande vício.


10 DICAS QUE PODEM AJUDAR VOCÊ A PARAR DE FUMAR

Para quem já tentou ou está pensando em deixar de fumar aqui vão algumas dicas sobre o que percebi e considero importante nesta luta e que podem ajudar muito você a se livrar do cigarro.

1 - Decida por você mesmo. Não tente parar de fumar abruptamente só pra agradar ou atender pedido de alguém. Isso não resolve. A vontade e a decisão devem partir de você;

Muita gente, principalmente meus filhos, faziam tudo pra eu parar de fumar. Não deu certo. Só consegui parar no dia que eu mesmo tive vontade e decidi parar.  

2 - Assuma a vontade e sua decisão de parar de fumar sozinho(a), como se não existisse mais ninguém no mundo. Esse é um problema seu. Não deve levar para outras pessoas problemas que só você pode resolver;

3 - Esqueça datas. Não marque o dia pra deixar de fumar e nem fique contando quantos meses, dias e horas parou de fumar. Ficar lembrando é ruim. A "saudade" pode fazer voltar a fumar;

4 - Enfrente a abstinência. Ela é dura, eu sei disso. Mas lembre-se que ela é sua grande inimiga e é responsável pelo retorno de muita gente ao vício;

5 - Acredite em você. Busque força e resista. Vai perceber que, passados uns 15 dias não sentirá mais tanta falta do cigarro. Eu achava que não conseguir fazer nada sem o cigarro. Até escrever era impossível sem o cigarro. Mas estou provando aqui que não é;

6 - Procure ajuda, não sinta vergonha. Se você achar que está difícil parar de fumar procure ajuda médica ou a um psicólogo. Se for o caso, recorra a adesivos para inibir a abstinência;

7 - Não fuja da luta, não se isole e nem fuja dos fumantes. Isso não vai ajudar muito. É você que quer e decidiu parar de fumar, não seus amigos;

8 - Se deixar de fumar não se torne aquele ex-fumante chato que vive reclamando de quem fuma perto dele. Lembre-se que já fumou perto de muitas pessoas;

9 - Esqueça o cigarro e a fumaça dele. Se você deixar de se importar com o cigarro e com quem fuma vai acabar dando importância a outras coisas e nem vai mais se lembrar do último trago;

10 - Tente outra vez. Se fez tudo e mesmo com todo seu esforço não conseguir parar de fumar não se culpe. Lembre-se da música de Raul Seixas e tente novamente, tente outra vez.


(*) PNEUMOTÓRAX

 Um pneumotórax (pneumo = ar) é exatamente o que seu nome diz, “ar no tórax”. É considerado uma "urgência médica" relativamente comum. É causado pela entrada de ar dentro da pleura, a membrana que recobre os pulmões.

O pneumotórax pode ocorrer espontaneamente em pessoas saudáveis, mas ele é mais comum após traumas torácicos, em fumantes ou em pessoas com doenças pulmonares.

O pneumotórax ocorre quando há uma lesão da pleura e o ar que deveria estar apenas no dentro do pulmão, começa a vazar para a cavidade torácica. Como o pulmão fica insuflado devido à pressão negativa do tórax, qualquer vazamento de ar para essa região eleva a pressão e favorece o colapso do mesmo. O ar que deveria estar expandindo o pulmão, está agora do lado de fora, comprimindo-o e fazendo-o murchar.

Acesse o link abaixo e saiba mais sobre pneumotórax.

https://www.mdsaude.com/pneumologia/pneumotorax

Fonte: Piaui Hoje

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Luiz Brandão

Luiz Brandão

Luiz Brandão é jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí. Está na profissão há 40 anos. Já trabalhou em rádios, TVs e jornais. Foi repórter das rádios Difusora, Poty e das TVs Timon, Antares e Meio Norte. Também foi repórter dos jornais O Dia, Jornal da Manhã, O Estado, Diário do Povo e Correio do Piauí. Foi editor chefe dos jornais Correio do Piauí, O Estado e Diário do Povo. Também foi colunista do Jornal Meio Norte. Atualmente é diretor de jornalismo e colunista do portal www.piauihoje.com.
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