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A PODEROSA

Dilma Rousseff: A honra de uma guerreira e a profecia cumprida

Alvo de um golpe parlamentar em 2016, a ex-presidente profetizou que a história seria implacável com os que consideravam tê-la vencido

Por Luiz Brandão

Sábado - 15/11/2025 às 06:45



Foto: Ricardo Stuckert Dilma Rousseff segue firme e sua proficia se confirma
Dilma Rousseff segue firme e sua proficia se confirma

A história, de fato, é a narradora mais implacável. E ela parece estar escrevendo, com letras douradas, um novo capítulo na trajetória de Dilma Vana Rousseff. Na tarde desta sexta-feira (14), o Conselho Universitário da Universidade de Brasília (UnB), uma das instituições de ensino superior mais respeitadas do Brasil e do mundo, aprovou por aclamação, ou seja, de forma unânime e verbal, a concessão do título de Doutora Honoris Causa à ex-presidente.

A honraria, a mais alta que uma universidade pode conceder, não é apenas um reconhecimento acadêmico. É um gesto carregado de simbolismo político e de uma justiça poética inegável. Ilumina, como afirmou a professora Fátima Sousa, da Faculdade de Ciências da Saúde, proponente da homenagem, os fundamentos da universidade: "a defesa incondicional da democracia, da igualdade, da ciência".

Para entender a magnitude deste momento, é preciso voltar a 2016. Afastada do cargo por um impeachment que muitos estudiosos, juristas e a própria Dilma caracterizaram como um "golpe parlamentar", a primeira mulher a presidir o Brasil deixou o Palácio do Planalto com a dignidade intacta e uma profecia. No Palácio da Alvorada, em 31 de agosto daquele ano, ela foi categórica ao se dirigir à nação: "A história será implacável com os que hoje se julgam vencedores". Seus algozes, na época, acreditavam ter enterrado sua carreira política. Ledo engano.

A firmeza de Dilma Rousseff não nasceu no palácio, mas foi forjada na dor da ditadura militar, quando foi presa e torturada entre 1970 e 1972 por sua militância contra o regime. Essa mesma força a sustentou quando, após o impeachment, ficou provado que ela não cometeu os crimes que lhe foram imputados, as chamadas "pedaladas fiscais". O próprio Tribunal de Contas da União (TCU) subsequentemente atestou a inexistência de crime de responsabilidade.

Enquanto a profecia começava a se desenrolar na política brasileira, com vários dos artífices do impeachment posteriormente sendo alvos de operações da Lava Jato e perdendo espaço político, Dilma não se abateu. A guerreira que sempre foi se manteve firme. E não apenas isso: ela se reergueu em uma esfera global.

Em 2023, indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff assumiu a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento, popularmente conhecido como Banco dos BRICS, um bloco que reúne algumas das maiores economias emergentes do mundo (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Chegar à presidência de uma instituição financeira multilateral de tal envergadura, com sede em Xangai, na China, é um testemunho eloquente de seu prestígio e capacidade internacional.

A concessão do título pela UnB, portanto, vai além de uma homenagem curricular. É uma reparação histórica. É a academia brasileira, em coro, reconhecendo não apenas a economista e a ex-chefe de Estado, mas a mulher que personifica a resistência democrática. É o reconhecimento de que a justiça social, a soberania nacional e a liberdade humana, valores que um dia lhe foram negados, são pilares inegociáveis.

A cerimônia de entrega do título ainda será marcada, mas seu significado já é claro: a trajetória de Dilma Rousseff, marcada pela firmeza inquebrantável, transformou uma suposta derrota em uma lição de resiliência. A história, como ela previu, está sendo implacável. E, neste caso, está do lado de quem nunca se curvou.

Fonte: UNB

Luiz Brandão

Luiz Brandão

Luiz Brandão é jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí. Está na profissão há 40 anos. Já trabalhou em rádios, TVs e jornais. Foi repórter das rádios Difusora, Poty e das TVs Timon, Antares e Meio Norte. Também foi repórter dos jornais O Dia, Jornal da Manhã, O Estado, Diário do Povo e Correio do Piauí. Foi editor chefe dos jornais Correio do Piauí, O Estado e Diário do Povo. Também foi colunista do Jornal Meio Norte. Atualmente é diretor de jornalismo e colunista do portal www.piauihoje.com.
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