
Os ventos no Senado Federal não estão soprando a favor do senador Ciro Nogueira (PP-PI). O que se vê é uma tempestade perfeita de reveses, culminando em um momento de constrangimento público que vai além do debate político e atinge a esfera pessoal. A cena, ocorrida na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), foi um microcosmo de sua atual situação: isolado e recebendo o troco por suas posições.
Para entender a dimensão da repreensão aplicada pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), é preciso recapitular o cenário de derrotas que cerca Ciro Nogueira. Nos últimos meses, o presidente nacional do Progressistas viu seu principal aliado, Jair Bolsonaro, ser condenado e preso domiciliarmente. Também viu seu nome arrastado para as manchetes em escândalos que envolvem até líderes do PCC. E, talvez a mais significativa demonstração de seu esvaziamento político, testemunhou a PEC da Blindagem ser enterrada após uma gigantesca manifestação popular contra privilégios do Congresso – uma pauta com sua marca registrada.
Foi nesse contexto de fragilidade que a sessão da CAE da última quarta-feira (24/09) se tornou palco de mais um episódio emblemático. Em pauta, um projeto de interesse nacional: a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a criação de uma alíquota maior para os mais ricos. Enquanto Omar Aziz argumentava contra o pedido de vistas do senador Izalci Lucas (PL-DF), destacando a urgência de um tema que beneficia milhões de trabalhadores, Ciro Nogueira, das cadeiras de trás, interferiu.
Sua fala, longe de ser um aporte construtivo, foi um incentivo à procrastinação. Ao questionar se Izalci não teria o "direito" de protelar a votação, Ciro revelou sua simpatia por uma manobra clássica: ganhar tempo para esvaziar pautas populares e abrir espaço para outros interesses, notadamente os que beneficiam a elite econômica que ele costuma representar.
A reação de Omar Aziz não foi apenas rápida; foi um recado carregado de autoridade moral e política. Virando-se para Ciro, ele pregou: "Não é um direito meu falar?". Forçado a reconhecer que sim, o senador piauiense ouviu o que soou como uma lição de casa. "Não é você, nem ninguém, que vai dizer o que eu devo ou não dizer", completou Aziz, encerrando o bate-boca com uma firmeza que ecoou muito além da comissão.
Aquela reprimenda pública era mais do que um desentendimento entre colegas. Era o sintoma de um político que perdeu a sintonia com o momento do país. Enquanto a sociedade clama por equidade e o Congresso tenta (ainda que timidamente) responder a essa demanda, a atitude de Ciro Nogueira o colocou na contramão. A "dura" de Aziz foi, na verdade, a voz de um senador alinhado com um anseio popular, confrontando a voz de um representante que insiste em um projeto político em franca decadência.
E o recado foi dado não apenas nas palavras, mas no resultado. A CAE aprovou o projeto. A proposta, que isenta rendas de até R$ 5 mil e cria o "Imposto de Renda da Pessoa Física Mínimo" com alíquotas de até 10% para quem ganha mais de R$ 600 mil/ano, segue agora para a Câmara. Também mexe na sagrada isenção de lucros e dividendos, tributando em 10% valores acima de R$ 50 mil mensais.
A derrota política de Ciro Nogueira, portanto, foi dupla. Primeiro, no voto, com a aprovação de uma proposta contrária aos seus interesses. Segundo, e mais humilhante, no discurso, onde foi publicamente censurado por um colega que soube captar o sentimento da sala e do país. A onda de revés continua, e Ciro parece cada vez mais à deriva, nadando contra uma maré que ele mesmo ajudou a criar.

Luiz Brandão
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