
Em um Brasil que ainda carrega as cicatrizes da escravidão e do racismo estrutural, iniciativas como a do professor José da Cruz Bispo de Miranda buscam transformar realidades. Com debates firmes junto ao governo estadual, ele conseguiu incluir uma disciplina de 20 horas sobre racismo no curso de formação de soldados da Polícia Militar. Atualmente, mais de 600 alunos no CEFET já recebem esse treinamento, que aborda violência policial, estereótipos raciais e filtragem racial – prática que criminaliza a população negra de forma desproporcional.
O professor Bispo destaca que a violência contra a população negra não está ligada apenas à pobreza ou à periferia, mas a um racismo enraizado nas instituições. "O policial age condicionado a abordar negros com mais violência, reproduzindo estereótipos da sociedade", explica. Durante o curso, os futuros soldados debatem dados concretos sobre abordagens discriminatórias e como elas perpetuam a desigualdade.
Apesar da resistência inicial de alguns alunos – que relutam em aceitar o viés racial da violência policial –, a iniciativa tem sido um passo crucial para desconstruir preconceitos. "Se você só prende negros, os dados vão mostrar apenas negros como criminosos. É preciso uma abordagem igualitária", argumenta Bispo.
Políticas Públicas
Além da formação policial, o debate avança para as políticas públicas. O professor critica a falsa ideia de "universalidade" que ignora as desigualdades históricas. "Um branco pobre e um negro pobre não têm as mesmas oportunidades. O racismo estrutural impede a mobilidade social da população negra", afirma.
Soluções como cotas raciais e ações afirmativas são defendidas como essenciais para reparar séculos de exclusão. "Precisamos de políticas focalizadas, não apenas universais. Do contrário, continuaremos tratando todos os pobres como iguais, quando sabemos que os negros sofrem mais", completa.
Próximos passos
O governo estadual já criou um Grupo de Trabalho (GT) para discutir um protocolo de abordagem policial específico para a população negra, assim como já existe para grupos LGBT+. "Enquanto 80% das vítimas de homicídios são negras, não podemos ignorar a urgência dessa pauta", reforça Bispo.
A luta do professor e de movimentos sociais tem garantido avanços, mas o caminho ainda é longo. "Essa discussão só chega a soluções quando é feita em público. Estamos plantando sementes para uma sociedade sem racismo", conclui.
Entrevista
Clique aqui e assista a entrevista completa do professor José Bispo ao portal Piauí Hoje.
O professor José da Cruz Bispo é um líder na lutar contra o racismo e estudioso sobre o assunto no Brasil
