
Bernardino Freitas, de 60 anos, nasceu em Miracema do Norte (TO) e mora há sete anos em Brasília (DF). Ele percebeu que não estava sozinho em sua luta contra o alcoolismo após ouvir as histórias de outras pessoas. "Eu queria deixar o vício para trás e procurei ajuda no Caps (Centro de Atenção Psicossocial)", conta.
O problema começou quando ele passava o dia inteiro nos bares, vendo sua saúde e família se deteriorarem. Bernardino decidiu buscar ajuda e, após dois anos longe do álcool, ele se sente melhor e participa de um grupo terapêutico. Ele revela que os profissionais do Caps foram fundamentais para sua recuperação.
A dependência do álcool de Bernardino começou após ele ter que se aposentar aos 45 anos, devido a uma cirurgia na coluna. "Isso me empurrou para o vício. Pedi ajuda e foi a melhor decisão", diz.
Tratamento no SUS
No Brasil, o tratamento contra o alcoolismo é gratuito e acessível, sendo oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através da Rede de Atenção Psicossocial (Raps). O Ministério da Saúde informou que existem mais de 6 mil unidades de atendimento, incluindo 3 mil Centros de Atenção Psicossocial (Caps), espalhados por todo o país. Esses centros têm acesso livre, atendimento sem agendamento prévio e equipes formadas por profissionais de diversas áreas.
Desafios
Apesar do avanço, a socióloga Mariana Thibes alerta para alguns desafios, como a falta de profissionais especializados e o estigma associado ao alcoolismo, que impede muitas pessoas de procurarem ajuda. Ela também destaca os impactos da pandemia de covid-19, que fez com que muitas pessoas aumentassem o consumo de álcool, além de dificultar o acesso ao tratamento devido à sobrecarga nos serviços de saúde.
Desigualdade e Racismo
Thibes também menciona que 72% das mulheres negras são mais afetadas pelos transtornos causados pelo alcoolismo, devido à falta de acesso a serviços de saúde adequados nas áreas onde vivem. A discriminação racial no sistema de saúde também pode prejudicar o diagnóstico e o tratamento dessas pessoas, resultando em menor qualidade de atendimento.
Publicidade e Influência
Apesar das restrições à publicidade de bebidas alcoólicas, a socióloga aponta que as redes sociais, como o TikTok, muitas vezes retratam o álcool de forma positiva, o que pode influenciar os jovens a consumir mais.
Sinais de Dependência
A psiquiatra Olivia Pozzolo explica que a dependência de álcool pode ser identificada por sinais como o controle perdido sobre o consumo e o uso contínuo, apesar das consequências negativas. Ela afirma que o suporte familiar é crucial na identificação precoce do problema e na motivação para o tratamento.
Alcoólicos Anônimos
Além do apoio do SUS, a Irmandade de Alcoólicos Anônimos (AA) oferece ajuda com grupos de apoio, onde os membros compartilham suas experiências. Com 90 anos de história, o AA está presente em 180 países, e no Brasil há mais de 3 mil grupos ativos. Lívia Pires Guimarães, presidente da Junta de Serviços Gerais do AA, afirma que qualquer pessoa que deseje parar de beber pode ingressar, independentemente de idade, classe social ou gênero.
Histórias de Superação
Ana, uma participante do AA, conta que começou a beber com 12 anos e enfrentou muitos problemas devido ao álcool. Ela ingressou no AA aos 19 anos e, com o apoio do grupo, conseguiu se formar, casar e viver sem álcool. Outro membro do AA, também carioca, compartilha que a regularidade nas reuniões do grupo ajudou a reconstruir sua vida, incluindo emprego, saúde e família.
Fonte: Agência Brasil