Saúde

RESULTADOS MAIS LENTOS

Especialistas dizem que mulheres têm mais dificuldade para emagrecer do que homens

Diferentes hormônios, composição corporal e respostas metabólicas fazem com que o processo de perda de peso não seja igual para todos

Terça - 23/12/2025 às 15:00



Foto: O estrogênio, hormônio-chave no ciclo reprodutivo feminino, está associado ao armazenamento de gordura
O estrogênio, hormônio-chave no ciclo reprodutivo feminino, está associado ao armazenamento de gordura

É uma queixa comum nas conversas e consultórios: mulheres frequentemente relatam que, seguindo a mesma dieta ou rotina de exercícios de um parceiro, os resultados na balança são mais lentos e desafiadores. O que pode parecer uma percepção subjetiva é, na verdade, um fenômeno amplamente reconhecido e estudado pela ciência. A dificuldade maior para mulheres emagrecerem, comparadas aos homens, não é falta de força de vontade, mas o resultado de uma complexa interação de fatores biológicos, hormonais e evolutivos.

A diferença começa na composição corporal. Homens têm, em média, uma massa muscular significativamente maior do que as mulheres. O músculo é um tecido metabolicamente ativo, ou seja, ele queima calorias mesmo em repouso para se manter. Um percentual maior de músculos significa uma Taxa Metabólica Basal (TMB) mais elevada. Isso quer dizer que um homem, apenas para manter suas funções vitais, gasta mais energia do que uma mulher da mesma idade e peso.

Além disso, a distribuição de gordura corporal segue padrões distintos. Os homens tendem a acumular gordura do tipo visceral (na região abdominal, entre os órgãos), enquanto as mulheres acumulam mais gordura subcutânea (localizada sob a pele, especialmente em quadris, coxas e seios). A gordura visceral, embora mais perigosa para a saúde cardiovascular, é metabolicamente mais ativa e, portanto, um pouco mais fácil de ser mobilizada durante um déficit calórico. A gordura subcutânea, por sua vez, tem uma função biológica ligada à reserva de energia para uma possível gestação e amamentação, tornando-se mais "resistente" à queima.

O peso dos hormônios e o ciclo menstrual

Os hormônios sexuais desempenham um papel central nessa equação. A testosterona, predominante nos homens, promove o crescimento e a manutenção da massa muscular, sustentando um metabolismo mais acelerado. Já o estrogênio, hormônio-chave no ciclo reprodutivo feminino, está associado ao armazenamento de gordura.

As flutuações hormonais ao longo do ciclo menstrual criam um cenário dinâmico e desafiador. Na fase que antecede a menstruação (fase lútea), os níveis de progesterona sobem, o que pode aumentar o apetite, a retenção de líquidos e o desejo por alimentos ricos em carboidratos e gordura. Essas alterações, somadas a uma possível queda na serotonina (que afeta o humor), podem sabotar a adesão à dieta e distorcer a percepção dos resultados na balança devido ao inchaço.

"É importante que as mulheres entendam que seu corpo passa por diferentes fases ao longo do mês. O que funciona em uma semana pode não ser ideal na outra. A perda de peso não é linear para elas, e isso é completamente normal do ponto de vista fisiológico", explica Dra. Patrícia S. Moreira, endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

O que as pesquisas científicas mostram

Evidências científicas corroboram essa disparidade. Um grande estudo clínico, o Prevenção do Diabetes no Programa de Pesquisa de Resultados (PROP), acompanhou mais de 2.200 adultos com pré-diabetes em uma dieta de baixa caloria. Após 8 semanas, os homens perderam, em média, 16% mais peso do que as mulheres. Outras pesquisas de intervenção nutricional relatam que, após 12 semanas de dieta, mais de 90% dos homens podem perder 5% do peso corporal, enquanto apenas cerca de metade das mulheres atinge o mesmo marco no mesmo período.

"Essa diferença observada nos estudos é multifatorial. Além da questão metabólica, há um componente evolutivo importante. O corpo feminino é programado para ser eficiente no armazenamento de energia para proteger uma potencial gestação, especialmente em momentos de restrição alimentar. É um mecanismo de sobrevivência que se torna um obstáculo no mundo moderno", comenta Dr. Bruno Halpern, endocrinologista e doutor em Ciências pela USP.



Estratégias eficazes

Reconhecer essas diferenças é o primeiro passo para criar abordagens mais realistas e eficazes. Especialistas apontam que estratégias que funcionam bem para homens podem precisar de ajustes para o público feminino:

-Priorizar o ganho de massa muscular: a inclusão de treinos de força (musculação, pilates, funcional) é crucial para contrabalançar a tendência natural e aumentar o metabolismo basal.

-Ajustar a alimentação ao ciclo: Planejar a ingestão de nutrientes e a intensidade dos exercícios de acordo com as fases do ciclo pode melhorar a energia, o controle da fome e os resultados.

-Gerenciar estresse e sono: O cortisol, hormônio do estresse, promove o acúmulo de gordura abdominal. Dormir bem regula a grelina (hormônio da fome) e a leptina (hormônio da saciedade), essenciais para o controle do apetite.

-Focar em métricas além da balança: Medir circunferências (cintura, quadril), notar mudanças no caimento das roupas e melhoras na disposição e força são indicadores de progresso tão ou mais importantes do que o peso.

A jornada de emagrecimento para as mulheres é, comprovadamente, mais complexa devido a uma biologia distinta. Comparar seu processo com o de um homem é, portanto, injusto e pouco produtivo. A chave está na personalização, na paciência e no entendimento de que a saúde e a composição corporal são metas mais significativas e sustentáveis do que um número isolado na balança. A ciência deixa claro: a dificuldade é real, mas com as ferramentas e o conhecimento adequados, os objetivos são plenamente alcançáveis.

Fonte: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

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