
O governo federal deu início a uma corrida para importar o antídoto fomepizol, medicamento considerado padrão-ouro para o tratamento dos casos de intoxicação por metanol. O produto não está disponível no mercado nacional e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acionou autoridades reguladoras de diversos países em caráter de urgência para viabilizar a importação do antítdoto.
O fomepizol é reconhecido como o tratamento de referência contra a intoxicação por metanol porque atua bloqueando a transformação da substância em metabólitos tóxicos, que são os responsáveis por causar danos graves ao sistema nervoso e ao fígado . Sem ele, os serviços de saúde precisam recorrer ao uso controlado de etanol em grau farmacêutico, uma alternativa que pode retardar o efeito do veneno, mas que não é considerada tão segura nem eficaz .
Para garantir o fornecimento imediato, a Anvisa publicou um edital de chamamento internacional em busca de fabricantes e distribuidores com estoque disponível, medida tomada após um pedido de urgência do Ministério da Saúde . Paralelamente, a agência está em contato com algumas das principais autoridades reguladoras do mundo, como a FDA (Estados Unidos), a EMA (União Europeia) e as agências de países como Canadá, Reino Unido, Japão, China, Argentina, México, Suíça e Austrália . O objetivo desses contatos é acelerar os trâmites burocráticos para trazer o produto ao país.
Complementando essas ações, o Ministério da Saúde oficializou um pedido à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para a doação imediata de 100 tratamentos de fomepizol e manifestou a intenção de adquirir outras 1.000 unidades do medicamento por meio do Fundo Estratégico da entidade.
Diante do aumento anormal de notificações, o Ministério da Saúde também instalou uma Sala de Situação para coordenar a resposta à crise, que já registrou uma morte confirmada e outras sete em investigação. Enquanto o antídoto específico não chega, os hospitais utilizam o etanol farmacêutico como alternativa terapêutica.
De acordo com os dados mais recentes divulgados pelas autoridades, o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) já recebeu notificações de 59 casos de intoxicação por metanol . Desse total, 53 casos estão em São Paulo (sendo 11 confirmados e 42 em investigação), cinco em investigação em Pernambuco e um no Distrito Federal . Até o momento, há uma morte confirmada e outras sete em investigação .
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ressaltou que os números atuais extrapolam a média anual de 20 casos de intoxicação por metanol registrada no Brasil em anos anteriores, caracterizando uma situação anormal . A Polícia Federal investiga a suspeita de que uma organização criminosa esteja envolvida na adulteração de bebidas alcoólicas com a substância tóxica.
Orientações para a população e profissionais de saúde
Enquanto aguarda a chegada do medicamento específico, o governo orienta a população a adotar cuidados extras ao consumir bebidas alcoólicas. A recomendação é evitar destilados de origem desconhecida, especialmente líquidos incolores cuja procedência não possa ser confirmada . “Se estiver em um bar, não aceite bebidas de desconhecidos e tente verificar a procedência. Isso é ainda mais importante neste momento”, afirmou o ministro Padilha .
Em caso de suspeita de intoxicação, a população deve ligar imediatamente para o Disque-Intoxicação, no número 0800-722-6001. Este serviço reúne 13 centros especializados em toxicologia espalhados pelo país que podem fornecer as primeiras orientações . Para os profissionais de saúde, o Ministério da Saúde emitiou uma nota técnica exigindo a notificação imediata de todos os casos suspeitos, sem a necessidade de aguardar a confirmação laboratorial . O objetivo é agilizar a identificação de novos surtos e permitir uma resposta rápida do sistema de saúde.
Fonte: G1