Saúde

ATAXIA DE FRIEDREICH

Acauã vive boom de doença genética rara e com remédio de R$ 199 mil

Com 38 casos de Ataxia de Friedreich, doença rara com apenas 800 registros no Brasil,, Acauã virou ponto de atenção para a saúde pública

Da Redação

Domingo - 26/10/2025 às 08:00



Foto: Reprodução Mutirão da saúde em unidade básica de Acauã, semiárido do Piauí
Mutirão da saúde em unidade básica de Acauã, semiárido do Piauí

Uma matéria publicada pelo site Uol evidenciou uma realidade da saúde na pequena cidade de Acauã, no semiárido do Piauí. Com apenas 6.500 habitantes, o município se tornou um ponto de atenção para a saúde pública devido a uma alta e incomum incidência de Ataxia de Friedreich. Esta é uma doença genética rara e progressiva que compromete a coordenação motora, o sistema nervoso e o coração.

A Associação Brasileira de Ataxias Hereditárias e Adquiridas (Abahe) registrou 38 casos da doença no município piauiense, um número extremamente alto se comparado aos 800 casos totais cadastrados no Brasil. A alta concentração é atribuída, principalmente, à prática de casamentos com pessoas da mesma família na região.

A Ataxia de Friedreich é uma doença de herança autossômica recessiva. O professor titular de Neurologia da Unicamp, Marcondes França, explica que, para desenvolver a condição, a pessoa precisa herdar uma cópia do gene defeituoso tanto da mãe quanto do pai.

“O padrão dela é de herança autossômica recessiva. Para que a pessoa desenvolva a doença, é preciso receber a cópia do gene defeituoso de mãe e pai. Então, ela tem uma incidência maior onde há casamentos consanguíneos,” afirma o especialista.

A diretora da Abahe, Amália Maranhão, que descobriu a alta incidência há dois anos, confirma a hipótese, dizendo que a doença, trazida originalmente pelos portugueses, se disseminou na cidade devido aos casamentos entre parentes. 

O próprio prefeito do município, Reginaldo Raimundo Rodrigues (PSD), é um dos pacientes acometidos e relatou seu dia a dia com a doença, que afeta sua coordenação motora. Um mutirão do movimento "Raros Piauí em Movimento" realizou recentemente exames genéticos em 20 adultos com suspeita, e todos testaram positivo. Antes disso, já havia seis casos confirmados.


Sintomas, progressão e sobrevida

A neurologista Bárbara Márcia Rocha Sousa explica que a doença se manifesta inicialmente com dificuldades na coordenação motora, evoluindo para falta de equilíbrio, alteração na fala, problemas cardíacos e deformidades na coluna.

A paciente Maria dos Humildes de Macedo, 47 anos, moradora de Acauã e prima do prefeito, relata que os primeiros sintomas surgiram aos 35 anos com dificuldade na fala. Hoje, aos 40, já sente as pernas fracas e não consegue mais subir degraus ou caminhar longas distâncias, precisando de auxílio do INSS. Ela é filha de primos de terceiros graus. A doença é progressiva e desafiadora, surgindo geralmente em crianças e adolescentes

O professor Marcondes França aponta que o quadro neurológico se agrava, levando o paciente à cadeira de rodas em cerca de 11 a 12 anos após os primeiros sintomas. A doença também atinge outros órgãos, podendo causar cardiopatia e desenvolver diabetes, encurtando a sobrevida média para cerca de 40 anos.

Alto custo do tratamento e impasse com o SUS

A maior esperança para os pacientes reside no medicamento Skyclarys (omaveloxolona), o primeiro a ter registro concedido pela Anvisa no Brasil (em abril), com a capacidade de retardar a progressão da doença. No entanto, o medicamento tem um preço altíssimo: R$ 199.968,10 por frasco (para 90 cápsulas, sendo a dose diária de 3 cápsulas), sem incluir o ICMS de cada estado.

A dificuldade é que a farmacêutica Biogen Brasil não submeteu o pedido de incorporação do medicamento ao SUS (Sistema Único de Saúde). Segundo a Abahe, o laboratório argumenta que o governo tem rejeitado pedidos de medicamentos para doenças raras.

Sem o oferecimento pelo SUS, a maioria dos pacientes de baixa renda fica sem acesso. Pacientes estão recorrendo à Justiça: a advogada Priscilla Mourão confirma que já há um paciente de Pernambuco recebendo a droga por via judicial e outras ações em curso com decisões favoráveis, mas aguardando efetivação.

A Abahe continua sua luta para aumentar a visibilidade dos casos, estimulando o cadastro de pacientes, visando pressionar pela incorporação do medicamento ao sistema público de saúde. O Ministério da Saúde, por sua vez, afirma que oferece acompanhamento especializado aos pacientes com Ataxia de Friedreich em 37 serviços de referência em doenças raras.

Fonte: Uol

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