
A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Rússia para participar das celebrações do Dia da Vitória, em 9 de maio, reacendeu as tensões diplomáticas com a Ucrânia. Autoridades ucranianas consideram a visita um "ato hostil" e avaliam rebaixar formalmente as relações com o Brasil, evidenciando o crescente mal-estar entre os dois países.
A ausência de um novo embaixador ucraniano em Brasília, após a saída de Andrii Melnyk para a ONU, agrava o clima de insatisfação em Kiev. Convites oficiais para que Lula visite a Ucrânia teriam sido enviados há mais de um ano e meio, sem resposta concreta. O Itamaraty alega que aguarda um "convite formal", explicação mal recebida pelo governo ucraniano.
Apesar das críticas, a viagem de Lula à Rússia é interpretada por analistas como uma das mais expressivas sinalizações políticas de seu terceiro mandato. Ao comparecer às cerimônias em homenagem à vitória soviética sobre o nazismo, o presidente brasileiro reforça sua defesa de um mundo multipolar, do respeito à soberania dos Estados e da construção de uma ordem internacional menos subordinada aos interesses das potências ocidentais.
A participação de Lula nesses eventos também reforça a ação do Brasil em atuar como agente autônomo e propositivo, inclusive diante das pressões de países da OTAN e da atual gestão dos Estados Unidos.
O Itamaraty nega qualquer crise com a Ucrânia e aposta no diálogo direto entre líderes. Diplomatas brasileiros afirmam que as relações ministeriais seguem funcionais e que não há intenção de atrasar a nomeação de um novo embaixador, alegando que o processo passa por análises "normalmente lentas".
Internamente, a decisão de Lula de participar do desfile em Moscou também se insere em uma estratégia diplomática mais ampla, que inclui sua presença na cúpula China-Celac, em Pequim, no dia 13 de maio, e na cúpula dos BRICS, marcada para julho no Rio de Janeiro. Trata-se de uma guinada clara na política externa brasileira, voltada para o fortalecimento de alianças no Sul Global, em contraponto à lógica unipolar.
Fonte: Brasil 247