Política Nacional

Se você não viu, leia na íntegra o debate da TV Globo

G1 disponibilizou todo conteúdo para os eleitores que não assistiram ao debate

Sexta - 05/10/2018 às 04:10



Foto: Marcos Serra Lima/G1 Candidatos posam para fotos antes do debate
Candidatos posam para fotos antes do debate

Sete candidatos à Presidência da República participaram do debate na Globo na noite desta quinta-feira (4), nos Estúdios Globo no Rio de Janeiro  Mediado por William Bonner, o encontro teve quatro blocos e mais de duas horas de duração.

Participaram do debate os candidatos Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede).

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi convidado, mas informou que não compareceria por recomendação médica. Ele recebeu alta hospitalar no último sábado (29), depois de 23 dias de internação devido à facada que recebeu em um ato de campanha no dia 6 de setembro, em Juiz de Fora.

Debate Político - Bloco 1

BONNER: Olá, boa noite, bem-vindos aos Estúdios Globo no Rio de Janeiro para o último debate entre os candidatos à Presidência neste primeiro turno da eleição. É mais uma oportunidade oportunidade para avaliar planos e ideias dos candidatos. Alvaro Dias, do Podemos; Ciro Gomes, do PDT; Henrique Meirelles, do MDB; Guilherme Boulos, do Psol; Geraldo Alckmin, do PSDB; Marina Silva, da Rede, e Fernando Haddad, do PT.

O candidato Jair Bolsonaro, do PSL, também foi convidado, mas informou que não poderia comparecer porque ainda se recupera do atentado que sofreu no dia 6 de setembro.

Um sorteio determinou o posicionamento dos candidatos no estúdio. E para não prejudicar os candidatos e quem acompanha pela TV, eu peço que os convidados aqui atrás se mantenham em silêncio na plateia, mas só depois dos aplausos para os nossos candidatos.

Muito obrigado, muito obrigado pela presença na plateia, que atendeu prontamente ao pedido de aplausos. Agradeço a plateia, agradeço a presença aqui do senhores candidatos.

Nesse debate, os candidatos vão fazer perguntas entre si ao longo de quatro blocos. No primeiro e no terceiro, com tema livre. No segundo e quarto blocos, com temas sorteados por mim aqui. A ordem das perguntas já foi sorteada na presença dos representantes dos candidatos. No fim do quarto bloco, cada um vai ter direito a uma mensagem final para o eleitor, em ordem também já estabelecida por um sorteio.

O candidato que se sentir ofendido ou caluniado pode pedir para exercer o direito de resposta. Eu e a produção do debate vamos analisar o pedido e anunciar a decisão assim que possível. Se esse pedido for considerado procedente, o candidato ofendido vai ter um minuto para se defender.

Então, nós vamos começar. Como eu disse, nesse primeiro bloco o tema é livre e todos os candidatos têm que ser questionados uma vez e fazer a pergunta a algum candidato que ainda não tenha respondido.

Como eu disse teve um sorteio, e o sorteio determinou que quem faz a primeira pergunta dessa noite é o candidato do PDT, Ciro Gomes. Eu peço ao candidato que se aproxime aqui do púlpito. Essa é uma dinâmica que vai se repetir ao longo do debate. Boa noite, candidato. Por favor, me diga a quem o senhor quer dirigir a sua pergunta.

CIRO: Boa noite, Bonner. Eu convido a candidata Marina Silva.

BONNER: Candidata, por favor, pode vir ao púlpito. A pergunta tem trinta segundos, a resposta tem um minuto e meio.

CIRO: Minha cara Marina. Em 2014, Aécio e Dilma marcaram uma disputa assentada no ódio, praticamente empataram a eleição, a diferença foi mínima. E a partir daí a política brasileira não teve mais sossego. Até desaguarmos para o impeachment, para o Temer, e a pior crise da história do Brasil. Parece que as coisas no Brasil caminham para uma repetição trágica dessa história. Você acha que um presidente eleito nessa mesma circunstância vai conseguir governar ou será que haverá um outro impeachment no Brasil?

MARINA: Ciro, eu não acredito que, a permanecer essa polarização, se tenha condição de governar o Brasil. Nós temos a oportunidade agora de poder fazer a mudança. O voto de uma pessoa pode ser usado para melhorar a saúde, melhorar a educação, melhorar, sobretudo, o sistema político que está degradado. A permanecer essa guerra, em que alguns estão votando por medo do Bolsonaro, e outros estão votando por medo do Haddad, ou estão votando porque têm raiva um do outro, o Brasil vai ficar quatro anos vivendo uma situação de completa instabilidade econômica, política e social. Nós temos a oportunidade agora de fazer a diferença, mas essa diferença é a população que pode fazer. Nós temos alternativas para poder fazer essa escolha e é por isso que eu tenho me colocado como uma alternativa, porque desde 2010, Ciro, eu estou dizendo que o Brasil ia para essa situação que estamos hoje de ódio, de separação. E nesse momento agora, com as propostas que tenham apresentado para a saúde eu estou preparada para unir o Brasil, porque graças a deus tenho dito desde 2010 que, se ganhar, vou governar com os melhores porque não tenho preconceito contra ninguém.

BONNER: Candidato, o senhor tem um minuto para a réplica.

CIRO: As palavras da Marina são muitos sábias e o povo brasileiro, que está nos ouvindo, que não decidiu ainda ou que admite mudar o seu voto, deve ouvi-las porque eu as repetirei ao longo desse debate: o Brasil tem problemas que nós precisamos ajuizar. O que está em jogo aqui não é paixão partidária. O que está em jogo aqui não é ódio, muito menos. O que está em jogo aqui, meu irmão, minha irmã, e brasileiros, são 13 milhões e 700 mil pessoas desempregadas, 32 milhões de brasileiros saindo de manhã, de madrugada, para viver de bico, desprotegidos de qualquer lei. O que está em jogo aqui são 63 milhões de brasileiros com o nome humilhado no SPC. 63 mil jovens brasileiros foram assassinados nos últimos doze meses. 60 mil brasileiras mulheres foram estupradas e nem sequer justiça temos. Eu acumulei a ficha limpa e experiência que tenho um projeto, mas respeito outras forças que estão aqui, mas afirmo a você, meu irmão e minha irmã, o Brasil precisa construir um novo caminho.

MARINA: Precisa construir um novo caminho, uma nova maneira de caminhar, como diz o poeta Thiago de Mello, e nós haveremos de encontrar. Eu não acredito nessa tentativa de fazer com que as eleições sejam apenas um plebiscito a partir das pesquisas. Até o dia 7 de outubro, você tem a oportunidade de pôr um basta nessa ideia de que a gente vai para a urna para decidir em função do medo ou em função do ódio. Você tem que decidir porque você tem esperança em um Brasil que seja justo, em um Brasil que não feche as portas para o seu futuro. Nós estamos fechando a porta para o futuro se continuarmos fazendo a política do medo. É por isso que eu tenho comigo as melhores pessoas para governar o Brasil, eu tenho a pessoa que idealizou o SUS, o Plano Real e o Bolsa Família, e assim que nós vamos governar o Brasil, com uma equipe competente.

BONNER: Candidatos muito obrigado. Vou pedir agora que se aproxime por favor o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que pelo sorteio é quem tem direito a fazer a pergunta agora. Candidato o senhor escolhe a quem vai dirigir a sua pergunta.

ALCKMIN: Eu vou fazer a pergunta ao candidato Fernando Haddad.

BONNER: Por favor candidato. A pergunta tem 30 segundos. Lembrando, a resposta, um minuto e meio.

ALCKMIN: Quero cumprimentar o candidato Fernando Haddad e dizer o seguinte: nós estamos vivendo no Brasil o resultado de um grande equívoco de natureza econômica. O PT acabou gastando mais do que arrecadava, quem assumir no ano que vem vai ter um déficit. Já assume com um déficit de quase 139 bilhões de reais, 13 milhões de pessoas desempregadas. O candidato vai insistir no modelo petista de governar?

HADDAD: Boa noite, telespectador, boa noite, Geraldo. Os nossos governos foram responsáveis pela maior economia nas contas públicas do país. Enquanto quem governava era Fernando Henrique Cardoso, partidário Geraldo Alckmin, a carga tributária aumentou de 26% para 32% e a dívida pública dobrou no mesmo período. Detalhe: a carga tributária aumentou 6 % do PIB no lombo do trabalhador, imposto sobre consumo. No nosso período, a dívida pública caiu à metade: nós pagamos o FMI, nós acumulamos quase 400 bilhões de dólares de reservas cambiais. O que o candidato Geraldo Alckmin não reconhece é que depois que o seu partido foi derrotado em 2014, e infelizmente correligionário dele admitiu em entrevista recente, o PSDB e se associou ao Michel Temer para sabotar o governo, aprovando as chamadas pautas bombas: gastos desnecessários, aumento para a cúpula do funcionalismo público, um absurdo, aumentando acima do teto, com o auxílio dos mais diversos, salário de quem já ganhava bem. E foi isso que levou o país à crise. E não a política responsável com as finanças públicas que nós fizemos.

ALCKMIN: Olha, nós discordamos totalmente. Eu quero falar com você que está nos ouvindo. O PT terceiriza a responsabilidade. O PSDB está fora do governo há 16 anos. O que que o Fernando Henrique tem que ver com isso a não ser o fato de que ele fez o Plano Real? E o PT e votou contra o Plano Real. Como o PT votou sempre contra e a favor do corporativismo. Nós temos… quem escolheu o Temer foi o PT, foi a Dilma. Quando disse que ia fazer o diabo para ganhar a eleição. Ganhar a eleição dando golpe no eleitor, porque depois ficou ingovernável o país. Eu não acredito que o PT e nem também o Bolsonaro vão tirar o Brasil da crise. Eu acho que nós precisamos unir o país e fazer as reformas de forma rápida, do começo do governo, recuperar a confiança. E o Brasil vai voltar a crescer, mas não com a irresponsabilidade do PT.

HADDAD: Geraldo, nós vamos recuperar as finanças públicas, mas não como vocês querem, cortando direitos. Vocês estão cortando direitos do trabalhador, vocês estão cortando direitos sociais, apoiando o governo Temer da primeira hora, indicaram quatro ministros. Por que o PT não tem ministro do governo Temer e o PSDB tem quatro ministros? Ainda agora tem um remanescente das Relações Exteriores, inclusive elogiando o Bolsonaro, que você critica. Isso é grave. Cortar direito do trabalhador para acertar as contas públicas não se faz. Tem que cobrar do andar de cima e não dar privilégio para o andar de cima, como vocês recentemente fizeram, aprovando reajuste no Judiciário, que é o funcionário público que mais ganha, e querendo aprovar uma Reforma Previdenciária no lombo do trabalhador rural, da pessoa com deficiência. Isso não se faz. Isso o PT jamais fará.

BONNER: Candidatos, muito obrigado. Agora é a vez de chamar aqui ao púlpito o candidato ao Alvaro Dias, porque é ele quem vai fazer a próxima pergunta. Candidato, a quem o senhor vai dirigir a sua pergunta?

BONNER: Candidato Henrique Meirelles, MDB, também pode ir para a frente. 30 segundos para a pergunta, candidato.

ALVARO: Finalmente estou aqui neste grande palanque eletrônico do país, o maior de todos, seguramente, posso dizer: Muito prazer, William Bonner. Eu o vejo pessoalmente pela primeira vez. Outros tiveram o privilégio antes, aqui estiveram muitas vezes e derramaram a sua enxurrada de propostas. Hoje eu gostaria de fazer uma pergunta ao candidato do PT, mas ele não está aqui, está preso em Curitiba.

BONNER: Seu tempo candidato.

ALVARO: Eu pergunto, então, ao Meirelles. O que você fará…

BONNER: Candidato, acabou o seu tempo.

ALVARO: O que o senhor fará...

BONNER: Candidato, eu tenho que interrompê-lo, perdão. O senhor ultrapassou o seu tempo de 30 segundos. Para sermos justos, me perdoe, eu agradeço. Candidato Meirelles o senhor tem um minuto e meio...

MEIRELLES: Eu acho ótimo. Nós estamos vivendo uma situação aqui onde estamos vendo muita briga de candidatos e muito poucas propostas. No entanto, é um momento de fazermos propostas. É o momento em que o Brasil quer saber o que que cada candidato propõe para os próximos anos. E eu tenho uma história para mostrar. E portanto eu tenho condições de dizer que eu vou trabalhar para criar empregos no Brasil e para melhorar a sua renda, para criar condições para que todos os brasileiros possam melhorar a sua vida, possam mandar os seus filhos para as escolas e podermos, aí sim, com o país crescendo, aumentando a arrecadação, nós vamos ter condições de ter uma boa educação, de ter segurança, porque todos têm direito de dormir em paz, trabalhar em paz e não se preocupar com seus filhos, porque é dever do Estado garantir segurança. E ao mesmo tempo, vamos também fazer com que a saúde possa atender a população como a população merece, nós vamos informatizar o SUS e fazer com que cada um possa marcar a sua consulta eletronicamente e não vai esperar em fila, principalmente, quando está doente. E vamos melhorar a educação para todos, principalmente, a qualidade da educação.

ALVARO: Olha, eu trouxe a pergunta por escrito e eu vou entregar, ao final, ao Haddad, para que ele leve ao candidato do PT, que está preso em Curitiba, já que ele o visita todas as segundas-feiras. E eu quero dizer ao Meirelles que nós estamos discutindo muito nessa campanha eleitoral o que é periférico. Estamos deixando de discutir o que é essencial, o modelo que nos governa. Esse modelo corrupto, incompetente. Esse balcão de negócios, do aparelhamento do estado, do loteamento dos cargos, da relação desonesta entre os poderes, dos privilégios das autoridades, do governo inchado e gastador, do legislativo também inchado e gastador. Quando nós falamos em reduzir o número de políticos nós encontramos resistência, mas se nós não mudarmos esse modelo, Meirelles, podem chamar o Meirelles e ele não resolverá problema algum.

BONNER: Tempo esgotado. Candidato, a tréplica do candidato Meirelles em um minuto.

MEIRELLES: Vocês podem também chamar o Meirelles que nós vamos desenvolver o Brasil e melhorar a sua vida. Mas eu tenho absoluta tranquilidade para lidar com o tema de uso de cargos e de corrupção e de tudo aquilo que preocupa hoje fortemente os brasileiros. Porque, em 33 anos de trabalho em empresa, em dez anos de serviço público, eu nunca tive uma denúncia por corrupção, não tenho nenhum processo., aliás,candidato, eu estou pensando em criar o movimento dos “sem processo”, porque com isso nós vamos de fato fazer algo importante para a população brasileira hoje. Eu vou propor que de um lado se dê toda a força sim à Lava Jato, por outro lado nós vamos fazer com que se nomeie sempre uma equipe de qualidade como eu sempre fiz, primeira linha.

BONNER: Obrigado, candidatos. O sorteio determina agora que se aproxime, por favor, o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, e que tem o direito a escolher a quem vai dirigir a pergunta.

BOULOS: Vou perguntar ao candidato Geraldo Alckmin.

BONNER: Candidato Alckmin, por favor. Lembrando, 30 segundos para a pergunta, candidato.

BOULOS: Alckmin, boa noite a você e a todos e todas que nos assistem. Você, junto com o Temer, o Bolsonaro, apoiou a reforma trabalhista que retirou direitos históricos dos trabalhadores. Para vocês, para o trabalhador ter emprego, ele não pode ter direitos. Para o trabalhador ter emprego, ele não pode ter carteira assinada, férias. Aliás, o vice do Bolsonaro defendeu a mesma coisa. Quero saber, Alckmin, por que sempre vocês cortam nos direitos e nunca nos privilégios da sua turma.

ALCKMIN: Olha, aqui é uma grande diferença. O Boulos, como o PT, defende o corporativismo, e nós não. A reforma trabalhista foi necessária, ela foi importante para acabar com cartórios. O país tinha 17 mil, ainda tem, 17 mil sindicatos mamando lá no imposto sindical, na contribuição obrigatória. Aliás, o mais absurdo, 5.700 patronais. E isso é um absurdo verdadeiro. Nenhum direito foi tirado. Nenhum. E nem pode tirar. Nenhum. Então é uma inverdade isso que está colocada. O que o Brasil precisa é voltar a crescer e para o Brasil voltar a crescer, sair esse marasmo, nós temos que fazer reformas. Reforma política, reforma tributária, simplificar o modelo tributário. Reforma do Estado. O PT criou 43 empresas estatais, inclusive a TV do Lula, gastou mais de R$ 2 bilhões. A Santa Casa aqui da cidade do Rio de Janeiro está fechada por falta de R$ 200 milhões. Eu vou enxugar a máquina, fazer a reforma do Estado, privatizar, trazer investimento para o Brasil, recuperar a confiança e o Brasil vai voltar a crescer. Porque o que a população quer é emprego, e nós vamos trabalhar para ter emprego na veia. O governo perdeu capacidade de investimento. Nós vamos trazer investimento privado para o Brasil voltar a crescer.

BOULOS: Olha, nós estamos de fato em lados opostos. Você é da turma dos privilégios eu sou da turma dos direitos. Dizer que a reforma trabalhista não retirou direitos dos trabalhadores é brincar com você que está nos assistindo, que sabe hoje o quanto é difícil encontrar um emprego com carteira assinada, e ficou ainda pior. Veja, vocês chamam, Alckmin, de custo Brasil. Para vocês, direito é um custo, para nós, custo é outra coisa. Custo é um bilhão de reais que vai para pagar auxílio-moradia de juiz e deputado que mora em mansão. Custo é 400 bilhões de reais que vão todos os anos para pagar juros abusivos para banqueiros e agiotas, no sistema da dívida pública. Nós temos coragem para enfrentar esses privilégios e para revogar essa reforma trabalhista absurda. Nós vamos anular isso. Por isso, no domingo, é que vale a pena botar 50, votar no PSOL.

ALCKMIN: Ele não citou um direito que foi retirado, porque não foi retirado direito nenhum e nem é possível retirar direito. Não existe isso. A gente precisa falar as coisas verdadeiras. O maior desafio do mundo moderno é o emprego em razão das mudanças tecnológicas. O país não pode ter uma lei da década de 80, então é evidente que a reforma foi necessária, de lá para cá, 210.000 empregos foram criados. Essa questão do Temer, quero aqui também responder ao Haddad, que ele teve a última palavra, o Temer é responsabilidade do PT. Foi o PT que escolheu o Temer, aliás, escolheu duas vezes e escolheu em 2014. Eu não votei no Temer. Então, é um absurdo, é a terceirização da responsabilidade. Não assumem responsabilidade e querem terceirizar a para os outros. O meu governo vai ser do emprego, da renda do desenvolvimento do país.

BONNER: Candidato, obrigado. O próximo candidato a fazer pergunta pelo sorteio é Henrique Meirelles, ao candidato Ciro Gomes. Por favor, candidato Ciro Gomes, do PDT. 30 segundos para pergunta candidato.

MEIRELLES: Há quase trinta anos, o Brasil escolheu Fernando Collor, um presidente que se intitulava o salvador da pátria. Ele confiscou a poupança, a inflação voltou e tudo terminou em desastre; ele sequer terminou o mandato sofrendo, impeachment. Candidato, por que essa história de salvador da pátria sempre dá errado e termina em desastre e sofrimento para a população?

CIRO: Meu Caro Meirelles, essa é uma pergunta muito importante porque talvez seja a hora mais grave do brasileiro: nós todos aprendermos a importância de votar em projeto, em idEia. Porque os homens devem ter a noção de que nós somos passageiros e, nenhum de nós é dono da verdade, nenhum de nós é capaz de governar uma nação de 208,5 milhões de pessoas com mil contradições, mil lindezas, mil maravilhas, mil defeitos, mil dificuldades. E esse é o grande drama do Brasil nesse momento: o choque entre duas personalidades exuberantes-- é o lulismo, e o antilulismo que o Bolsonaro representa. Eu compreendo isso, compreendo, sou humilde diante da realidade, por isso que eu estou determinado. Tenho pedido a Deus que ilumine a minha palavra para que a gente possa oferecer ao povo brasileiro um outro caminho. Não é para negar ninguém, mas na sua pergunta tem uma sabedoria. Não existe salvador da pátria. Vamos raciocinar um pouquinho: aqueles programas todos que você estava falando passam também por problemas econômicos. 220 mil lojas fecharam no Brasil nos últimos três anos, 13 mil indústrias fecharam no Brasil nos últimos três anos. É uma coisa absolutamente grave e complexa o momento brasileiro e o cenário internacional numa guerra importante comercial como essa dos EUA com a China exigido muita experiência e muita capacidade de intervenção. E o Brasil dançando na beira do abismo com esse tipo de confrontação.

MEIRELLES: Concordo integralmente, acho que é um momento em que o Brasil precisa de competência, é o momento em que o Brasil precisa de experiência e o Brasil precisa de propostas concretas. Alguém que já tenha mostrado resultado e que tem condições de administrar o país. Eu trabalhei no governo durante dez anos, criei, através das políticas que implantei, cerca de 12 milhões de empregos e, mais importante do que isso, a vida dos brasileiros melhorou nesse período. Agora, por exemplo tirei o Brasil da maior recessão da história. Chegamos na superfície, saímos do fundo do poço, mas está na hora de começar a crescer. Eu tenho várias propostas objetivas para o país como, por exemplo, criação do Pró Criança, um programa para fornecer creches para toda a população infantil, são 7 milhões de crianças precisando de creche, e outras propostas.

CIRO: O estimado amigo, nós somos colegas, não é? Tem uma história de vida brilhante. Menos essa passagem com Michel Temer, que de fato não lhe honra, nem lhe faz a melhor justiça, o que não desmerece a sua longa folha de serviços prestados ao Brasil. E por isso eu lhe respeito e lhe tenho na conta de um bom amigo, discordando de todas as compreensões. O Brasil precisa ativar quatro motores para de fato falarmos em desenvolvimento, emprego, salário e dinheiro para melhorar a saúde, a educação, a segurança e a infraestrutura, tudo em pandarecos. Resolver o endividamento das famílias, o programa Nome Limpo, para limpar o nome das pessoas, com 63 milhões estão com o nome no SPC. Resolver o colapso do endividamento dos empresários, tem que trazer uma reestruturação da capacidade de investimento do empresário, corrigir a conta pública, cobrando mais imposto dos muito ricos e diminuindo a tributação na classe média e do povo trabalhador. E, por fim, buscar um caminho de indústria naqueles caminhos que o Brasil tem: petróleo, gás e bioenergia são exemplos junto com saúde, o complexo industrial de defesa e o complexo industrial do agronegócio.

BONNER: Obrigado, candidatos. O próximo candidato é Fernando Haddad do PT, segundo o sorteio de que participaram já os assessores de todos os partidos. Candidato Haddad, a quem o senhor quer fazer a pergunta?

HADDAD: Para quais candidatos eu posso fazer a pergunta?

BONNER: Boulos e Alvaro Dias.

BONNER: Por favor, Guilherme Boulos do PSOL.

HADDAD: Boulos, eu te escolhi porque você é um candidato sério. E eu queria perguntar pra você o seguinte: há três candidatos que apoiam o governo Temer, Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin e o deputado há 28 anos, Jair Bolsonaro. Só falam em cortar direitos. Bolsonaro agora veio com a ideia de cortar o 13º, abono de férias, cobrar Imposto de Renda dos pobres, que são isentos, e cortar o Bolsa Família e introduzir a CPMF. O que você acha disso?

BOULOS: Olha Haddad, a sua pergunta é muito importante e verdadeira, coloco essas questões. Mas eu quero falar aqui de outra coisa que eu acho que não merece riso, porque o momento é grave. Não dá para a gente fingir que está tudo bem: nós estamos há meses fazendo uma campanha que está marcada pelo ódio, faz 30 anos que esse país saiu de uma ditadura, muita gente morreu, muita gente foi torturada, tem mãe que não conseguiu enterrar o seu filho até hoje. Outro dia eu conversava com meu sogro e ele contava das torturas que sofreu durante a ditadura militar. Faz 30 anos, mas eu acho que a gente nunca esteve tão perto disso que aconteceu naquele momento. Se nós estamos aqui hoje podendo discutir o futuro do Brasil, é porque teve gente que derramou sangue para ter democracia. Se você vai poder votar no domingo é porque teve gente que deu a vida para isso. E, olha, quando eu nasci, o Brasil estava numa ditadura; eu não quero que as minhas filhas cresçam no país com uma ditadura. Sempre começa assim, com arma, com tudo se resolve na porrada, que a vida do ser humano não vale nada. Eu acho que nós temos que dar um grito nesse momento, colocar a bola no chão e dizer: ditadura nunca mais.

BONNER: Eu peço, por favor, à plateia, que não se manifeste, por gentileza. Candidato Haddad.

HADDAD: Olha, eu agradeço a sua resposta pelo alerta que você faz à nação. Chamo a atenção para os riscos que nós estamos correndo. Sem democracia não há direitos. Se foi possível construir um país com direitos, se foi possível gerar 20 milhões de empregos em apenas doze anos, se foi possível fazer o jovem trabalhador de classe pobre, o filho do pedreiro, entrar na universidade, isso tudo se deve à democracia. Minha Casa, Minha Vida não existiria. Bolsa Família não existiria. Luz para Todos não existiria sem democracia. É a liberdade que te permite reivindicar, votar, exigir dos governantes compromisso social. O que está acontecendo no Brasil é um descalabro. Os seus direitos estão sendo cortados todo o santo dia, todo dia uma notícia ruim para você. Você é parte da solução. Se o seu salário aumentar, se os seus direitos forem garantidos, a economia volta a girar e a geração de empregos vai continuar.

BONNER: Candidato Boulos.

BOULOS: Olha, essa turma do ódio, a turma do Bolsonaro, é também a turma da destruição dos direitos. O vice dele disse outro dia que o 13º, que férias, é coisa que não deve existir e que ele era contra. Esse ódio que eles propagam nasce da indiferença. Eu estou há 16 anos lutando nas periferias desse país ao lado do povo que não tem casa, ao lado do povo que sofre, de pessoas que sempre foram acostumadas a ir pelo elevador de serviço, a entrar pela porta dos fundos, a baixar a cabeça e dizer: Sim senhor. A gente foi perdendo a capacidade de se indignar, de se sensibilizar. A gente perdeu a capacidade de sentir a dor do outro. Quando a gente passa numa rua e vê alguém jogado, sem teto, e acha isso normal, passa reto. Quando uma criança estende a mão e fecha o vidro. Nós precisamos trazer para a política essa solidariedade. É com o fim da indiferença que a gente vai vencer o ódio.

BONNER: Candidatos, muito obrigado. Eu vou pedir que se aproxime do púlpito a candidata Marina Silva, que é quem vai fazer a próxima pergunta, e o candidato Alvaro Dias porque, pelas regras, é ao senhor que ela deve dirigir a pergunta final dessa rodada do primeiro bloco do nosso debate.

MARINA: Alvaro, nós estamos vivendo um momento difícil para a população brasileira, com o desemprego, muito sofrimento. E nesses momentos, como já foi dito, aparecem os salvadores da pátria, pessoas achando que para governar basta ter alguém que tenha a força. Eu quero perguntar para você: quais são os atributos que um governante deve ter para ajudar a tirar o povo brasileiro desse sofrimento?

ALVARO: Que tristeza, Marina, você que é uma mulher que tem alma, uma sensibilidade humana que conhece o drama das pessoas e deve sofrer como muitos brasileiros que não admitem ver mais tanta corrupção nesse país, confrontando com uma miséria de mais de 52 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, gente debaixo da ponte, debaixo da árvore, sem onde morar, sem salário. E nós olhamos o Palocci denunciando que em apenas duas eleições eles gastaram 1 bilhão e 400 milhões de reais. Isso é um acinte, isso é um afronta. E nós olhamos hoje na capa da revista IstoÉ denúncias de corrupção. E nós olhamos a delação do Marcos Valério, denúncia de corrupção. Mas nós não imaginávamos que a operação Lava Jato pudesse ter chegado ao seu limite, e nós estamos longe do fundo do poço. Assaltaram esse país e nós vamos aqui ficar falando em propostas para gerar emprego, para melhorar a segurança e não vamos falar em acabar com essa roubalheira, com essa corrupção, com esse modelo perverso que é, sem dúvida nenhuma, a conspiração contra a operação Lava Jato.

BONNER: Candidato, seu tempo acabou. A réplica por favor.

MARINA: Eu acredito que os melhores atributos para que a gente possa enfrentar tudo isso que você acaba de dizer é, primeiro, compromisso para fazer tudo aquilo que se promete em uma campanha, para os eleitores. A outra coisa que se deve fazer é ter uma boa equipe, porque não existe salvador da pátria, é por isso que como eu disse eu me orgulho das pessoas que estão andando comigo, como é o caso de André Lara Resende, como é o caso de Ricardo Paes de Barros, como é o caso do meu vice, Eduardo Jorge. E mais: ter a autoridade moral, coragem moral para poder combater a corrupção sem tréguas, porque é isso que está tirando dinheiro da saúde. Foi 1 trilhão do BNDES que poderia ter sido usado para o crédito, microcrédito. Para que os nossos jovens não estejam entregues à própria sorte.

ALVARO: Marina, você tem razão, é preciso acabar com esse tempo do “rouba, mas faz”, é preciso fazer muito mais do que fizeram, sem roubar, sem deixar roubar, e colocando na cadeia quem rouba. Essa é a sentença, esse é o programa de governo. Eu e o meu vice-presidente Paulo Rabello temos cerca de mil páginas de propostas para governar o Brasil; só em relação a reforma do estado são 260 páginas, mas do que adiantam essas propostas se nós preservarmos esse modelo perverso. Com ele, o país não vai alcançar os índices de crescimento econômico compatíveis com a sua grandeza. E eu não vejo entre os fantasmas que nos rondam pelas extremas, eu não vejo ninguém --de um lado, uma organização criminosa, e de outro lado, a marcha da insensatez empurrando o país para um desfiladeiro sem fim.

BONNER: Candidatos, muito obrigado. Termina assim o primeiro bloco do nosso debate. A seguir, os candidatos à Presidência farão perguntas sobre temas determinados por sorteio. Até já.

Debate Político - Bloco 2

BONNER: Estamos de volta com o debate com os candidatos à Presidência da República. Neste segundo bloco, vou sortear os temas de cada pergunta. A ordem dos candidatos que perguntam já foi sorteada em uma reunião com os assessores deles. Todos vão fazer perguntas e sempre a algum candidato que ainda não tenha sido questionado nesse bloco. Vamos, então. Qual será o primeiro tema de pergunta neste bloco? Aqui está. "Custo Brasil" é o tema da primeira pergunta, que será feita pelo candidato do PSOL, Guilherme Boulos. Eu peço ao senhor que se aproxime e, com a mesma dinâmica do primeiro bloco, o senhor escolhe a quem vai fazer a pergunta. Candidato.

BOULOS: Eu vou perguntar novamente ao Geraldo Alckmin.

BONNER: Candidato Alckmin, por favor, pode se aproximar. Lembrando, então, o tema é “Custo Brasil”.

BOULOS: Alckmin, primeiro só fazer uma correção em relação ao bloco anterior. Nós poderíamos citar vários casos da reforma trabalhista. Mulher grávida poder trabalhar em local insalubre, terceirização generalizada, o trabalhador brasileiro sabe disso. Agora, falam muito de custo Brasil, como se o grande empresário é que arcasse com a conta. No seu governo em São Paulo, Alckmin, foram 15 bilhões em desonerações fiscais para os grandes empresários, mais do que se destinou para as universidades públicas. É essa a política que você quer levar para o Brasil?

ALCKMIN: Olha, primeiro destacar, sobre a questão da reforma trabalhista, que ela não tira um direito. O funcionário de uma empresa terceirizada tem o mesmo direito do outro. É da economia moderna você fazer a atividade principal... Você, quando faz uma atividade montadora, você vai recebendo, várias empresas prestam o serviço. Isso é normal, é natural, não tem um direito a menos. A questão de grávida precisa ser regulamentada e eu vou corrigi-la. Em relação à questão do custo Brasil, é uma barbaridade: 143 empresas estatais, 43 foram criadas pelo PT. Até a do trem-bala. Não tem trem, não tem ferrovia, não tem nada, mas está aí a estatal. É preciso uma reforma do Estado, que eu vou fazer, como fiz em São Paulo. A crise pegou o Brasil inteiro, todo o Brasil teve crise. São Paulo, fizemos superávit de 5,3 bilhões de reais, e reduzindo o imposto para o contribuinte. Nós reduzimos o imposto de remédio. Todos os genéricos, de 18 para 12. Reduzimos imposto do etanol, do carro, da pessoa que coloca o etanol como combustível, de 25 para 12. É a menor do país. Zerei o ICMS do trigo, da farinha do trigo, do pão, do macarrão, das bolachas sem recheio. Reduzimos impostos em quase todas as áreas. Agora, eu defendo a reforma tributária.

BOULOS: Olha, Alckmin, o trabalhador brasileiro gostaria muito de viver nesse mundo da fantasia que você apresenta. Agora, em relação ao custo Brasil, nós precisamos fazer uma diferenciação do que é o pequeno empresário, que esse de fato está esganado e precisa de crédito público, precisa de desburocratização e apoio do governo, e o grande empresário, que se recebe todo tipo de tapete vermelho, champanhe e benesses. Só neste ano foram 280 bilhões de reais em desonerações fiscais, ou seja, de liberar esses grandes empresários de pagar imposto. O Alckmin deu a contribuição dele, o Temer também, todos eles deram essa bolsa empresário. Para nós, tem que diferenciar bem o que é gasto e investimento. Olha, educação e saúde não é gasto, é investimento no futuro. Gasto é bolsa empresário. Gasto é fazer com que o super rico não paga imposto. É aí que tem que ser enfrentado privilégio.

ALCKMIN: Olha, eu defendo a reforma tributária. Nós temos imposto demais e muito altos. Nós vamos reduzir cinco impostos para um só, que é o imposto de valor agregado. É isso que eu vou fazer, e fazer rapidamente. Reforma tributária, reforma política e reforma do Estado. O Brasil é um país caro. Por que o Brasil ficou caro? Você compra um produto, paga muito mais do que em outros países. Primeiro, o custo do dinheiro. Os Estados Unidos têm 4 mil bancos, o Brasil tem meia dúzia. Nós vamos fazer uma grande reforma bancária para trazer mais bancos e ter mais competição e desregulação. A outra é reforma tributária, imposto demais onerando o trabalhador e o empreendedor. Burocracia, esse cartório verdadeiro que temos no país e logística ruim. Mas o quinto para reduzir custo Brasil é não eleger nem o PT nem o Bolsonaro porque nenhum dos dois vai resolver a crise. O que podem é agravar a crise, isso sim.

BONNER: Candidatos, muito obrigado. Eu peço agora que quem se aproxime seja a candidata Marina Silva, da Rede, porque, pelo sorteio, é ela que vai dirigir a pergunta a um outro candidato na segunda rodada de perguntas e respostas do nosso debate. A quem a senhora quer fazer a sua pergunta, candidata? Desculpe, perdão, acabei de cometer o primeiro erro da noite. Antes eu preciso fazer... Ainda bem, fui salvo pelo ponto eletrônico. Porque, primeiro, eu tenho que descobrir qual é o tema. "A legislação trabalhista". Não é um ano fácil, candidata. Legislação trabalhista é o tema. Agora, sabendo do tema, a senhora vai escolher a quem vai fazer a pergunta. Perdão.

MARINA: O tema legislação trabalhista. Eu vou chamar o Henrique Meirelles.

BONNER: Não vai acontecer de novo. Perdão por esse erro. Candidato. Candidata, a senhora tem 30 segundos para a pergunta.

MARINA: Candidato Meirelles, você, juntamente com o governo Temer, propuseram uma reforma trabalhista que prejudicou o direito dos trabalhadores. Em nome da modernização, criaram relações pré-modernas de trabalho. Uma mulher trabalhar em atividade insalubre, uma pessoa ter de pagar para ter uma perícia técnica para poder entrar na Justiça, tudo isso é inadmissível. Você vai corrigir esses erros?

MEIRELLES: Existe a necessidade, certamente, de corrigir alguns problemas que precisam ser endereçados imediatamente como essa questão, por exemplo, do trabalho insalubre e, principalmente, para a mulher grávida, mas para todos. Temos que enfrentar esse problema com rigor. Por outro lado, também nós temos que dizer que a legislação trabalhista brasileira, de fato, ela estava no século passado, e criando um problema grave para o país crescer. E criando um problema para os trabalhadores, criando problema para as empresas e criando problema para a população brasileira. Porque vou dar um exemplo para você que talvez você não conheça: lá na Europa, por exemplo, tinha uma grande, tem uma grande empresa que tem um número grande de funcionários no Brasil, cerca de 70 mil, e um número grande de funcionários nos Estados Unidos, também cerca de 70 mil. Esta mesma empresa nos Estados Unidos tem 27 causas trabalhistas e tem dois advogados trabalhando em período parcial. No Brasil, 25 mil causas trabalhistas e 150 advogados. Isso não é bom para os trabalhadores – é a mesma empresa com a mesma prática trabalhista. Nós temos que ter condição de ter um país em que o trabalhador tenha condições de optar qual é o sistema em que ele quer trabalhar. Neste caso, por exemplo, nós temos que ter relações modernas entre o trabalhador a empresa.

MARINA: É fundamental que se faça uma reforma trabalhista, inclusive para ajudar que os trabalhadores possam entrar na formalidade. Ela é necessária, mas eu vou corrigir todos esses erros que foram cometidos por vocês. E eu vou citar um exemplo que, com certeza, você não conhece. Quando eu era ministra do Meio Ambiente, encontramos em uma fazenda lá no interior do Pará mais de 38 pessoas vítimas de trabalho escravo. Uma pessoa que é vítima de trabalho escravo não tem como pagar uma perícia técnica para poder reclamar seus direitos na Justiça. Uma pessoa que ganha salário mínimo não tem como fazer uma perícia técnica. Uma mulher grávida tem que ser protegida e uma pessoa tem que ter o direito a pelo menos uma hora para poder se alimentar e se conectar consigo mesma. Eu vou mudar essas atrocidades.

MEIRELLES: O trabalho escravo, não é, vai além do problema trabalhista. É uma questão de polícia. Nós temos aqui é que garantir que as pessoas sejam tratadas com dignidade, e isso é uma questão de direitos humanos, não é meramente uma questão trabalhista. O país tem que respeitar os seus cidadãos, seja a empresa, seja o governo, sejam os trabalhadores e sejam os políticos, que têm que levar a política a sério, têm que levar o eleitor a sério, têm que levar as pessoas para que não fiquemos aqui simplesmente fazendo demagogia, palavras populistas que possam lhe enganar. Nós temos que trabalhar com seriedade porque o Brasil precisa melhorar a sua vida, precisa crescer, precisa trabalhar com justiça social, sim. Mas com eficiência, para que você possa, trabalhando o mesmo número de horas, com dignidade, ganhar mais, produzir mais e produzir melhor.

BONNER: Candidata Marina, eu agradeço a sua presença. Candidato Meirelles, eu peço ao senhor que fique onde está porque é o senhor que vai fazer a próxima pergunta sobre o tema que eu vou sortear aqui. “Saúde”. Agora, o senhor diz a quem o senhor quer prazer a pergunta sobre saúde.

MEIRELLES: Ao Alvaro, por favor.

BONNER: Candidato Alvaro Dias. 30 segundos para pergunta por favor, candidato.

MEIRELLES: Candidato, nós temos uma situação de saúde dramática no Brasil. Já por um longo tempo nós temos uma população que tem um serviço de qualidade baixa do SUS. Nós temos que informatizar o SUS, sim, mas o que nós podemos fazer para garantir que as pessoas tenham um atendimento de qualidade, que possam, estando doentes, ser atendidos imediatamente e não esperar em fila durante, inclusive, a madrugada.

ALVARO: Em primeiro lugar é não roubar, em segundo, ter competência de gestão. Vocês não tiveram. O senhor estava lá. O senhor, chamado, esteve lá em todos esses governos. Lula, Dilma e Temer. O senhor esconde Dilma. Esteve lá como autoridade olímpica no governo Dilma. Não esconda a dona Dilma. Na verdade, nos últimos 15 anos, 160 bilhões de reais que estavam provisionados para a saúde foram desviados. Aí o que ocorreu? Os procedimentos médicos tiveram pagamentos defasados e foram comprometidos. O SUS, que é um grande programa, acabou sendo um programa pífio, um desastre, um caos. O que é preciso fazer? Revitalizar o SUS com a tabela única, priorizar a atenção básica porque aí apenas 20% do doente chegará a atendimento de média e alta complexidade, reduziremos o sofrimento do povo e reduziremos as despesas do governo. Portanto, a questão de saúde, o Banco Mundial já disse, não é uma questão só de dinheiro, é de competência, planejamento e organização e menos corrupção.

MEIRELLES: Eu tenho a ficha limpa, eu não fui nunca, em nenhum momento, acusado de corrupção. Eu sou um candidato da minha história, e não tenho nenhum processo porque o meu foco é a competência. Sim, trabalhei e fiz um programa junto com o Banco Mundial visando analisar a estrutura do serviço público no Brasil. Podemos sim melhorar o SUS, podemos sim fazer com que cada um tenha um cartão eletrônico em que possa, chegando no médico com horário marcado ter um atendimento que já tenha ali no cartão tudo aquilo que ele já teve e tudo o que é o tratamento proposto. Para isso é necessário competência e menos demagogia e menos falatório.

BONNER: Candidato, a tréplica agora.

ALVARO: Eu ia falar só de saúde dessa vez. Mas o senhor me deu a grande oportunidade de dizer que ficha limpa não tem quem é cúmplice de corrupção, quem participa de governo que se transforma em organização criminosa. O senhor leu a delação do Palocci? O senhor leu a delação do Marcos Valério? O senhor estava lá. O senhor admite gastar 1 bilhão e 400 milhões de reais numa campanha eleitoral? Quantas casas se construiria no “Minha Casa, Minha Vida” com 1 bilhão e 400 milhões de reais? Mas, em matéria de saúde, eu vou também instituir, se for Presidente da República, que Deus me permita ser presidente, eu vou instituir o “Médico Federal” no lugar do Mais Médicos, que é outra corrupção. É dinheiro que vai para Cuba. Vai para Cuba um balaio de dinheiro e volta uma cestinha para o Brasil.

BONNER: Tempo. Muito obrigado. Candidato Meirelles, o senhor pode retornar. O senhor é que vai fazer a próxima pergunta, mas nessa bancada cinza que serve de referência para a câmera. Eu vou sortear o tema e depois o senhor diz para quem vai fazer a pergunta. “Gastos públicos” é o tema da sua pergunta para ao candidato. Por favor.

ALVARO: Qual sobrou aí, William?

BONNER: Temos Guilherme Boulos, Marina Silva, Fernando Haddad e Ciro Gomes.

ALVARO: Ah, o Fernando Haddad, claro.

BONNER: 30 segundos para a sua pergunta, por favor, candidato.

ALVARO: Ao final do programa, eu vou entregar a você a pergunta que você levará ao verdadeiro candidato do PT à Presidência da República, porque o senhor aqui é apenas o representante dele --ele é o seu padrinho. Em matéria de gastos públicos, vocês gastaram horrorosamente, especialmente na Petrobras; gastaram, não, roubaram o dinheiro público. Eu gostaria de perguntar a você o que você vai fazer com essa ação última em relação aos acionistas americanos?

HADDAD: Em primeiro lugar, eu acho que você deveria ter mais compostura nesse debate. O senhor não respeita tempo, não respeita seus adversários, não respeita as regras do debate, faz brincadeira com coisa séria. Coisa muito séria. Eu quero dizer para o senhor que, em termos de gastos públicos, os nossos governos pela primeira vez colocaram o pobre no Orçamento. Todos os programas sociais conhecidos no Brasil, Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos, ProUni, universidades públicas federais, institutos federais, transposição do São Francisco. O senhor imaginar, foi feito nos governos nossos com os resultados sociais conhecidos. Agora, nós vamos retomar muita coisa que vocês destruíram, estão destruindo. Nós vamos retomar o crescimento do Brasil, diminuindo os impostos dos mais pobres para que eles aumentem o poder de compra e possam voltar a comprar para ativar a economia e gerar empregos. Nós vamos enquadrar os bancos, porque os bancos estão cobrando juros extorsivos da população, sobretudo do empresário, daquele que precisa fazer um crediário e daquele que está endividado e não consegue pagar as suas contas. Nós vamos fazer tudo que for necessário. A reforma fiscal para retomar os investimentos públicos gerando emprego. É isso que eu vou fazer a partir de 1º de janeiro de 2019.

ALVARO: Olha, eu não estou brincando, estou falando muito sério, olho no olho, papo direto, vocês é que são uma brincadeira governando. E, aliás, quando você fala do seu desempenho no Ministério da Educação, eu fico pensando que você estava na Dinamarca. Mas o que eu estou dizendo é que só nesta ação da Petrobras, na última, de 20 bilhões, esse acordo para evitar o prosseguimento de uma ação judicial, de acionistas americanos porque a Petrobras foi assaltada pelo PT nos últimos anos, foi pilhada, de 20 bilhões de reais. Sabe o que significa isso? A construção de 200 mil casas, onde morariam quatro pessoas. Igual, quatro pessoas, 800 mil pessoas, igual a capital de Maceió. É levar Maceió para o Renan Calheiros e para o Collor para Nova York. Esse é o tamanho do rombo do PT só nesse caso.

BONNER: Tempo, candidato. Candidato Alvaro Dias. Eu interrompo por causa do tempo e peço para o senhor, por favor, que dê um passinho à sua direita, para se centralizar a essa mesa cinza porque senão o senhor não aparece. Candidato Haddad...

ALVARO: Tá legal. É que eu quero ficar bem de frente com o Haddad.

BONNER: É porque senão o senhor encobre o outro candidato com aquela câmera que está atrás. É esse o pedido que eu lhe faço faz mais uma vez. Candidato Haddad, agora sim, por favor, mais um minuto.

HADDAD: O senhor está atrapalhado em relação ao tempo e ao espaço. O senhor precisa se situar aqui. 15 bilhões de dólares custava a Petrobras, quando nós assumimos. Hoje ela custa 80 bilhões de dólares a valor de mercado. Sabe por quê? Porque nós multiplicamos por 10 o investimento da Petrobras. Sem isso, nós jamais acharíamos o pré-sal, que é o passaporte para o futuro se vocês pararem de vender para os americanos o que é do povo. Eu vou retomar o petróleo da Petrobras para investir em saúde e educação, e você aprovou uma lei para alienar, para os americanos, o que é dos brasileiros. Isso eu não vou permitir. Isso vai ser revisto no dia 1º de janeiro de 2019, posso te assegurar isso. Em relação ao meu trabalho no Ministério da Educação, você não sonha com isso. Os governos que você apoiou não fizeram 10% do que eu fiz para o filho do trabalhador entrar na universidade pela primeira vez na história do país.

BONNER: Tempo esgotado. Muito obrigado, candidatos. Quem eu vou sortear aqui a próxima pergunta que é... Candidato Meirelles está pedindo direito de resposta, nós vamos analisar a sua questão, certo? Eu vou aqui sortear o tema da próxima pergunta. “Transportes”. Quem vai fazer essa pergunta pelo sorteio é o candidato Geraldo Alckmin, do PSDB. É uma pergunta sobre transportes. O senhor vai dirigi-la a quem, candidato?

ALCKMIN: Candidata Marina Silva.

BONNER: Candidata Marina. 30 segundos para a pergunta, candidato.

ALCKMIN: Marina, eu viajei bastante nesse período da campanha eleitoral verificando os grandes problemas de transporte e de logística. Fui ao Norte, estive lá em Porto de Miritituba, no Rio Tapajós, Santarém, depois estive também em Marabá, no Tocantins, e vejo que há um grande problema de custo Brasil. Ou seja, não consegue tirar a soja do Mato Grosso para chegar até lá no porto de Miritituba, Itaituba, e depois a Transamazônica, a BR-163, ferrovias. Qual a sua proposta?

MARINA: A minha proposta é de que se tenha infraestrutura para o desenvolvimento sustentável. Quando eu fui ministra do Meio Ambiente tive a oportunidade de fazer os licenciamentos mais difíceis, inclusive a BR 163, que liga a estrada Cuiabá-Santarém. E eu tenho a exata noção da dificuldade que temos em relação a infraestrutura do Brasil. Hoje nós perdemos 30% da nossa produção agrícola por falta de infraestrutura logística, por falta de armazenamento, por falta de de portos. E no meu plano de governo nós vamos trabalhar diferentes modais, vamos investir em rodovias, recuperando e criando algumas. Vamos investir em hidrovias. Na Amazônia é um potencial muito grande, inclusive no estado do Amazonas, que é o que tem maior potencial. E vamos investir em ferrovias, que é um transporte mais barato, ambientalmente mais sustentável e mais adequado para algumas regiões do Brasil. A infraestrutura gera emprego, gera renda, gera vida digna, mas tem que ser feita em bases sustentáveis. Não pode ser feito de qualquer jeito. O projeto para ser feito tem que ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável e é isso que nós vamos fazer no Brasil inteiro.

ALCKMIN: Eu pretendo desenvolver um grande programa de obras. Nossa prioridade é emprego, emprego e emprego. Trazer investimento privado para se somar a investimento público, hidrovias (do Rio Madeira, do Rio Tapajós, do Rio Tocantins, Amazonas), para ir para o norte do mundo toda a nossa produção de alimentos --o Brasil vai ser o maior produtor de proteína animal e de grãos do mundo. Investir também em ferrovias, obras paradas como a Fiol [Ferrovia de Integração Oeste-Leste], Transnordestina, imediatamente retomá-las --se o concessionário não fizer, nós vamos substituí-lo e estabelecer as punições. Integrar com os modais rodoviários e, nas grandes cidades, metrô e trem: transporte de alta capacidade e de qualidade. Metrô ou trem, corredores de ônibus, VLT, monotrilhos, qualidade de vida para a família poder chegar mais cedo em casa, ficar com seus filhos e ter vida melhor.

MARINA: Quando eu cheguei no Ministério do Meio Ambiente, existiam muitos projetos parados, um deles era a BR 163, da época do governo do PSDB, e eu tenho compromisso de fazer com que a infraestrutura do nosso país possa ser trabalhada, em parceria com a iniciativa privada. Possa ser trabalhada, sobretudo, ouvindo as populações locais em algumas áreas, sobretudo no caso da Amazônia. Hoje é uma demanda muito grande para que a região possa se desenvolver. E nós vamos fazer isso, porque temos capacidade técnica e temos autoridade para poder debater com a sociedade quais são os projetos que podem ser feitos em termos de rodovias, de ferrovias e de hidrovias. E no caso das cidades nós vamos fazer com que o transporte público seja de qualidade para que não se tenha que se viver como se vive aqui em São Paulo, horas e horas dentro de um ônibus.

DIREITO DE RESPOSTA MEIRELLES - ASSISTA

BONNER: Tempo, candidatos, muito obrigado. Eu peço que retornem aos seus lugares. Candidato Meirelles, o senhor tem direito a uma resposta agora. Daí mesmo, candidato, o senhor não precisa se levantar. Porque o senhor foi chamado de cúmplice de corrupção. O senhor tem um minuto para se defender da acusação.

MEIRELLES: O candidato Alvaro Dias está confuso, inclusive sobre o que é um ficha limpa. Eu nunca tive uma acusação sequer por corrupção na vida. Trabalhei dez anos no serviço público, 33 anos em empresa, não tenho nenhum processo. Isto é um ficha limpa e é isso que, neste festival de delações e denúncias muito importante que está acontecendo no Brasil, meu nome nunca foi citado. Por quê? Porque o meu trabalho é um trabalho que não diferencia um governo de outro. Eu divido o Brasil entre quem trabalha pelo Brasil e quem não trabalha pelo Brasil. E quem é ficha limpa e quem não é ficha limpa, e eu sou um candidato que tem um histórico de honestidade.

BONNER: Seu tempo, candidato. Obrigado. Por favor, o público não se manifesta. Agora é a vez do candidato do PT, Fernando Haddad. Candidato, o tema da pergunta que o senhor vai fazer é “Meio Ambiente”.

BONNER: O senhor precisa fazer a pergunta obrigatoriamente a Ciro Gomes.

HADDAD: Pois não. Ciro, existe uma contradição aparente no Brasil entre o agronegócio e o meio ambiente. Então, tem muito diz que me disse em torno disso, e muitas vezes o Brasil deixa de avançar em função dessa contradição, por falta de uma solução para esse problema, uma vez que o agronegócio gera emprego, gera exportação, gera divisas, precisa ser apoiado, mas o ambiente não pode ser descuidado. Como é que você pretende resolver essa equação?

CIRO: Eu tenho o privilégio de ter escolhido para a minha vice uma mulher que é a melhor cabeça em matéria de compreensão desse grave problema que é a sustentabilidade do desenvolvimento agropastoril do Brasil. E não só a minha vivência. Trabalhei com Marina no licenciamento da BR-163, o Brasil talvez seja o último país do mundo onde o conceito de desenvolvimento sustentável possa ser praticado. Isso significa coisas concretas, por exemplo, está se plantando cacau lá nas alturas da Transamazônica. Já é mais produtivo do que na Bahia, onde ele teve um problema sério, que é a praga da vassoura de bruxa. Está se plantando teca, que é uma essência, madeira, muito mais cara do que o mogno. Mas isso tudo está sendo feito meio que avulso. O que resolve isso são ferramentas modernas em que nós fazemos o zoneamento econômico, ecológico e desestressamos, ou seja, geramos atividades produtivas para trás, para proteger a floresta, porque a floresta, modernamente, vale economicamente muito mais em pé do que a derrubada e desmatada. Mas, no Brasil, nós empurramos os migrantes do Sul e do Nordeste para ir para a Amazônia e a condição de eles terem o título da terra, Haddad, lá atrás, era desmatar. E de repente se mudam as leis e não se ensinou a população brasileira dos rincões, do interior do Centro-Oeste, do interior da Amazônia, especialmente onde essa questão é mais grave, as outras alternativas. Esse é o meu caminho. Mudar o perfil econômico e oferecer atividades alternativas que sejam protetivas das populações tradicionais e das áreas mais sensíveis.

HADDAD: Ciro, eu concordo com as suas ideias, são muito boas para o agronegócio, mas eu faria uma proposta adicional. No Brasil, para aumentar a produção agrícola, nós não precisamos derrubar uma única árvore, desde que nós combatamos a especulação de terras. Tem muita terra desmatada já que não tem produtividade, e uma das razões para isso é que tem uma tabela antiga, dos anos 70, que não foi atualizada até hoje em função da pressão dos ruralistas para que ela não seja atualizada. Isso impede o governo de sobretaxar a terra improdutiva ou mesmo de desapropriar a partir da concessão de títulos da dívida agrária. Portanto, nós vamos ter que enfrentar esse desafio. Nós sabemos que os ruralistas modernos, esses estão produzindo. Não são problema. Mas os ruralistas arcaicos, que estão apoiando, inclusive, o Bolsonaro, estão resistindo a modernizar o campo no Brasil.

CIRO: Se há um país, volto a dizer, que tem condição de buscar a harmonia entre a produção, a necessidade de gerar riqueza, de gerar emprego para o nosso povo, e a necessária preservação dos nossos recursos naturais, biomas sensíveis, aquíferos, enfim, populações tradicionais, esse país no mundo é o Brasil. O que falta no país, entretanto, é uma estratégia, um projeto. Eu, Haddad, sou candidato, eu tenho que dizer a você que, apesar de ter colaborado, enfim, o PT teve esses 14 anos no poder e não teve essa audácia de fazer. Não é que não tenha feito coisas boas, fez, mas também perdeu a condição política de reunir a população brasileira. E essa é a minha preocupação nesse instante. Boas ideias, mudanças estruturais, mas isso necessita um ambiente político em que a gente tenha energia e condição política para enfrentar o fascismo, a radicalização estúpida que o Bolsonaro representa. Essa é a minha preocupação na noite de hoje.

BONNER: Obrigado, candidatos. Candidato Ciro Gomes, o senhor permanece. É o senhor que vai fazer a próxima pergunta e essa pergunta será para o candidato Boulos. Enquanto isso, eu vou sortear aqui. O senhor pode se aproximar, candidato. Na dinâmica é a última dupla possível. Eu vou sortear aqui o tema: “Combate às Drogas”. É a pergunta que o senhor vai dirigir ao candidato Boulos.

CIRO: Meu caro Guilherme, assim chamado Boulos, o Brasil tem hoje 760 mil pessoas presas. 70% disso jovens, presos pela polícia com minúsculas quantidades de drogas para fazer estatística ou, simplesmente, para matá-los. E ao entrar no presídio essa garotada acaba se transformando em soldados do crime organizado e das facções, senão morre. Qual é a sua compreensão desse problema?

BOULOS: Olha, Ciro, primeiro dizer que a política que tem sido feita no país, da chamada guerra às drogas, de combater supostamente o tráfico de drogas, indo para as favelas, militarizando, colocando polícia, como seu comando do crime organizado tivesse dentro do barraco de uma favela. A gente sabe muito bem que o comando do crime organizado nesse país está muito mais perto da Praça dos Três Poderes em Brasília ou da grande indústria da arma do que de qualquer favela desse país. A droga não nasce lá dentro do morro. Ela chega lá. Chega dos atacadistas e, olha, essa ideia de que o usuário de droga tem que ser tratado com porrada, com bomba, com prisão, essa ideia está superada com todas as partes do mundo e nós precisamos superar aqui também. A questão das drogas não pode ser um tema do código penal, porque isso só leva ao encarceramento em massa. A população de presos no Brasil dobrou nos últimos dez anos. Eu pergunto: Alguém está se sentindo mais seguro com isso? Eu creio que não. Essa ideia do Bolsonaro de que tem que prender mais, dar mais arma, colocar mais polícia, essa idéia não resolve aqui e nem em nenhuma outra parte do mundo. A droga não é caso do código penal, não é caso de polícia. Abuso de substância química é caso de saúde pública, é caso do SUS. E é assim que tem que ser tratada e é assim que nós vamos tratar.

CIRO: Você falou em da indústria da arma, eu vou só fazer um parênteses nesses minutinhos que eu tenho. As ações da Taurus, uma fábrica de armas no Brasil, aumentaram 180% – e tem várias pessoas associadas à turma do Bolsonaro ganhando muito dinheiro com a evolução das pesquisas. Isso é o que o Brasil precisa saber, 180%. Enquanto a caderneta da de poupança rende 6% ao ano, quem especulou com ações da fábrica de armas em cima de um discurso de um candidato que fala nisso toda hora – e se ausentou do debate aqui, eu queria tirar a máscara dele na frente de todo mundo aqui – ganhou 180% em 60 dias. Esse é um país assaltado. Sobre a questão [das drogas], entretanto, nós precisamos fazer a correção da lei de 2006. Foi uma lei equivocada que foi feita em 2006, sob governo progressista, que permitiu que um juiz no Pará considere uma quantidade minúscula de droga uma mera contravenção que não tem pena, e a mesma quantidade de droga no Rio de Janeiro vai para a cadeia. Isso é uma aberração que nós precisamos corrigir.

BOULOS: É isso. Nós temos que descriminalizar o consumo de drogas e, mais do que isso, Ciro, nós temos que rever o modelo de segurança pública no Brasil. Esse modelo está falido, o modelo que é só repressão, policiamento ostensivo, militarização. O estado do Rio de Janeiro está sob intervenção militar. Os índices só pioraram. O caminho não é esse; o caminho é antes de tudo atuar com prevenção: nós não queremos construir presídios, nós queremos construir escola. Nós não queremos dar a primeira arma para o nosso jovem; nós queremos dar o primeiro emprego, a oportunidade, e evidentemente precisamos resolver o problema de quem hoje é assaltado no ponto de ônibus. Agora, isso não se resolve com mais violência, com mais polícia, essa não é a receita. Isso se resolve com inteligência, para não deixar a arma chegar onde ela está chegando hoje. Combatendo o tráfico de armas e munições que tem relação com as grandes empresas de arma, que ganham com isso. Para dar um rápido exemplo aqui no estado do Rio de Janeiro a maior apreensão de arma não foi nenhuma favela, foi no aeroporto do Galeão e foi prender o responsável em Miami.

BONNER: Estamos concluindo aqui o segundo bloco do nosso debate. Daqui a pouco os candidatos a presidente voltam a fazer perguntas sobre temas livres. Até já.

Debate Político - Bloco 3

BONNER: Estamos de volta ao debate entre os candidatos à Presidência e, enquanto a plateia faz silêncio e se senta de volta, cada um no seu lugar, eu quero pedir a todos os candidatos que se lembrem de que aqui no púlpito tem uma marca cinza que serve de referência para os senhores para que se centralizem sempre. Porque as câmeras são cruzadas. Se vocês saírem da posição, acaba atrapalhando a câmera que capta a imagem do seu oponente aqui no púlpito. Bom, nesse bloco, o tema das perguntas volta a ser livre, a exemplo do que aconteceu no primeiro bloco, e cada candidato, aqui tem uma diferença, cada candidato vai poder ser escolhido para responder a no máximo duas perguntas. Não apenas uma, mas duas, mas no máximo duas. E na ordem determinada pelo sorteio, quem vai abrir essa rodada é a candidata da Rede, Marina Silva, a quem eu peço que se aproxime do púlpito novamente, e a senhora vai escolher a quem vai fazer a pergunta.

BONNER: Candidato Fernando Haddad.

MARINA: Eu iria fazer essa pergunta também para o candidato Bolsonaro, que mais uma vez amarelou, deu uma entrevista na Record, e não está aqui debatendo conosco. E a pergunta é: Nós temos um país...

BONNER: Eu peço que… Só minuto, candidata. Eu vou parar o relógio. Eu vou pedir que não se manifestem, porque como eu disse na abertura do programa isso atrapalha muito para quem está em casa. Não é possível escutar a pergunta. Por favor, o seu tempo, eu vou lhe conceder um tempo adicional para a pergunta.

MARINA: Eu iria fazer essa pergunta para o candidato Bolsonaro, mas como ele mais uma vez amarelou, deu uma entrevista para a Record e não veio aqui debater conosco. Nós temos hoje uma situação em que 25% está votando porque não quer o Bolsonaro, 25% vota porque não quer o candidato do PT, que é você. 50% não quer nenhum dos dois. Diante dessa situação desoladora da política brasileira e da grave crise que o Brasil está vivendo, qual é a autocrítica que você faz em relação a tudo isso, da contribuição do PT para esse momento difícil?

HADDAD: Olha, Marina, eu agradeço a pergunta. Eu estou em campanha há apenas 22 dias. Eu entrei numa situação completamente anormal. O líder das pesquisas, que figurava na dianteira, podendo ganhar no primeiro turno, não pode participar da eleição em função de uma decisão arbitrária, arbitrária. Foi condenado sem provas e hoje é considerado pelo mundo inteiro um preso político, inclusive por um comitê das Nações Unidas, que vai julgar o mérito dessa ação em março do ano que vem. Você sabe de quem eu estou falando. Estou falando do Lula, que estava com 40% de intenção de voto. Eu estou me apresentando ao eleitorado porque eu represento nesse momento um projeto que deu certo. O Lula saiu com 86 % de aprovação. Um presidente que governou para todos. Quando falam que o Lula é radical, que o Lula instituiu o ódio. Quando isso? O Lula tratou do servente ao banqueiro, do catador de papel ao empresário, com a mesma dignidade. Abriu as portas do Palácio do Planalto para todo o povo brasileiro e governou olhando para os mais pobres, que é o que eu pretendo fazer a partir de 1º de janeiro. Reabrir o Palácio do Planalto para todos os brasileiros, de preferência para aqueles que mais precisam da ação do Estado. Essa é a minha formação de professor, e esse é o meu valor maior.

MARINA: É lamentável que você não reconheça nenhum dos erros. Abrir o Palácio para os pobres, mas o Bolsa Empresário, só no BNDES, foi um trilhão para meia dúzia. Isso é o equivalente a 35 anos de Bolsa Família. O Bolsa Empresário, 5% do PIB. O Bolsa Família, 0,5%, Haddad. Vários casos de corrupção. Você tem agora a oportunidade de olhar para o povo brasileiro e reconhecer os erros, e você não faz. Você reitera todos os erros cometidos, e ainda faz o elogio do mesmo jeito, como se pedir desculpas, como se reconhecer erros fosse um problema. Não é. Quando a gente está diante de uma crise como essa que nós estamos vivendo a gente tem que pensar em um projeto de país, não é em projeto de poder. O Brasil está à beira de ir para o esgarçamento sem volta, entre a sua candidatura e a do Bolsonaro. É preciso colocar por um termo em tudo isso

HADDAD: Marina, você não está sendo correta. Você não está sendo fiel à verdade. Eu dou entrevistas reconhecendo ajustes que precisam ser feitos, reconhecendo erros que foram cometidos, mas eu não vou jogar a criança com a água do banho. Eu sei o que foram os 12 anos do governo do PT, eu sei o que foi gerar 20 milhões de empregos, e eu tenho duas obsessões na vida. Só duas. Eu vivo de salário, Marina. Eu sou professor universitário, eu e minha esposa com quem eu sou casado há 30 anos. Eu tenho ética, eu tenho uma história, eu tenho uma vida pública sem nenhum reparo. Posso te garantir isso. Estou olhando aqui no olho do eleitor dizendo: não existe nada que não seja, na minha vida, produzir o bem, trabalho e educação. Eu, como ministro da Educação, ofereci todas as oportunidades que eu podia. Trabalhava 18 horas por dia para abrir as portas das universidades para os pobres. Vou fazer agora em relação ao trabalhador desempregado.

BONNER: A senhora tem direito a réplica. Ah não, perdão, desculpe, os dois podem sair. Segundo erro da noite. Eu estou fazendo aqui o meu próprio ranking, candidata.

Mas a culpa é só minha, não é dos jornalistas como um todo, eu assumo essa culpa aqui. Candidato Meirelles, eu peço ao senhor que se aproxime. Pelo sorteio é o senhor o próximo. O senhor só precisa escolher a quem vai fazer a pergunta. Tema livre, lembrando.

MEIRELLES: Vou fazer uma pergunta ao candidato Ciro Gomes.

BONNER: O senhor pode guardar também o microfone no bolso.

CIRO: Para quem veio no debate da outra vez com uma sonda pendurada na perna, isso aqui não é nada.

MEIRELLES: Ciro, 7 milhões de crianças no Brasil estão em idade de ir para a creche e não podem ir porque não têm uma creche pública perto da casa da família e o pai e a mãe e precisam ir trabalhar. A Dilma prometeu entregar 6 mil creches e entregou 80. Como nós vamos resolver esse problema das creches para as crianças carentes no Brasil?

CIRO: A minha proposta contempla a ideia de creche em tempo integral para todas as crianças, de zero a três anos, em seis anos. Portanto, extrapolando dois anos de um mandato, cuja honra possa me dar ao povo brasileiro, de servir a essa grande nação como seu presidente. Mas aquela outra demanda, das crianças de 3 a 6: são mais ou menos 2.300.000. Dá para resolver no primeiro mandato e estou com esse compromisso no meu programa de governo. Isso é uma razão bastante, porque as ciências modernas afirmam que é na primeira infância, ali no zero a três anos, que se formam as aptidões das crianças. Só agora se descobriu que se a criança não tiver a devida alimentação, o devido processo de socialização, de carinho, de estimulação neuro-hormonal e todas aquelas condições, nutrição, fisioterapia, atenção médica e odontológica, ela pode se comprometer para o resto da vida. Portanto, isso não pode ser mais adiado, por esta razão mesma de darmos às crianças, os filhos dos trabalhadores que não podem pagar creche, uma condição de, enfim, de implementarem suas melhores aptidões e nós termos então uma geração de brasileiros ainda mais forte, ainda mais trabalhadora, ainda mais culturalmente criativa. E há um drama grave, porque com 13.700.000 pessoas desempregadas e com 32.200.000 pessoas na informalidade é preciso garantir que as crianças estejam protegidas, alimentadas, para que a mulher brasileira vá à luta, porque não está fácil para ninguém.

MEIRELLES: A minha proposta é criar o “Pró-criança”, que é o maior programa de valorização e de oportunidade de aprendizado para a criança, de fato, nesse período, onde a criança aprende a aprender. Então nós temos que conjugar em primeiro lugar a alimentação e o estímulo adequado. O programa “Pró-criança” é uma extensão do ProUni para as creches e onde se possa usar uma creche privada que tenha a localidade perto de onde está morando a família, e, a partir daí, a família possa usar essa creche e não ter que se transportar para buscar a creche pública. E com isso nós vamos ganhar muito recurso, porque vamos usar a estrutura disponível. Para isso é preciso de competência, experiência e seriedade.

CIRO: Quando governei o Ceará, eu consegui com creches comunitárias, sem maiores comprometimentos com prédio, mas apenas fazendo adaptações a casas de pessoas pobres da própria comunidade, um programa parecido com esse. E eu saí muito orgulhoso do governo do Ceará, porque a gente cearense me deu a condição de ser o governador melhor avaliado do país. Estou me apresentando aqui para aquele brasileiro que está me conhecendo hoje, são muitos brasileiros que não me conhecem ainda. Pois bem, eu consegui abrir uma creche a cada dois dias de governo, e isso me permitiu, o resultado, ir no plenário das Nações Unidas, na ONU, receber por uma política que tinha iniciado já no meu antecessor, governador Tasso Jereissati, que é do PSDB, mas é justiça que se faça, não é, nós conseguimos, eu fui lá receber o prêmio mundial de combate à mortalidade infantil. E hoje o Ceará tem uma das menores mortalidades infantis do Brasil e é um dos estados mais pobres do país. Ora, se o Ceará pode fazer, me dê uma oportunidade, brasileiro, eu quero fazer por todo o Brasil.

BONNER: Obrigado, candidatos. Agora é a vez do candidato do PSOL, Guilherme Boulos, se dirigir ao púlpito e dizer para a gente a quem o senhor vai dirigir a sua pergunta, candidato.

BONNER: Candidato Meirelles pode retornar, então.

BOULOS: Mas não vou chamar o Meirelles, não. Já disse que vou taxar o Meirelles. Meirelles, o Temer foi denunciado duas vezes por corrupção. Nas duas vezes ele se salvou com o famoso ‘toma lá, dá cá’, comprando parlamentar em troca de emenda e de cargo. Eu tenho muito orgulho de fazer parte do PSOL, partido em que todos os deputados votaram para cassar o Michel Temer. Como você, Meirelles, como o povo pode acreditar que você vai combater a corrupção, se você parte da turma do Temer, do partido do Temer?

MEIRELLES: Eu sou um candidato que faço parte da minha história. E a minha história é uma história de quem trabalha em primeiro lugar. Eu sei que pode parecer estranho para você, essa história de trabalhar…

BONNER: Por favor, silêncio.

MEIRELLES: ...eu trabalho duro e não tenho nenhuma denúncia por corrupção na vida inteira. E não tenho nenhum processo. Portanto, eu posso sim, com muito orgulho, dizer que tenho um passado e um presente Ficha Limpa. Como eu já disse, eu penso, inclusive, em criar o movimento dos sem processo, e eu sou um candidato independente. Por quê? Porque eu não devo nada a ninguém. Eu já fui convidado, trabalhei para o governo do Lula, trabalhei para o governo do Temer, trabalhei para os governos que me dão a oportunidade de trabalhar pelo Brasil. Porque eu não divido o Brasil em quem gosta do FHC, quem não gosta. Quem gosta do Temer, quem não gosta. Quem gosta do Lula e quem não gosta. Eu divido o Brasil entre quem trabalha pelo país e quem não trabalha. E eu trabalhei pelo Brasil e mostrei resultado concreto, com uma vida de honestidade.

BOULOS: Olha, Meirelles, primeiro de fato você falar em trabalho me parece algo muito estranho, porque você é um banqueiro, banqueiro não trabalha. E me parece mais estranho ainda, porque você é um dos responsáveis de ter tanto desempregado no país que você deveria falar em desemprego, não em trabalho, vai mais com a sua cara. Agora, quero dizer o seguinte, o sistema político brasileiro está podre. A turma do PMDB, do Meirelles, essa turma toda que, aliás, o Bolsonaro faz parte, que diz que é de fora do sistema, mas é deputado há trinta anos, recebeu auxílio-moradia tendo casa, enriqueceu na política, comprou mais imóveis do que aprovou projeto, essa turma toda não vai mudar. O único jeito de mudar o sistema político é trazendo o povo para o centro da decisão. Democracia não pode ser apertar um botão a cada quatro anos e depois ir embora. Não pode ser como o Big Brother, que as pessoas decidem quem fica na casa e quem sai da casa, mas não decidem o que acontece dentro da casa. O povo tem que ser chamado a decidir com plebiscitos referendos. Nós não temos medo da decisão popular.

BONNER: A sua tréplica, candidato.

MEIRELLES: De fato nós não podemos e não temos medo da atenção popular. Por isso, é que eu estou apresentando essas propostas de criação de emprego no Brasil. Por quê? Porque quando eu fui presidente do Banco Central, talvez você não tem acompanhado, isso eu estabilizei a economia e o Brasil criou 10 milhões de empregos, naquela época. E depois tiramos o Brasil da maior recessão da história e criei mais de 2 milhões de empregos na economia brasileira. E tenho um compromisso, porque eu não acredito em promessas, se promessa resolvesse problemas, o Brasil seria uma maravilha, mas o que eu vou fazer é me comprometer a criar 10 milhões de empregos em quatro anos de mandato como presidente da República.

BONNER: Muito obrigado, candidato. Terminada essa rodada, é a vez do candidato do Ciro Gomes, do PDT, se dirigir ao púlpito para fazer a próxima pergunta. O senhor só precisa dizer a quem é.

CIRO: Eu convido o candidato Meirelles.

BONNER: Candidato Meirelles retorna, então, pela segunda vez, é a segunda. Nessa rodada, só lembrando, nessa rodada os candidatos poderão responder a duas perguntas no máximo. Por favor, candidato Ciro.

CIRO: Meirelles, eu gostaria de fazer essa pergunta que eu vou lhe fazer ao candidato Bolsonaro. E eu suspendi a minha campanha porque, quando aconteceu aquele absurdo atentado, eu fiquei muito mal. Passei ali uns quatro dias ligando para o hospital para ter alguma condição psicológica de volta à luta porque fui colega dele. Entretanto, ele hoje está de alta e deu uma entrevista longa, muito maior do que o que nós estamos conversando aqui, cada um de nós vai falar dez minutos. E fugiu. Você acha correto que um homem que quer ser presidente do Brasil não se submeta ao debate?

MEIRELLES: Não, isso está errado. E mostra alguém que não só está fugindo do debate, mas está fugindo do seu compromisso com a população. E, mais importante, não é meramente o debate, é a questão de estar aqui sujeito a crítica, sujeito a ataque, sujeito a discordância, muitas vezes a até ofensas ou coisas injustas ou falsas, mas que cada um de nós está aqui e enfrentando isso com seriedade e com respeito ao eleitor. E isto é que é importante, o eleitor merece respeito. Por quê? Porque nós temos aqui que apresentar propostas que o país precisa e também dizer o que fizemos. Cada um pode dizer o que já fez ou pode dizer o que não fez, ou pode simplesmente estar acusando ou brigando com outros candidatos por falta do que dizer. Mas é muito importante que o eleitor tenha a capacidade e a possibilidade de ver isso. Se alguém foge do debate, se alguém se esconde, se alguém não aparece e só vai dar uma entrevista numa situação de absoluto controle e numa situação amigável significa que essa pessoa, na minha visão, não tem condições de administrar o país. E por quê? Alguém para administrar o país tem que enfrentar as intempéries, tem que enfrentar chuvas e tempestades, tem que estar disposto a se expor.

CIRO: É importante isso, brasileiro. O candidato que lidera as pesquisas tem o seu vice dizendo que vai acabar com o décimo terceiro salário e adicional de férias, tem o seu economista principal, a quem ele disse que vai consultar, porque não entende de economia, dizendo que vai diminuir os impostos dos ricos e aumentar os impostos dos pobres, unificando alíquota do imposto de renda. Chegou a propor a CPMF. E o Bolsonaro, quando vê a repercussão dessas coisas todas, nega para a imprensa. Aqui tem duas coisas: uma mentira, que precisava que ele tivesse aqui pra gente esclarecer, e eu acho que é uma mentira grossa, porque eu já ouvi o Bolsonaro dizendo que o brasileiro tem que optar entre emprego e direitos. E apenas o general Mourão parece que, tosco como é, falou com sinceridade, sem ter as habilidades políticas de um mentiroso, que fala a mesma coisa, e o general Mourão indicou quais são as coisas. Mas o que me assusta não é só a mentira, o que assusta é que há uma equipe de três pessoas — Bolsonaro, Mourão e Guedes — brigando na véspera da eleição. Você imagina que isso vai dar certo no Brasil?

BONNER: A tréplica, por favor.

MEIRELLES: Não, não vai dar certo. A eleição, porque eu não acredito que o povo brasileiro vai assumir essa aventura. O Brasil já se cansou de aventura. A população não pode mais viver esse tipo de aventura. Nós não podemos ter mais esse tipo de risco. O Brasil já correu muito risco, Brasil já enfrentou muitas aventuras. E o resultado tem sido lamentável. Portanto, é um momento em que nós precisamos de segurança, precisamos de competência e uma coisa que está aqui colocada com clareza, precisamos de seriedade. Seriedade no que fala, seriedade em seguir a sua própria história. Alguém que apresenta suas propostas, que vota, mas depois é coerente com isso e as suas propostas, a sua visão de país, o que ele fala tem que estar consistente com tudo aquilo que ele já fez e já votou no seu papel de congressista.

BONNER: Obrigado, candidatos. Convido agora o candidato Alvaro Dias, do Podemos, para se dirigir ao púlpito e escolher a qual candidato ele vai fazer a próxima pergunta. Esse bloco, que eu lembro, tem tema livre.

ALVARO: Quem é que sobra aí, é Geraldo Alckmin?

BONNER: O senhor pode perguntar a todos, só não pode perguntar ao candidato Meirelles.

ALVARO: Geraldo Alckmin. Geraldo, eu te respeito muito e há pouco, mais uma vez aqui, se confirmou que na olimpíada da mentira, o PT ganha medalha de ouro. A todo momento afirma-se coisas que não aconteceram, por exemplo, que eu apoiei isto apoiei aquilo. Eu fui oposição a vida inteira. Só sete meses eu fui governo, no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Qual a sua proposta para mudar esta realidade do país, o modelo que está vigente?

ALCKMIN: Olha, eu acho que nós já tivemos, Alvaro Dias, você, que tem uma larga experiência, governador, senador, nós já tivemos a experiência do PT e vimos o resultado disso. O resultado foram 13 milhões de desempregados, criminalidade na altura, saúde deteriorada, contas públicas com problemas, empresas fechadas. Esse é o dado de realidade. E sempre terceirizam, né. A culpa é sempre de terceiros. Agora, também de outro lado, e eu venho há meses falando isso, o caminho também não é um radical de direita, que não tem a menor sensibilidade, entendeu? Esses dias ouvi falar que saúde não precisa de mais dinheiro. Ora, saúde está um caos. Como é que não precisa de mais dinheiro com uma população ficando mais idosa e a medicina mais cara? É uma barbaridade. Que quer fazer imposto novo, CPMF, que é um imposto ruim, porque pega toda, em cascata, prejudica a população. Que não tem sensibilidade com os trabalhadores, que sustentam esse país, carregam nas costas esse país, as trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. Não tem a menor sensibilidade com as mulheres. Então, nós que sempre estamos em um outro caminho que não dos radicais de direita e de esquerda temos que nesses três dias levar a uma reflexão profunda do Brasil. Não podemos ir para esse segundo turno de extremos.

ALVARO: Olha, eu digo que nós estamos discutindo muito assuntos periféricos. Estamos deixando aquilo que é central para o futuro do país. É o modelo. Esse modelo de governança corrupto, se ele prevalecer, vai continuar sendo fábrica de escândalos, produzindo os ladrões da República. Há um conluio, há uma associação do sistema financeiro nacional, com mão grande, e parte da política, essa parte da política que apodreceu. E nesse conluio o governo enche as burras dos banqueiros, 72% do crédito nacional é ação bancada pelo governo. Os bancos não precisam, não precisam do mercado, não disputam no mercado. Por isso não há competição, e a taxa de juros não recua. Porque o governo absorve 72%. Temos que transferir isso para o setor privado.

ALCKMIN: Olha, eu quero falar com você que está nos acompanhando até essa hora aqui, através desse importante debate, na antevéspera da eleição, de que o Brasil já tem problema demais. Os brasileiros já têm problemas demais. Nós não podemos ter presidente para também ser problema. Nós precisamos ter presidente para resolver os problemas, para colocar a coisa no caminho correto, com segurança. O Brasil só vai mudar com as reformas. Se não, vai ser esse marasmo, esse lelelé, com as reformas, com a reforma política. Esse sistema nosso está falido: 35 partidos políticos. Reforma previdenciária, para acabar com o privilégio. O legislativo federal ganha vinte vezes mais do que você que trabalha na agricultura, na indústria, no comércio, na aposentadoria. Reforma tributária para simplificar o modelo tributário, e reforma de Estado, para privatizar, enxugar, diminuir o tamanho do Estado brasileiro.

BONNER: Obrigado candidatos. O próximo candidato a fazer pergunta, tema livre, é Fernando Haddad, do PT, a quem eu peço por favor que se dirija aqui ao púlpito. E o candidato deve escolher a quem vai a dirigir a sua pergunta.

HADDAD: Ao Guilherme Boulos. Guilherme, você, como eu, é professor, vive do seu salário, tem orgulho da sua profissão e muitas vezes é incompreendido por pessoas que ganharam dinheiro muito fácil no Brasil. Qual é a sua proposta para o Ensino Médio do país? Porque eu sinto que o Ensino Médio é o que exige mais atenção por parte do poder público porque foi a etapa de ensino que menos reagiu aos estímulos que foram dados.

BOULOS: Nós temos que retomar o investimento em educação pública no Brasil, Haddad. Isso passa, em primeiro lugar, por revogar a Emenda Constitucional 95, que congelou investimentos, inclusive em educação e saúde, pelos próximos vinte anos no Brasil. Nós vamos revogar ela. Retomando o investimento, é possível cumprir o Plano Nacional de Educação e investir o custo-aluno-qualidade, que prevê 50 bilhões para o Ensino Básico no Brasil, equipando as escolas, inclusive com Wi-Fi, em todas as escolas e criando as condições para que os professores ganhem um salário digno e tenham plano de carreira. Isso é essencial. Nós temos que fazer um debate também sobre currículo. A reforma do Ensino Médio, feita pelo governo Temer, que tirou a filosofia, tirou a sociologia, ela é uma reforma que tira o pensamento crítico. Nós precisamos revogar essa retoma porque ela foi feita sem discutir com ninguém, e mexer no currículo, porque a escola não pode ser para formar os nossos jovens apenas para fazer uma prova no fim do ano. Tem que ser para formar para a vida e por isso os grandes temas têm que ir para o currículo, inclusive, a questão de gênero, diversidade sexual e racismo, isso tem que ser debatido desde as escolas, porque quando não se debate, gera preconceito, e o preconceito estimula o ódio e a intolerância. É isso que nós vamos fazer no Ensino Médio brasileiro.

HADDAD: Guilherme, você sabe, você acompanhou, fez parte dessa luta. Nós abrimos as portas das universidades para os jovens. 2 milhões de bolsas concedidas pelo Proun, dobramos as vagas nas universidades federais, multiplicamos o financiamento estudantil sem fiador para que o pobre pudesse ter acesso. Mas temos um gargalo no Ensino Médio que precisa ser corrigido. Qual é a nossa proposta? As escolas de Ensino Médio no Brasil, as melhores, públicas e privadas, elas são as federais.As públicas federais. E nós espalhamos essas escolas federais por todo o país. Só eu e inaugurei 214 escolas de ensino médio federal. Nossa proposta é que essas escolas sejam o padrão de referência do ensino médio dos estados. 90% da matrícula é estadual, não é federal. Nós queremos apoiar essas escolas estaduais a partir da experiência exitosa dos institutos federais das escolas militares e das escolas dos Sesi e do Senac.

BOULOS: Olha, Haddad, em relação ao ensino superior que você mencionou, de fato é importante ter ampliado vagas na universidade e ter feito programa de cotas. Agora, nós temos um problema aí. Hoje, vai mais dinheiro para o Fies do que para a universidade pública. Nós temos é que criar mais vagas na universidade pública e criar um modelo de transição. Porque a universidade pública tem pesquisa, tem extensão, tem ciência. Esse dinheiro que hoje vai para a universidade privada tem que ir para as públicas, inclusive fazer uma auditoria porque ele tem uma verdadeira caixa-preta aí dos grandes grupos de ensino privados educacionais. Agora você mencionou um tema na início da sua resposta, da sua pergunta, que eu vou colocar aqui. Eu, com muito orgulho, faço parte do movimento que luta por moradia, dos sem-teto, de pessoas que todo fim do mês têm que fazer a dura escolha, como muitos que estão nos assistindo, entre pagar aluguel e botar comida na mesa. Para mim, esse é um orgulho enorme, estar ao lado dessas pessoas. Eu ando com sem-teto, eu ando com sem-terra, eu só não ando com sem-vergonha.

BONNER: Candidatos, muito obrigado. Agora é a vez do candidato Geraldo Alckmin, do PSDB, dirigir a pergunta ao candidato que ele escolher.

ALCKMIN: Eu escolho a candidata Marina Silva.

BONNER: Candidata Marina, pode vir até o púlpito. 30 segundos para sua pergunta, candidato.

ALCKMIN: Marina, um tema que preocupa o Brasil inteiro, inclusive aqui no Rio de Janeiro, onde nós estamos, é segurança pública. Nós, em São Paulo, conseguimos um resultado importante. Nós tínhamos, há 18 anos, 13 mil assassinatos por ano. Reduzimos para o 11 mil, 7 mil, 5 mil, e no ano passado foram 3.503. Reduzimos 75% os homicídios. Qual a sua proposta para a segurança pública?

MARINA: Nós temos uma situação dramática, em que 63 mil pessoas são assassinadas por ano. A nossa proposta de segurança pública é, inclusive, para frear o que está acontecendo no Brasil, em que quadrilhas e organizações criminosas, que só existiam em grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e, principalmente, aqui em São Paulo, como é o caso do PCC, estão indo para estados que não têm a menor condição de lidar com esse time de crime. O meu estado do Acre, um estado frágil, hoje está sendo invadido por organizações criminosas. Por isso a nossa proposta é de um sistema único de segurança pública. Nós vamos investir em inteligência para que as abordagens sejam mais efetivas, treinar e pagar adequadamente os policiais. Vamos equipar e ampliar o contingente da Polícia Federal Rodoviária e da Polícia Federal para combater crime organizado. E não vamos permitir que aqueles que são criminosos fiquem comandando o crime organizado de dentro das cadeias, como acontece em muitos casos, inclusive aqui em São Paulo, que consegue exportar essas organizações criminosas para outras regiões do Brasil. Nós vamos ter o sistema único de segurança pública que trata a questão da violência não só como caso de polícia, mas como caso de justiça econômica social, para que a população possa ter alternativa.

ALCKMIN: Eu, quando algum estado consegue um sucesso, um estado irmão, eu fico feliz, reconheço, aplaudo, fico feliz. É importante reconhecer também os avanços de São Paulo. Nós reduzimos de 13 mil para 3 mil, são 10 mil vidas salvas por ano. Negros, caiu 35% por ano a morte de negros; jovens, quase 40%; mulheres, feminicídio. Então, nós resolvemos lá, vamos levar esse modelo para a todo o Brasil: tecnologia, combate ao tráfico de drogas, sistemas de fronteira, combate ao tráfico de armas e mudança da legislação: essa história de que prender não resolve não é verdade. Você tem que prender, tirar o criminoso da rua, é importante isso. Vamos aperfeiçoar a lei de execuções penais, aperfeiçoar o Código de Processo Penal e fazer parcerias com estados e municípios e criar uma guarda nacional em caráter permanente.

MARINA: O problema é que quando as coisas não são feitas de forma bem feita, o problema é que acontece em um estado e acaba indo para um outro estado que é o que eu percebo que aconteceu em vários estados que tinham verdadeiras quadrilhas. Hoje, essas quadrilhas são uma realidade, Alckmin, elas foram para outros estados. Por isso que eu quero um sistema único de segurança pública, onde o governo federal junto com os governos estaduais e os governos municipais possam ter uma abordagem do combate ao crime, às organizações criminosas e à violência de forma efetiva, para que não se tire com a mão e bote com a outra, porque é isso que acontece. Nós temos que celebrar quando a não tiver violência em São Paulo, quando não tiver violência no Acre, não tiver violência no Ceará e no Rio de Janeiro ou em qualquer lugar do Brasil. Essa é a proposta que eu tenho: segurança para todo o estado brasileiro junto com estados e municípios.

BONNER: Muito obrigado. Rodada encerrada. Depois do intervalo, nós teremos o último bloco do debate aqui nos Estúdios Globo. Os candidatos à Presidência da República voltarão a discutir temas determinados por sorteio. Até já.

Debate Político - Bloco 4

BONNER: Muito bem, estamos de volta ao debate entre os candidatos à Presidência. Mais uma vez, nesse bloco cada candidato vai poder responder a no máximo duas perguntas, e sobre temas que eu vou sortear. Começando, então, agora, pelo sorteio do próximo tema de pergunta, que é: “Previdência”. Tema importantíssimo, e quem vai fazer a primeira pergunta desse bloco é Fernando Haddad, candidato do PT. Candidato, o senhor tem que escolher a quem vai endereçar a pergunta sobre “Previdência”.

BONNER: Candidato Ciro Gomes.

HADDAD: Ciro, tramitou e tramita ainda no Congresso Nacional uma proposta de reforma da Previdência que, na minha opinião, é nefasta para o país, porque ela não diferencia os brasileiros. Tem brasileiro que, em determinados estados, tem uma média de 60 anos de vida, e tem outros que tem 70 anos de vida. O trabalhador rural é uma realidade, a pessoa que ganha Benefício de Prestação Continuada é outra realidade. Qual é a sua visão sobre a reforma da Previdência?

CIRO: A proposta que Michel Temer fez, e que ainda está aí engatilhada, esperando que a população brasileira tome uma decisão errada nessa noite –eu peço a Deus que abençoe essa grande nação para que a gente ache o caminho correto– é uma aberração. Ela é uma aberração por dois lados. Primeiro, ela é injusta. O trabalhador rural do Nordeste, eu sou o único candidato nordestino, tem que falar essa voz aqui, que é uma origem de uma honra para mim... O trabalhador rural nordestino não pode ter a mesma idade mínima que um trabalhador de trabalho intelectual da praia de Fortaleza, ou da avenida Paulista, ou do Leblon, em São Paulo ou Rio de Janeiro. Um professor em nenhum lugar do mundo é obrigado a dar 49 anos de aula para ter direito à aposentadoria integral. Nunca se viu, em lugar nenhum do planeta, um policial correr atrás de bandido 49 anos, para ter direito à aposentadoria integral. Essa é a grande aberração. Ela é injusta, ela é selvagem. Ela guarda coerência com essa matriz de economia política que o Bolsonaro... Não é o Bolsonaro, é o Paulo Guedes. É só as pessoas lerem. Parece que eu estou aqui embirrando, implicando, não. É o Brasil, e o candidato que está na frente das pesquisas tinha que estar aqui para responder. Infelizmente fugiu e está dando entrevista na outra emissora, concorrente aqui da Globo. E o outro problema é que o sistema de repartição, só o Brasil e a Argentina e a Venezuela praticam. Isso está quebrado. Nós precisamos criar outro regime de capitalização que seja garantido para todos os brasileiros, sem ferir nenhum direito adquirido.

HADDAD: Olha, concordando com as premissas do seu raciocínio, nós temos uma ideia. A ideia é tirar da idade mínima, da discussão da idade mínima, quem ganha até uma determinada faixa de renda, e o trabalhador rural. Não dá para ter a mesma regra para todo mundo. Os brasileiros que, infelizmente eu digo isso, são muito diferentes, a expectativa de vida dos brasileiros é muito diferente, dependendo da região e dependendo da renda. Então, qualquer mexida na Previdência que não levar em conta que nós somos diferentes e que temos que ser tratados diferente, ela vai ser injusta. Tudo o que o governo Temer está fazendo acaba recaindo o ônus da reforma sobre quem mais precisa do Estado, sobre quem mais precisa do apoio estatal nos serviços públicos, inclusive, da Previdência pública. Então nós vamos discutir isso com a sociedade, mas com essas premissas. O trabalhador da classe pobre não vai pagar a conta do ajuste fiscal.

CIRO: Quatro das cinco maiores centrais sindicais do Brasil estão comigo. Uma com você e 4 comigo. Nesse caso aqui, pelo menos nessa pesquisa, está 4 a 1 para mim. E dali veio, de um debate com eles, uma ideia que eu achei mais interessante do que essa e mais coerente com a vida do brasileiro. A ideia de que nós partamos da idade mínima que temos hoje e, a cada ano de expectativa de vida maior que o IBGE anote, a gente aumente três meses, quatro meses, na idade mínima para todas as categorias, inclusive guardando as diferenças dos trabalhadores rurais e dos urbanos, das mulheres e dos homens, porque isso é que é justiça. O maior problema do Brasil, se você me pedir numa palavra, é desigualdade. E a desigualdade no nosso país é pior do mundo. Entra governo, sai governo, a gente atenua, mas aí sobe, melhora um pouquinho, daqui a pouco escorrega que nem um pau de sebo, que também é um assunto bastante conhecido do Nordeste querido, de onde eu venho, e pra onde eu daqui a pouco vou de volta para encerrar a campanha na minha querida Sobral.

BONNER: Candidatos, muito obrigado. Candidato Ciro Gomes, o senhor pode permanecer. Pelo sorteio, é o senhor que vai fazer a próxima pergunta. O senhor pode escolher...

CIRO: Uma caminhadinha, né?

BONNER: O senhor tem esse direito, desde que o senhor diga a quem vai fazer a pergunta.

BONNER: Ah, é. Eu estou aqui involuntariamente provocando…

CIRO: Acabei de merecer ganhar o seu voto.

BONNER: É verdade, o senhor foi mais rápido do que o ponto eletrônico.

CIRO: É como eu vou governar o Brasil.

BONNER: Segurança é o tema da próxima pergunta. Agora sim, por favor, e perdão mais uma vez. Tem uma hora que o cansaço bate.

CIRO: Eu quero convidar o candidato Meirelles.

BONNER: Candidato Henrique Meirelles. Lembrando só o tema, é segurança, por favor.

CIRO: Meirelles, o Brasil assistiu, apatetadas as autoridades, a 63.888 homicídios nos últimos 12 meses oficialmente apurados. Quase todos os jovens, quase todos, negros, quase todos filhos da periferia das cidades brasileiras. 60 mil mulheres brasileiras foram estupradas, e é bom que a gente lembre que pode ser a nossa filha, a nossa mãe. Eu tenho uma filha e uma neta que são o meu orgulho, e que não foram resultado de nenhuma fraquejada, são o meu orgulho, razão da minha alegria. Qual a sua proposta para enfrentar isso?

MEIRELLES: O Brasil precisa antes de mais nada de um sistema unificado de segurança, porque o que está acontecendo hoje é que muitas vezes a polícia está andando atrás do crime organizado. Ou mesmo do crime comum. Então nós precisamos ter uma polícia bem formada. Hoje, como nós sabemos bem, muitas vezes a Polícia Militar não troca informação com a Polícia Civil, que não troca informações com a Polícia Federal e um estado não troca a informação com outro. Então nós temos que ter, antes de mais nada, um Sistema de Informação Unificada, controlado e administrado pela Polícia Federal. Segundo, e também muito importante, o estado tem que comprar o equipamento, contratar policiais. Nós temos aí estados brasileiros que passam dez anos ou mais sem contratar um policial, por falta de recurso. Então nós temos que garantir o crescimento econômico. Precisa ter uma política econômica bem feita, administrada para crescer. O estado vai arrecadar mais, ele vai ter condições, primeiro, de contratar efetivo; segundo de comprar equipamentos, comprar armamento. Finalmente nós temos que ter policiamento de fronteira para prevenir o contrabando. Tem já tecnologia para isso, existe o satélite geoestacionário que tem condições de dar informações em tempo real. O que precisa de novo é competência e inteligência.

CIRO: Eu fico muito feliz de estar ajudando a aclarar o debate brasileiro. Parte importante dessas idéias não são minhas, eu consultei especialistas, elas estão escritas no meu programa e eu fico feliz de vê-las repetidas na voz de pessoas ilustres que estão disputando comigo essa grave tarefa, porém maior de todas razões, de servir ao Brasil como seu presidente. Mas deixa eu dizer ao brasileiro e à brasileira que estão nos ouvindo: o governo Temer meteu na Constituição brasileira uma emenda que chama-se emenda 95. Por essa emenda 95, o Brasil está proibido, escute bem o que eu estou lhe dizendo, não tem exagero nenhum, proibido de expandir o gasto com saúde, educação, segurança e tudo mais por 20 anos. Portanto, se nós queremos mudar na direção de um sistema único baseado em inteligência e satélite, drone e infiltração, caminhar, percorrer o caminho do dinheiro, controlar as facções criminosas, é preciso revogar ainda 95.

MEIRELLES: Antes de mais nada, o gasto público brasileiro tem crescido numa escala descontrolada e é absolutamente normal que todo político, governante, gosta de gastar mais, portanto, qualquer limitação a gasto público tem grande reação. Mas é importante dizer que no Brasil o gasto com segurança, por exemplo, ou ainda mais importante, no gasto com saúde e educação não há um teto, isso é uma má informação. O que há é um piso, é o contrário, estabelecer um mínimo. O que há um teto é para a despesa com o desperdício, combate a privilégios e todo aquele tipo de coisas que nós temos que enfrentar com as reformas fundamentais que são tão importantes para o Brasil hoje, para dar segurança à população que o seu dinheiro é bem administrado, como você faz na sua casa.

BONNER: Candidato Meirelles, agora é a sua vez de permanecer. Obrigado, candidato Ciro. E eu vou sortear o tema para que o senhor faça a pergunta sobre “políticas sociais”, candidato. “Políticas sociais” é o tema da sua pergunta para o candidato Alckmin.

MEIRELLES: Candidato, no Brasil nós temos muitas carências e tem um programa de Bolsa Família que, aliás, existe porque o Brasil cresceu no período onde eu estava no Banco Central e isso permitiu a criação do Bolsa Família. Mas qual é a sua proposta para reforçar a política social e fazer com que menos pessoas precisem do Bolsa Família?

ALCKMIN: Olha, só tem um caminho, que é a retomada da economia, a retomada do emprego. Há uma crise de confiança, o investidor não investe porque não tem confiança, o consumidor também reduz o consumo e o país não cresce, perdendo a oportunidade que a economia mundial deve crescer perto de 4% quase este ano. O Brasil tinha que estar liderando esse trabalho. E isso nós vamos ter que resolver com as reformas. Elas são necessárias e quero destacar aqui, acho que a gente tem que falar a verdade para as pessoas, é a reforma política, essencial para o país poder avançar mais, reforma tributária, simplificar o modelo tributário, reforma previdenciária para acabar com privilégio, que é o regime geral de previdência do setor público e do setor privado, e a reforma de Estado. O Bolsa Família nasceu com o presidente Fernando Henrique, quando tinha o Bolsa Educação, Vale Gás e a Bolsa Saúde. Foi unificado no governo do PT e foi amplificada. Está correto e nós vamos manter o Bolsa Família e vamos fazer, Meirelles, um retorno automático. Hoje, às vezes, a pessoa não quer sair do Bolsa Família, porque tem medo de amanhã perder o emprego e não conseguir voltar para o Bolsa Família. Nós vamos garantir o retorno automático, para a pessoa poder, tendo oportunidade, conseguir um emprego. E trabalhar para o Brasil ter investimento. Crescer e ter emprego.

MEIRELLES: De fato, a melhor política social que existe é o emprego. Não há dúvida que alguém que não tem emprego, ou que não possa, ou que não tenha condições, é muito importante o Bolsa Família, é muito importante o programa social. Agora, a criação de emprego é que resolve de fato o problema de cada brasileiro. E é o aumento da renda de cada um. E isso se consegue sim uma política econômica bem sucedida. Uma política econômica de sucesso, que aumenta a sua renda, e tem condições de aumentar, inclusive, o valor do Bolsa Família, e permitir que as pessoas saiam também do Bolsa Família, para isso é preciso de competência. Eu sei como fazer, já mostrei que posso fazer isso, e eu peço uma oportunidade para que todos possam ver com que isto sim pode ser feito no Brasil, dar a oportunidade para aumentar a renda de toda a população.

ALCKMIN: Eu entendo que a questão social, ela envolve múltiplas aspectos. Habitação. Então nossa proposta são 3 milhões de moradias. A gente vai atender, de um lado, o emprego, que a construção civil gera muito emprego e casa para quem precisa. Aliás, São Paulo foi um exemplo: nós investimos 1% do ICMS só para habitação. Então, quem ganha um salário mínimo tem acesso à casa própria. Então, habitação. Saneamento básico: é a população mais pobre que mais sofre com a falta de saneamento básico. Nós adquirimos uma expertise em razão até da seca que sofremos no estado, e vamos fazer um grande programa de saneamento básico. E salário mínimo. Quero assumir um compromisso aqui com quem está nos assistindo: a política é para diminuir a desigualdade, para conseguir enxergar aquele que passa dificuldade. O salário mínimo vai crescer acima da inflação e vou mantê-lo à sua vinculação com a aposentadoria, pensão e benefício de prestação continuada.

BONNER: Candidatos, obrigado. Agora é a vez do candidato Guilherme Boulos vir ao púlpito e dirigir a pergunta a algum candidato a quem ele quiser sobre o tema saneamento.

BOULOS: O vou perguntar ao Alckmin.

BONNER: Candidato Alckmin, pode retornar, por favor.

BOULOS: Alckmin, quase metade da população brasileira não tem acesso ou à água limpa, ou o ao esgoto tratado, não têm acesso ao saneamento básico. Esse é um drama que afeta milhões de pessoas que, às vezes, têm uma vala no fundo da sua casa. Isso, inclusive, tem feito surgir epidemias no país. Vocês têm uma receita que é a da privatização. Eu queria saber de você: saneamento é um negócio ou é um direito?

ALCKMIN: Olha, primeiro destacar a importância do saneamento básico. Se a gente olhar o copo meio cheio ou meio vazio, o meio cheio é que as pessoas estão… Melhorou, as pessoas estão vivendo mais e vivendo melhor. Três coisas fizeram esse salto, a gente viver aí 77 anos, vai passar de 80. Primeira coisa foi água tratada. Água tratada. Segunda foi vacina. Terceira, antibiótico. Então, o saneamento básico é essencial para a saúde da nossa população. O que nós vamos fazer? Hoje, as empresas de saneamento, a maioria, 98 % delas, são estatais, ou municipal ou estadual, elas pagam PIS/PASEP e COFINS. É um absurdo, o governo federal tributa água e esgoto em um país que não tem água, 30% da população não tem água e metade da população praticamente não tem coleta de esgoto. Nós vamos devolver esse dinheiro para investimento em água e esgoto. Se você tiver um bom… São Paulo é estatal, a Sabesp é uma empresa estatal, mas se tiver um bom marco regulatório você, pode trazer investimento privado para poder investir mais. Nós precisamos é de investimento, colocar água dentro da casa das pessoas, coletar e tratar o esgoto sanitário. E quero trazer uma palavra sobre o Rio São Francisco que nós somos fazer em grande trabalho.

BOULOS: Olha, Alckmin. A Sabesp é uma estatal, mas foi aberta ao capital na Bolsa de Valores no seu governo. A água não pode ser mercadoria, a água tem que ser direito, não deve servir para o lucro. Esse é um ponto fundamental. Agora, a questão do saneamento também passa por investimento. Eles gostam de dizer que não tem dinheiro. Dinheiro tem, é que está mal distribuído e não chega aonde tem que chegar. Tem que fazer com que os ricos desse país comecem a pagar imposto. Pobre já paga demais, classe média já paga demais. Rico tem que começar a pagar. Talvez você não saiba, mas quem tem um carro paga imposto e IPVA; quem tem jatinho e helicóptero não paga R$ 1. Por isso nós vamos fazer uma reforma tributária para que comecem a pagar. E o centro da questão do saneamento é uma lógica urbana que joga os mais pobres sempre para mais longe, onde não tem infraestrutura, onde não tem nada. É preciso cumprir o estatuto das cidades, desapropriar imóveis abandonados das regiões centrais, porque o pobre tem o direito de morar no centro, onde tem saneamento e serviços públicos.

ALCKMIN: Olha, o saneamento básico é prioridade absoluta. Eu até me dediquei muito a isso em razão da seca que nós tivemos lá no estado de São Paulo. Nós vamos investir em saneamento, isso gera também muito emprego. A Sabesp é uma empresa estatal; o fato de ter acionista minoritário é ótimo, é governança corporativa. A Petrobras tem, Banco do Brasil tem, todas praticamente as estatais têm, você está capitalizando a empresa, investe mais e ela é controlada pelo Estado. O que precisa ter é um bom marco regulatório. Habitação, eu fiz a primeira PPP do país de habitação para retomar moradia no centro expandido de São Paulo, foi a primeira e muito bem sucedida, em áreas que estavam abandonadas. Voltamos e fizemos a 3,5 mil apartamentos, revitalizando a região central e a pessoa poder morar mais perto do seu trabalho. É isso que nós vamos levar para o Brasil, esses bons projetos que deram certo e vão beneficiar a população.

BONNER: Candidato Alckmin, agora é a sua vez. Eu peço ao senhor que permaneça. Eu vou sortear aqui o tema da próxima pergunta. É educação. E o senhor escolhe a qual candidato que vai dirigir.

ALCKMIN: Eu escolho Alvaro Dias.

BONNER: Candidato do Podemos, Alvaro Dias, pode vir ao púlpito. Pergunta sobre educação.

ALCKMIN: Nós temos, Alvaro, um grande desafio no Brasil, e há às vezes uma inversão de prioridades. Quer dizer, nós temos crianças fora do ensino infantil, da educação infantil, crianças de zero a cinco anos de idade, e o governo federal gasta muito pouco com a questão do ensino infantil. Para ter uma ideia, foram feitas pouco mais de 200 creches para o Brasil inteiro. Qual a sua proposta para a educação e mais a educação infantil?

ALVARO: Eu confesso, Alckmin, que às vezes eu fico constrangido em falar de propostas, porque eu acho que os brasileiros estão enjoados de nos ouvir todos os dias com essa enxurrada de propostas sem dizer como fazer. Sem o dinheiro para fazer, sem mudar o modelo que nós temos. Mas em respeito a você eu vou responder. Ali está o meu formulador, um dos formuladores, que é o Pedro, aliás, o Paulo Rabello, o meu vice-presidente, grande formulador de propostas, economista do ano... E nós temos uma proposta para a educação que começa valorizando a primeira infância. O grande investimento na primeira infância será, sem dúvida nenhuma, a grande prioridade do nosso governo. Investir com a instituição de mais 4 milhões de matrículas, desde o pré-natal até os 6 anos de idade. Educação, alimentação adequada, segurança, nós vamos com esse investimento certamente reduzir os índices de violência, os índices de corrupção no país, nós vamos melhorar os índices de produtividade e vamos influenciar no crescimento econômico do país. Porque o investimento nessa faixa etária de um dólar tem um retorno assegurado de 12 a 13 dólares. Essa é a nossa grande proposta.

ALCKMIN: Certa vez perguntaram a uma mãe qual dos filhos ela mais amava, e ela respondeu. Ela disse: o pequenino até que cresça, o doente até que sare, o ausente até que volte. O pequenino até que cresça. Eu quero ser o presidente da primeira infância. Nós vamos zerar o mais rápido possível, primeiro a pré-escola. Tem 440 mil crianças fora, de 4 e 5 anos de idade, fora da Emei e da pré-escola. Já deveria ter sido cumprido isso há três anos atrás. Nós vamos zerar o mais rápido possível. E as creches, ampliar ostensivamente, através de convênio com as prefeituras municipais e entidades da sociedade civil. E no ensino médio, para o jovem, implantar a reforma, que é uma reforma boa, dando oportunidade de ensino técnico, para ele já também conseguir um bom emprego ou ir para a universidade.

ALVARO: Nós vamos instituir, eu repito, 4 milhões de matrículas nas creches. Eu fui relator do Plano Nacional de Educação, e nós aqui deveríamos ter, já em 2017, 30% das crianças de zero a três anos nas creches, aliás, deveríamos ter 50%, temos 30%. Se continuarmos nesse ritmo, levaremos vinte anos para colocar todas as crianças na creche. Nós vamos instituir o vale-creche, ou cheque creche, para que a mãe possa escolher a creche privada ou, se preferir, leve à creche pública. E, em seguida, nós vamos instituir, criar, 500 centros de formação para o trabalho para atender um milhão de jovens que estarão preparados para a atividade profissional, já que hoje temos um perfil de emprego diferente, como a automação, e é preciso tirar esses jovens da marginalidade, e muitos deles da marginalidade, para o emprego com essa escola.

BONNER: Muito obrigado, candidatos. Agora é a vez da candidata da Rede, Marina Silva, se aproximar aqui do púlpito. Enquanto a senhora se aproxima, eu vou sortear aqui o tema da próxima pergunta. Desta vez eu acertei, hein candidato. A senhora vai fazer uma pergunta sobre impostos, e pode escolher a quem fazer, só não pode ser o candidato Alckmin, que já respondeu a duas.

MARINA: Guilherme Boulos.

BONNER: Candidato do PSOL, Guilherme Boulos. O tema é "Impostos", candidato.

MARINA: Boulos, nós estamos chegando à reta final dessa campanha e a sociedade está desolada. De um lado, dá um voto anti-PT, do outro, dá um voto anti-Bolsonaro. Boa parte disso tem a ver com a decepção. Uma delas é de pagar muitos impostos e ter péssimos serviços. Eu estou aqui para ser a candidata da esperança que quer ajudar o Brasil a sair da crise. Qual é a sua proposta para que o povo tenha a esperança do uso correto dos seus impostos?

BOULOS: Olha, Marina. Primeiro você tem razão quando diz que o trabalhador e a classe média já pagam impostos demais. Aliás, quem quer aumentar imposto para os mais pobres é o Jair Bolsonaro. O economista dele propôs uma alíquota de 20% para imposto de renda. Você que ganha R$ 2 mil, e hoje está isento, teria que pagar R$ 400 de imposto. Agora, se a gente olhar no andar de cima, acontece o contrário. O governo no Brasil é como se fosse um Robin Hood ao contrário. Ele tira dos mais pobres para dar para os mais ricos. Super rico no Brasil não está acostumado a pagar imposto, banqueiro não paga imposto, grande empresário paga muito pouco imposto. O bolsa empresário, por exemplo, é de R$ 283 bilhões em desonerações fiscais, liberou para o empresário não pagar. Isso dá dez vezes o valor do Bolsa família. Já disse aqui: quem tem um carro paga IPVA, quem tem um jatinho ou helicóptero não paga nada. Isso daria R$ 4 bilhões se arrecadarmos esse imposto, o que dá para fazer 100 mil casas populares. Nós temos que fazer com que quem tem menos pague menos, com que quem tem mais pague mais. Isso seria uma justiça tributária e é isso que nós vamos fazer. Esse dinheiro será investido em políticas sociais, em creches, em escola, em posto de saúde, em moradia popular e saneamento básico, que é o que o povo precisa.

MARINA: Eu quero dizer para vocês que a esperança que eu falo que eu sou é porque eu vou usar o imposto que você paga para que você possa ter educação de qualidade. Nós vamos criar a renda jovem, para que 2 milhões de jovens tenham uma poupança quando terminarem o ensino médio e passar no ENEM. R$ 3,7 mil para acabar com a evasão escolar. Nós vamos usar o seu imposto, o imposto que você paga, para que se tenha 2 milhões de vagas em creches, para que a mulher possa deixar o seu filho e estudar e trabalhar. Nós vamos usar o imposto, que você paga, para que você possa ter uma saúde de qualidade, ser atendido rápido, ser atendido com respeito, e na hora que você mais precisa.

BOULOS: Olha, Marina, de fato essa questão dos impostos é fundamental. Você sabe que um dos setores da economia que mais leva a farra das desonerações é o agronegócio: o ITR que é imposto territorial rural tem uma arrecadação minúscula no país. É menor do que a arrecadação de três meses do IPTU da cidade de São Paulo. Dizem que o agronegócio carrega o Brasil nas costas, a gente já ouviu aqui defesa a defesa do agronegócio nesse debate; é o contrário: é o Brasil que carrega o agronegócio nas costas como desonerações e isenções abusivas; 70% de tudo que a gente come vem da agricultura familiar; nós vamos fazer uma reforma agrária agroecológica para ter comida sem transgênico, sem agrotóxico, com desmatamento zero. Eu tenho muito orgulho de ter como vice a Sonia Guajajara, liderança indígena, para dizer o seguinte: que para nós, ao contrário do que se diz aqui na Globo, o agro não é pobre, o agro é tóxico, o agro mata.

BONNER: Terminada esta rodada, candidatos. Eu vou chamar então que se aproxime o candidato Alvaro Dias, enquanto eu sorteio aqui o tema da pergunta que o senhor vai fazer, candidato. É sobre “Corrupção”. E o senhor pode escolher a quem vai fazer a pergunta, só não pode ser o candidato Geraldo Alckmin, que já respondeu a duas questões.

ALVARO: Eu vou chamar o Haddad para responder essa pergunta.

BONNER: Candidato Fernando Haddad. Pergunta sobre corrupção. 30 segundos, candidato.

ALVARO: Fernando Haddad, eu sinto que há uma conspiração contra a Operação Lava Jato. Nesta campanha eleitoral especialmente eu vejo conspiradores que anunciam, inclusive, medidas que podem ser adotadas contra a Operação Lava Jato. E o povo brasileiro tem a Operação Lava Jato como a sua prioridade. Certamente temos que valorizá-la e, no seu governo, o que ocorrerá com a operação Lava Jato?

HADDAD: Eu agradeço a pergunta. Nós vamos fazer o que um governo tem que fazer.O governo tem que fortalecer os órgãos de combate à corrupção, que foi o que nós fizemos. A Polícia Federal nunca recebeu tanto apoio quanto na época dos nossos governos. Vou dar um exemplo para você, numérico: oito anos de governo Fernando Henrique e 40 operações especiais da Polícia Federal. Doze anos de governo do PT e 2.100 operações da Polícia Federal. Por que isso aconteceu? Liberdade para investigar, apoio à inteligência, carreira nova, contratação de pessoal, autonomia para a Polícia Federal. Ministério Público: sempre escolhemos o mais preparado para ser o procurador-geral da República. Anteriormente, engavetador-geral da República. Aquilo que chegava lá era engavetado, ou seja, sujeira para baixo do tapete. Depois que nós entramos, não tem mão na cabeça. O que precisa ser investigado é investigado, doa a quem doer. O que é errado? Partidarizar. Você não pode deixar um promotor ou um juiz querer incidir no processo eleitoral para beneficiar amigos e prejudicar inimigos. Tem que se fazer justiça a com muita seriedade.

ALVARO: Palavras soltas ao vento. À pouco eu vi o candidato Haddad afirmando que Lula está preso injustamente. As provas são cabais, definitivas, provas materiais, testemunhais, primeira instância, segunda instância, julgamento com transparência, com o direito de defesa. Há outros inquéritos em curso. Não há como admitir que alguém que pense isso durante a campanha eleitoral vá valorizar o Ministério Público, a Polícia Federal, vai modernizar a legislação para torná-la mais rigorosa no combate à corrupção. Quem diz que Palocci mente diante dos fatos que ele revela, certamente não será um presidente capaz de impor rigor no combate à corrupção. Com tantos escândalos de corrupção no governo do PT, o senhor diz que vai combater a corrupção sendo presidente?

HADDAD: Alvaro, a legislação que você elogia, e com razão, é toda do nosso período. Não houve nenhuma legislação anterior que fosse mais rigorosa do que a gente aprovou. Sabe quem elogiou a legislação que nós aprovamos? Os procuradores da Lava Jato, reconheceram que o governo fez o seu trabalho. E, repito, a sujeira que era posta para baixo do tapete, ela agora vem à tona para a gente corrigir as falhas do nosso sistema político. Quem vos fala, Álvaro, é aquele que criou a controladoria geral do município em São Paulo que recuperou 300 milhões de reais de dinheiro desviado de outras administrações. Máfia do ISS, o túnel da Água Espraiada, dinheiro do Maluf das ilhas Jersey, que foram retomados. É uma pessoa que recuperou dinheiro desviado, que diz que vai combater a corrupção.

BONNER: Candidatos, muito obrigado. Estamos terminando assim as rodadas de perguntas entre os candidatos. E, a partir de agora, cada um vai ter um minuto para deixar a sua mensagem aos eleitores. Essa ordem também foi estabelecida por um sorteio previamente. O primeiro é o candidato Geraldo Alckmin, do PSDB. Candidato, por favor, um minuto aqui no púlpito para suas considerações finais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: GERALDO ALCKMIN - ASSISTA

ALCKMIN: Olha, uma palavra de agradecimento à população brasileira. Percorri o Brasil do Oiapoque ao Chuí, todas as regiões do Brasil. O carinho, a receptividade. Isso me lembra Câmara Cascudo, que dizia: “O melhor produto do Brasil ainda continua sendo os brasileiros”. Povo maravilhoso. Agradecer a toda a equipe que nos ajudou e a duas mulheres, Ana Amélia Lemos, a nossa candidata a vice-presidente da República, e a minha querida Lu, esposa há 40 anos, que nos acompanhou em toda esta jornada. Pedir o voto de vocês. Agora que vai decidir: 20% do voto decide nos últimos dias. Peço o seu voto para que a gente saia desse triste resultado que tem tido até agora, do radicalismo, do ódio, do preconceito, que não vai levar a nada. Acumulei experiência e espírito público para trabalhar pelo Brasil. Que Deus nos abençoe.

BONNER: Candidato, muito obrigado. agora é a vez do candidato do Podemos, Alvaro Dias, se dirigir ao seus eleitores. em um minuto, candidato, por favor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: ALVARO DIAS - ASSISTA

ALVARO: Muito obrigado por esse apoio, por essa energia. Confesso que trabalhei a vida toda no meu estado e no Senado para ganhar o respeito da nossa gente. Estou de consciência tranquila, combati corrupção, sim, a minha vida toda, prendi gente como governador, cancelei licitações fraudadas, anulei aposentadorias imorais e acabei com privilégios. Acabei com os meus próprios privilégios: não recebo aposentadoria de ex-governador, não recebo auxílio-moradia, não recebo verba indenizatória. Quero mudar o Brasil com seu apoio. Eu sei: o Brasil só muda se nós trabalharmos com ética, com correção, com honestidade. Trabalharei duro quatro anos para deixar um legado de mudança para o povo brasileiro, especialmente para os pobres desse país. Dezenove.

BONNER: Muito obrigado, candidato. Candidato Ciro Gomes, do PDT, pela ordem estabelecida em sorteio pode se dirigir aos eleitores para sua mensagem final, candidato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: CIRO GOMES - ASSISTA

CIRO: Há quatro anos o nosso país está parado, paralisado por uma crise política assentada no ódio, no desfazimento de um pelo outro, e agora esse filme parece que está querendo se repetir. Eu teria muita vontade de agradecer, de fazer um carinho, de passar o meu olho no meu coração por todo o território brasileiro que eu conheço tão bem, mas esse é o ponto. Essa divisão não vai permitir que o Brasil supere a sua crise. Essa divisão tende a aprofundar essa crise grave e nós temos clareza hoje. O que está posto aí pelas pesquisas é um empate entre Haddad e Bolsonaro. Eu ali chegando no terceiro lugar, as coisas melhorando, mas ainda no terceiro lugar. Aprofundar essa divisão simplesmente não permitirá ao Brasil se reconciliar e trabalharmos aquilo que interessa. Eu peço humildemente uma oportunidade. Sou ficha limpa, tenho experiência e uma proposta para resolver os problemas brasileiros. Ganho do Haddad e do Bolsonaro no segundo turno com grande folga, mas preciso do seu voto no primeiro turno, para ser presidente de todos os brasileiros.

BONNER: Candidato, muito obrigado. Agora é a vez do candidato Henrique Meirelles, do MDB, também com um minuto para se dirigir aos eleitores em sua mensagem final desse debate.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: HENRIQUE MEIRELLES - ASSISTA

MEIRELLES: Agora é o momento de comparar, é o momento em que nós temos para definir qual será o Brasil dos próximos anos. E eu lhe peço que compare competências, compare história. Eu trabalhei 33 anos em empresas, dez anos em governo e nunca tive uma denúncia de corrupção. E ódio não gera emprego. Vingança não cria segurança, nem educação, nem lhe dá boa assistência de saúde. O que o Brasil precisa agora é de confiança, porque confiança traz crescimento, traz emprego, traz renda. E confiança não se compra. Confiança se conquista, com uma vida de competência, de trabalho sério, de trabalho honesto e de credibilidade. Chame o Meirelles, peço o seu voto.

BONNER: Obrigado, candidato. Agora é a vez. Silêncio, por favor. Por favor, silêncio. Agora, o candidato Fernando Haddad, do PT, é o próximo a se dirigir aos eleitores para endereçar a sua mensagem final.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: FERNANDO HADDAD - ASSISTA

HADDAD: Eleitor, eleitora, agradeço a sua atenção. Sou neto de um líder religioso, sou filho de um agricultor familiar. E aprendi com meu pai que um homem e uma mulher tem que acordar e saber para onde ir. Precisa ter trabalho ou educação, ou as duas coisas. É muito ruim um brasileiro, ou uma brasileira, acordar e não ter destino. Aprendi com o Lula que é possível oferecer essa oportunidade para todos, sem exceção, sobretudo para quem mais precisa. Portanto, as minhas obsessões durante os quatro anos de mandato vão ser trabalho e educação para todos. Não há nenhum problema no Brasil que não se resolva com trabalho e educação. Aprendi isso com meu pai, vou seguir esse princípio à risca até o fim do meu mandato. Muito obrigado. Conto com o seu voto. Vote 13.

BONNER: Obrigado, candidato. E agora é a vez da candidata Marina Silva, da Rede. Na ordem determinada pelo sorteio de que participaram seus assessores antes desse debate. Candidata, um minuto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: MARINA SILVA - ASSISTA

MARINA: Eu quero agradecer a Deus por ter participado dessa campanha e agradecer a Deus por não ter caído na tentação de ir pela porta larga que leva ao caminho da perdição, do ódio, da mentira, das falsas promessas que, depois que se ganha, não tem como ser cumprida. Eu estou aqui porque eu sei que eu sou uma pacificadora. Uma pacificadora que muitas vezes é mal compreendida porque as pessoas entendem quem tem uma postura de amor no coração e respeito pelo próximo como se fosse uma pessoa fraca. Esse país não está precisando de força física, esse país precisa de força moral, precisa de respeito com o seu dinheiro, com a Constituição, com a diversidade religiosa, com a diversidade cultural. Eu estou aqui porque eu sei que eu sou a melhor pessoa para o unir o Brasil e eu estou pronta para governar o Brasil e unir os brasileiros a favor de um Brasil próspero para todos.

BONNER: Muito obrigado. Por fim, na ordem determinada em sorteio, é a vez do candidato do PSOL, Guilherme Boulos, com um minuto, candidato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: GUILHERME BOULOS - ASSISTA

BOULOS: Eu quero agradecer a toda a militância dessa nossa aliança, que construiu junto a jornada até aqui. Quero agradecer a você, que está nos assistindo. Chegou a hora da sua decisão. Domingo é dia de barrar o atraso, não vote com ódio. Naquela urna só vai estar você, a sua consciência e o seu sonho. Não vão estar ali os seus amigos do WhatsApp, não vai estar ali o seu patrão. Vote com esperança. Pense nos seus filhos. Pense no futuro, se você quer um futuro sem direitos, um futuro com a violência e com ódio. Não vote com ódio, mas também não vote com medo. Nós só vamos mudar o Brasil enfrentando de verdade os privilégios e mudando o jeito de fazer política. Nós não vamos desistir dos nossos sonhos, nós temos lado. Se você está nesse mesmo lado, vote no que você acredita, vote 50. Vote nos deputados e senadores e governadores do PSOL e do PCB. Vote com esperança, vote Boulos 50.

BONNER: Candidato, muito obrigado. Bom, faltam 15 para a 1h da manhã de sexta-feira no horário de Brasília. Nós estamos encerrando aqui esse último debate entre os candidatos à Presidência da República antes da votação de domingo. Agradecemos aos candidatos que nos prestigiaram aqui com a sua presença. Agradecemos aos convidados aqui, que se comportaram tão bem, muito obrigado. Peço desculpas pelas minhas próprias falhas aqui. E a você, claro, que em casa se manteve aí, acompanhando tudo até agora, faltando menos de 60 horas para o início da votação. Muito obrigado a todos. Boa noite e um bom voto no domingo.

Fonte: G1

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