
Milhões de litros de combustível adulterado vendidos em todo o país e um prejuízo de mais de R$ 7,6 bilhões em impostos para os cofres públicos. Esse é o balanço inicial da Operação Carbono Oculto, deflagrada nesta quinta-feira (28) pela Polícia Federal e Receita Federal, que já prendeu seis pessoas, um deles, um ex-policial. O alvo: um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis operado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).
As investigações revelaram que o PCC agia em várias etapas da cadeia de combustíveis, desde a importação irregular de produtos químicos para adulterar a gasolina e o diesel até a distribuição em postos. As autoridades estimam que mais de 300 postos estejam envolvidos nas fraudes, mas o setor calcula que o número real pode ser bem maior, chegando a 2.500 estabelecimentos somente no estado de São Paulo.
Esquema de lavagem de dinheiro e prisões
O esquema de lavagem de dinheiro do PCC se estendia ao mercado financeiro. A Receita Federal identificou 40 fundos de investimentos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, controlados pela facção, que utilizava membros infiltrados na Avenida Faria Lima, em São Paulo, para ocultar os bens.
Até o momento, a polícia cumpriu seis dos 14 mandados de prisão preventiva. Entre os presos estão:
João Chaves Melchior, ex-policial civil, detido em Paulínia (SP).
Ítalo Belon Neto, empresário do setor de combustíveis.
Rafael Bronzatti Belon, dono da empresa de serviços financeiros Tycoon Technology e do banco digital Zeit Bank.
Thiago Augusto de Carvalho Ramos, empresário do setor de combustíveis de Curitiba.
Rafael Renard Gineste, sócio-administrador na F2 Holding Investimentos, no Paraná.
Renato Renard Gineste, empresário do setor de combustíveis.
As autoridades ainda procuram outras oito pessoas, consideradas peças-chave no esquema, incluindo:
Mohamad Hussein Mourad, conhecido como "João" ou "Primo", apontado como o "epicentro" da organização.
Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto Louco", considerado um dos "colíderes".
Daniel Dias Lopes, ligado a distribuidoras de combustíveis de Mohamad.
Miriam Favero Lopes, esposa de Daniel e sócia em empresas do esquema.
Felipe Renan Jacobs, empresário do setor.
Rodrigo Renard Gineste, dono de uma varejista de roupas.
Celso Leite Soares, proprietário de uma empresa de cultivo de cana-de-açúcar.
A operação acontece simultaneamente em oito estados: São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
PCC lavava bilhões em esquema com combustível e fintechs, aponta investigação
O PCC usava a importação de metanol e a adulteração de combustíveis para gerar lucros bilionários, que eram depois lavados em um complexo esquema financeiro que envolvia até mesmo o mercado da Faria Lima, em São Paulo. Essa é a conclusão da Operação Carbono Oculto, que mobilizou a Polícia Federal, Receita Federal e outros órgãos de oito estados brasileiros para desarticular a organização criminosa.
Como funcionava o esquema
As investigações do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) revelaram que a fraude começava na importação irregular de metanol, uma substância altamente tóxica e inflamável. O produto, que chegava pelo Porto de Paranaguá (PR), era desviado para postos e distribuidoras, onde era misturado à gasolina e ao diesel, adulterando o combustível.
Além disso, as investigações apontaram que os criminosos também praticavam fraudes quantitativas, vendendo volumes menores do que o consumidor pagava. Alguns proprietários de postos que venderam seus estabelecimentos para a rede criminosa sequer receberam o valor da transação e foram ameaçados de morte ao tentar cobrar.
O dinheiro das fraudes era lavado em uma complexa rede de empresas de fachada, fundos de investimento e instituições de pagamento. Segundo os investigadores, uma parte dos lucros foi usada para comprar usinas sucroalcooleiras, distribuidoras, transportadoras e postos de combustível, ampliando a estrutura criminosa.
Fintechs bilionárias e lavagem de dinheiro
A lavagem de dinheiro passava por fintechs controladas pelo crime organizado, que operavam como um "banco paralelo" para o PCC. Pelo menos 40 dessas empresas financeiras foram identificadas, com um patrimônio de R$ 30 bilhões. Elas financiavam a compra de postos, caminhões, usinas de álcool, fazendas e até casas de luxo, utilizando uma contabilidade paralela que dificultava o rastreamento do dinheiro.
Segundo a Receita Federal, essas instituições de pagamento permitiam transferências entre empresas e pessoas físicas sem que os beneficiários fossem identificados, o que facilitava a ocultação do dinheiro. O uso de fundos de investimento com cotista único, muitas vezes outro fundo de investimento, também era uma tática para blindar o patrimônio.
Força-tarefa para recuperar o prejuízo
O Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (CIRA/SP) vai pedir o bloqueio de bens dos envolvidos para recuperar os R$ 7,6 bilhões em impostos sonegados.
A operação é uma ação coordenada do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Receita Federal, Secretaria da Fazenda de SP, Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo (PGE-SP).
Fonte: Uol e G1