Laís Souza aprendeu a superar a deficiência por conta do acidente que a deixou tetraplégica em janeiro de 2014 combatendo-a de igual pra igual. "Percebi que não adiantaria ficar lamentando. Fui tocar minha vida. Buscar alternativas para ser feliz", diz Laís, em entrevista exclusiva ao Esporte ao Minuto.
Atleta de ponta da ginástica brasileira, medalhista panamericana e com duas olimpíadas no currículo, ela decidiu dar um novo rumo à carreira. Em 2013, passou a treinar esqui aéreo nos Estados Unidos.
Como qualquer esporte de inverno, o esqui não é muito conhecido no Brasil. De 1924, quando os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno aconteceram em Chamonix, na França, até Sochi, na Rússia, em 2014, foi representado por apenas 34 atletas brasileiros nas competições, contra 2.683 nos jogos de verão. E as medalhas passaram sempre muito longe. A melhor colocação do Brasil até hoje foi com Isabel Clark, no snowboard, que conseguiu em nono lugar em Turim 2006, contra 128 pódios nos Jogos de Verão.
Apesar das dificuldades e da impossibilidade de treinar perto de casa, Laís garantiu sua vaga para a Rússia, em 2014. Mas pouco antes do início das Olimpíadas, o acidente interromperia seu sonho.
“Eu não me desesperei. Fui tentando entender aos poucos o que estava acontecendo e com ajuda da minha família eu consegui superar aqueles momentos difíceis que passei no hospital”, comenta Laís sobre como é acordar após o trauma.
A rotina de fisioterapia é incessante. Os avanços, mesmo os pequenos, são celebrados:
“Da última vez que fui ao EUA, nós encontramos um esboço de bíceps no lado direito e isso me deixou muito feliz. Qualquer avanço tem que ser comemorado”, diz Laís sobre seu tratamento com células-tronco.
Esporte ao Minuto - Como você se define antes e depois de 2014? Passada a fase inicial de reconhecimento, o que mudou no que diz respeito à dedicação, importâncias dadas às ações do dia a dia, entre outros detalhes de sua vida?
Laís Souza - Eu me defino como uma pessoa melhor, mais resistente e com mais experiência, mas sou tetraplégica. Ainda venho me readaptando e dando muito valor às pequenas coisas que posso fazer. A cada dia venho me superando, trabalhando, estudando e me dedicando à fisioterapia.
Esporte ao Minuto - A força, a garra da Laís de hoje, é a mesma da que a Laís tinha em competições? O treinamento para conseguir vencer barreiras impostas pelo acidente exige a mesma dedicação?
Laís Souza - Hoje tem que ser mais intenso ainda e com mais garra do que anteriormente. O meu maior adversário é a deficiência.
Esporte ao Minuto - Como está o tratamento, atualmente? As etapas são mais difíceis de serem superadas após os avanços iniciais?
Laís Souza - Está em evolução todos os dias, porém a dose de superação tem que ser constante. As evoluções acontecem lentamente, por isso tem que ter muita paciência e dedicação.
Esporte ao Minuto - Como foi a adaptação no Brasil após ter vindo dos EUA? A vida no Brasil para uma pessoa com deficiência é muito diferente? Acredita que a criação de secretarias, investimentos municipais, estaduais, pode ajudar nessa melhoria?
Laís Souza - A adaptação foi rápida por conta do apoio da minha família e meus amigos. Acho que uma conscientização maior da população ajudaria muito não só a mim, mas a todas as pessoas que passam pelo que eu estou passando.
Esporte ao Minuto - Acordar com a notícia do que havia acontecido após o acidente te desesperou em algum momento ou a esperança e a teimosia, palavra já mencionada por você, foram as primeiras no vocabulário após a realidade do que havia ocorrido?
Laís Souza - Eu não me desesperei. Fui tentando entender aos poucos o que estava acontecendo e com ajuda da minha família eu consegui superar aqueles momentos difíceis que passei no hospital.
Esporte ao Minuto - Como a psicologia funciona na sua vida? Você pretende usá-la para ajudar também?
Laís Souza - A psicologia vem aquecendo muito o meu conhecimento e pretendo entrar para área do esporte futuramente para ajudar. Estou cursando a Faculdade na Estácio e gostando muito.
Esporte ao Minuto - Você aparentou ser muito consciente de suas escolhas. Tem algum arrependimento?
Laís Souza - Por enquanto nenhum arrependimento. Entendo tudo como aprendizado.
Laís recentemente publicou um vídeo que mostra a evolução de seu quadro. E sua mensagem mostra que ela - que já disse que nunca irá se adaptar à cadeira de rodas, mas sair dela - deixa o abatimento sempre de lado.
"Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito"
Fonte: Notícias ao Munuto