
O Supremo Tribunal Federal (STF) está prestes a revisar uma questão fundamental relacionada à Lei da Anistia e aos crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985), especificamente no caso da morte do ex-deputado Rubens Paiva.
O julgamento, que pode ter repercussões jurídicas e políticas significativas, abordará se violações graves de direitos humanos, como tortura e homicídio, cometidas pelo Estado, podem ser excluídas da Lei da Anistia, que atualmente impede a punição de agentes do regime militar.
O caso de Rubens Paiva, desaparecido em 1971 após ser preso e torturado por militares, é central nessa discussão. Paiva foi sequestrado por agentes do Estado e, de acordo com médicos e testemunhas, morreu sob tortura no DOI-Codi, em São Paulo. Seu corpo nunca foi encontrado, e a versão oficial do governo militar na época alegava que ele teria fugido durante uma tentativa de transferência.
A reabertura da investigação sobre sua morte, que foi arquivada sob a alegação de que os crimes estavam cobertos pela Lei da Anistia, foi solicitada pelo Ministério Público Federal (MPF).
O MPF argumenta que os crimes cometidos pelo Estado têm caráter permanente e, portanto, não poderiam ser enquadrados na anistia, uma vez que se configuram como violações contínuas, como o sequestro, cárcere privado e tortura. Esse entendimento foi reforçado após tratados internacionais de direitos humanos, que o Brasil ratificou, colocarem a responsabilidade do Estado em um novo foco.
O STF, que já reconheceu a repercussão geral do caso, tem agora a responsabilidade de decidir se revisará ou manterá a jurisprudência estabelecida de que a Lei da Anistia é constitucional. Se a Corte decidir que crimes como tortura e homicídio qualificado não devem ser anistiados, isso abrirá a possibilidade de reabertura de casos semelhantes e afetará a punição de outros crimes cometidos durante o regime militar.
Caso contrário, a decisão reafirmará o entendimento de que a anistia se aplica a esses atos, encerrando de vez as investigações e processos.
O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, será responsável por conduzir o julgamento, que envolve não apenas a morte de Rubens Paiva, mas também outros dois casos de opositores políticos assassinados durante a ditadura. Esses casos foram recorridos por instâncias inferiores que decidiram pelo arquivamento com base na Lei da Anistia.
Além de sua relevância jurídica, o caso de Rubens Paiva ganhou nova visibilidade devido ao sucesso internacional do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que concorre a prêmios no Oscar de 2025. A obra, baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado, reavivou o debate sobre as vítimas da repressão militar e pode influenciar a percepção pública da decisão do STF.
Fonte: Brasil 247