
Duas estudantes de medicina são acusadas de expor e debochar de uma paciente em estado grave, internada no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, poucos dias antes de sua morte. O caso veio à tona após a publicação de um vídeo no TikTok, no dia 17 de fevereiro, em que Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano comentam, com ironia e suposições, o histórico de transplantes de Vitória Chaves da Silva, de 26 anos. A paciente morreu nove dias depois, em 28 de fevereiro, por choque séptico e insuficiência renal crônica.
No vídeo, as alunas relatam que a jovem havia recebido três corações diferentes ao longo da vida e sugerem que um dos transplantes falhou por negligência da própria paciente, insinuando que ela não teria seguido corretamente o uso de medicamentos imunossupressores. Sem mencionar o nome de Vitória, as duas fornecem detalhes que permitiram a identificação do caso. O vídeo foi visualizado 212 mil vezes no TikTok e foi retirado do ar nesta terça-feira (08).
No vídeo, Thaís diz: “Um transplante cardíaco já é burocrático, já é raro, tem a questão da fila de espera, da compatibilidade, mil questões envolvidas. Agora, uma pessoa passar por um transplante três vezes, isso é real e aconteceu aqui no Incor.” Gabrielli completa, atribuindo a falha do segundo procedimento à própria paciente: “A segunda vez ela transplantou e não tomou os remédios que deveria tomar, o corpo rejeitou e teve que transplantar de novo, por um erro dela.”
Na sequência, Thaís debocha: “Essa menina tá achando que tem sete vidas.”
As estudantes ainda dizem que iriam até o quarto da paciente para tentar conversar com ela, expondo que ela estava internada no hospital naquele momento.
A família de Vitória foi informada sobre o conteúdo dias depois, quando um amigo reconheceu as referências e avisou a irmã da jovem. A mãe, Cláudia Aparecida da Rocha Chaves, reagiu com indignação e afirma que as informações divulgadas são falsas: “O que elas dizem é inverídico e temos provas de tudo, que ela [Vitória] seguia o tratamento à risca.”
A família registrou boletim de ocorrência, acionou o Ministério Público de São Paulo (MPSP) e denunciou o caso ao próprio Incor. Segundo Cláudia, Vitória lutou com disciplina e esperança pela vida, e jamais descuidou de sua medicação ou das consultas: “Ela nunca faltou numa consulta sequer. Minha filha tinha sede de viver. Tudo o que ela queria era viver. Aí vem uma pessoa e diminui a história dela. Eu não aceito. Quero Justiça.”
Em nota, o Incor afirmou que repudia veementemente qualquer atitude que viole princípios éticos e de confidencialidade, e que está apurando rigorosamente o caso, adotando as medidas cabíveis. A Faculdade de Medicina da USP informou que as estudantes não têm vínculo com a instituição, pois estavam apenas participando de um curso de extensão de curta duração. As universidades de origem foram notificadas para que tomem providências.
Diagnóstico
Vitória foi diagnosticada ainda bebê com uma cardiopatia rara chamada Anomalia de Ebstein. Aos 5 anos, passou pelo primeiro transplante de coração, após um ano e quatro meses na fila. Em 2016, um novo transplante foi necessário. Em 2019, ela sofreu rejeição aguda do órgão e, em 2023, precisou também de um transplante de rim. O terceiro transplante cardíaco foi realizado em 2024, mas o tratamento afetou os rins e culminou em sua morte.
Agora, sua família exige que as estudantes se retratem publicamente pela exposição e pelo conteúdo considerado ofensivo e desrespeitoso à memória da jovem. Até o momento, as alunas e suas defesas não foram localizadas para comentar o caso.
Veja o vídeo abaixo:
Fonte: Metrópoles