Geral

73% das meninas dizem que a violência de gênero é a maior barreira para a igualdade

Meninas também destacaram que a pandemia de Covid-19 colocou imensa pressão sobre elas, sobretudo com o fechamento das escolas

Sexta - 14/08/2020 às 08:56



Foto: ONU Brasil Meninas
Meninas

Meninas do mundo todo acreditam que a violência de gênero é a maior barreira que elas enfrentam. É o que atrasa suas vidas, de acordo com uma pesquisa realizada pela Plan International, organização humanitária que se dedica a garantir os direitos e promover o protagonismo das crianças, adolescentes e jovens, especialmente das meninas. O estudo foi realizado no contexto da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, da Organização das Nações Unidas (ONU), que em 1995 estabeleceu uma agenda abrangente e visionária para os direitos das mulheres e a igualdade de gênero. Este ano, a declaração completa 25 anos.

Como parte de um processo de revisão do que foi estabelecido no plano da Declaração, meninas e mulheres fazem parte da campanha Geração Igualdade, da ONU. As jovens integram a iniciativa Plataforma de Ação das Meninas. Foi neste cenário, e em meio à pandemia de Covid-19, que a pesquisa da Plan International foi realizada. O levantamento vai apoiar as meninas a elencar as questões-chave que elas desejavam ver abordadas nos eventos da comemoração do 25º aniversário da Declaração de Pequim, que foram adiados para 2021.

Durante o primeiro semestre do ano, o estudo ouviu 1.147 meninas com idades entre 14 e 19 anos. Elas responderam a um questionário on-line e 350 delas participaram de uma pesquisa qualitativa mais profunda. As jovens são de 12 países: Bolívia, Colômbia, El Salvador, Equador, Filipinas, Libéria, Nepal, Paraguai, Quênia, República Dominicana, Serra Leoa e Uganda.

As meninas se debruçaram sobre as 12 áreas delineadas pela Declaração de Pequim para considerar quais são as mais críticas atualmente. Em todos os países, 70% das meninas apontaram que a violência contra meninas e mulheres é a principal questão, seguidas de pobreza (42%), poder e tomada de decisão (36%), educação e treinamentos (32%), infância das meninas (28%), saúde (25%), direitos humanos (23%) e economia (23%).

O estudo aprofundou a percepção das meninas sobre a violência baseada em gênero. Três a cada quatro meninas (73%) apontam que esta é a questão de prioridade máxima, especialmente para as que vivem em áreas rurais. Um sentimento comum entre elas é o de que a menos que a violência e o abuso cometido contra elas sejam resolvidos, o progresso em outras áreas fica prejudicado. As meninas disseram que a situação estava piorando com a pandemia de Covid-19, já que as necessárias medidas de isolamento social acabaram colocando as meninas em risco de violência doméstica e permitindo que os agressores fugissem da justiça.

“Nada sobre as meninas, sem as meninas. Este é o pedido daquelas que participaram da pesquisa representando seus países, bem como as demais meninas no mundo todo. Entre as prioridades elencadas, elas colocaram a violência baseada em gênero como primeira, ressaltando que o acesso delas à justiça e proteção é insuficiente e precisa ser aprimorado. Sabemos que o primeiro passo é falarmos sobre este tema, trazermos para conhecimento e consciência de todos e todas a questão sobre insegurança e a impunidade em nosso país, compartilhando a responsabilidade em cuidar destas crianças”, afirma Cynthia Betti, diretora-executiva da Plan International Brasil. 

Na pesquisa, as meninas descreveram a violência como algo inevitável em suas vidas diárias em casa, na escola, nas ruas e nos transportes públicos. As entrevistadas acreditam que a violência de gênero é algo que predetermina alguns resultados na vida de meninas adolescentes.

“Não podemos aceitar que continuemos ocupando posições em destaque nos rankings como casamento infantil, exploração sexual, abuso sexual e feminicídio. Temos que escutar o que as meninas têm a dizer e criar condições para mudar esta realidade, junto com elas”, ressalta Cynthia.

A pesquisa aponta que entre os tipos de violência que as meninas já sofreram ou conhecem casos de outras meninas estão a violência sexual (83%), violência doméstica (75%), gravidez precoce (66%), casamento infantil (66%), assédio em público (66%), feminicídio (50%), exploração sexual (41%), violência psicológica (33%) e assédio on-line (33%).

Outras demandas das meninas incluem investimento e apoio à liderança de meninas, permitindo o acesso a plataformas de liderança; garantia do Ensino Médio gratuito e equitativo; e investimento na área de saúde e direitos sexuais e reprodutivos – inclusive acesso a produtos sanitários gratuitos, acesso ao aborto seguro e legal e aos contraceptivos essenciais. 

“Já não sei mais quantas oportunidades perdi ao perceber o risco de violência de gênero. Devo me preocupar com o horário de voltar, porque o medo de ser violentada é maior que qualquer coisa. Não falo só por mim, mas por várias meninas que se sentem reprimidas dentro e fora de casa. Minha vida gira em torno dessa violência. Quando saio, não me preocupo somente com a roupa que me deixa satisfeita. Devo pensar em uma roupa que não sirva de justificativa (e não é) para olhares maldosos, palavras e gestos obscenos, diz Bruna, de 19 anos, participante de projetos da Plan International Brasil, em São Luís, no Maranhão. 

“Muitas vezes deixamos de fazer o que gostamos simplesmente por medo de receber um comentário maldoso, piadinhas e de ser violentada. Foram muitas as vezes em que tive que apressar o passo ao descer do ônibus, que precisei ligar para a minha mãe ir me buscar em algum lugar porque eu não me sentia segura o suficiente pelo simples fato de ser menina e estar sozinha. Em inúmeras vezes andando sozinha na rua, com a cabeça baixa, pensei que se eu não fosse menina, não precisaria ter tanto medo”, diz Auricelia, de 18 anos, participante de projetos da Plan International Brasil em Teresina, no Piauí. 

Os efeitos da pandemia de Covid-19

O relatório mostra que o fardo econômico da pandemia de Covid-19 colocou imensa pressão sobre as famílias em todo o mundo e sobre as meninas em particular, com 63% delas citando o fechamento de escolas como uma preocupação imediata na pandemia. As adolescentes enfrentam responsabilidades domésticas cada vez maiores e o seu acesso à educação é negado – o que não acontece com os meninos. As meninas têm um sentimento de abandono e inferioridade e a pandemia pode acabar com o progresso alcançado nos 25 anos desde a Declaração de Pequim. 

“A mensagem das meninas é alta e clara – o progresso é muito lento e só será mais rápido se as pessoas com o poder de trazer mudanças finalmente se envolverem de forma significativa com as meninas, reconhecerem sua experiência, ouvirem suas demandas e as verem como parceiras iguais”, afirma Anne-Birgitte Albrectsen, CEO da Plan International.

A pandemia representa um risco real para o avanço de meninas e mulheres. O estudo ressalta que a igualdade de gênero e os direitos das mulheres estão ligados ao reconhecimento dos direitos das meninas e às ações necessárias para realizá-los. Um trecho da pesquisa destaca: “é difícil fazer mudanças radicais na sociedade e na vida das mulheres se não começarmos a enquadrar as mudanças necessárias durante a adolescência. A adolescência é uma fase altamente significativa na vida das meninas e onde sua direção futura é determinada. Também pode ser um momento em que as expectativas e atitudes sociais tradicionais começam a restringir sua visão de mundo e restringir suas ambições. Se as meninas serão capazes de assumir seu lugar como cidadãs iguais no mundo, dependerá em grande parte se os governos e a sociedade estão em parceria para permitir que alcancem seu pleno potencial”.

Sobre a Plan International

A Plan International é uma organização humanitária, não-governamental e sem fins lucrativos que promove os direitos das crianças e a igualdade para as meninas. Acreditamos no potencial de todas as crianças, mas sabemos que isso é muitas vezes reprimido por questões como pobreza, violência, exclusão e discriminação. E as meninas são as maiores afetadas. Trabalhando em conjunto com uma rede de parcerias, enfrentamos as causas dos desafios de meninas e crianças em situação vulnerável. Impulsionamos mudanças na prática e na política nos níveis local, nacional e global, utilizando o nosso alcance, a nossa experiência e o nosso conhecimento. Construímos parcerias poderosas há mais de 80 anos e que se encontram hoje ativas em mais de 70 países.

Sobre a Plan International Brasil

A Plan International chegou ao Brasil em 1997. Desde então, se dedica a garantir os direitos e promover o protagonismo das crianças, adolescentes e jovens, especialmente meninas, por meio de seus projetos, programas e ações de incidência e de mobilização social. Tem também viabilizado condições de subsistência em comunidades que sequer tinham acesso a recursos essenciais, como a água. Implementamos projetos no Maranhão, no Piauí, na Bahia e em São Paulo. Nossas estratégias, atuando em rede com outras organizações do terceiro setor e movimentos sociais, têm pautado as demandas das meninas em novos espaços do Legislativo, Executivo e na sociedade civil, alcançando todo o território nacional. Considerada uma das organizações mais confiáveis do país, a Plan International Brasil recebeu em 2020 a certificação A+ no Selo Doar Gestão e Transparência. Mais informações: www.plan.org.br

Siga nas redes sociais

Compartilhe essa notícia: