Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Mamirauá e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) mostra que os peixe-bois anazônicos se adaptam aos níveis dos rios e sabem exatamente o momento de migrarem para áreas em que terão refúgio durante o período de seca na região.
"Eles têm uma grande percepção de todo o ambiente, são animais que vivem em uma água turva e conseguem decidir quando é o momento de partir", afirma a coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, Miriam Marmontel.
O grupo de cientistas analisou, durante onze anos, o trajeto da espécie para entender melhor o papel da variação da profundidade das águas nesse processo migratório.
O trabalho foi fruto de um estudo realizado conjuntamente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto Mamirauá – unidades de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) – e as universidades de Oxford (Reino Unido) e de São Paulo (USP).
Os resultados da pesquisa estão no artigo "Gargalos na rota migratória do peixe-boi amazônico e a ameaça das barragens hidrelétricas", publicado, em inglês, na última edição da revista especializada Acta Amazonica – publicação do Inpa. De acordo com o estudo, os peixes-boi amazônicos possuem um mapa cognitivo atualizável do ambiente e são "comportalmentalmente plásticos". Os dados indicam que a espécie sabe o momento certo da partida para o lago Amanã, uma decisão que parece se relacionar diretamente com a noção de profundidade nos gargalos migratórios.
"Eles têm uma grande percepção de todo o ambiente, são animais que vivem em uma água turva e conseguem decidir quando é o momento de partir", afirma a coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, Miriam Marmontel, e integrante da pesquisa.
Em junho, os peixes-boi dão início à jornada rumo ao lago Amanã, localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Amazonas. Eles sabem que o nível da água na várzea não é mais o mesmo e, pelos próximos cinco meses, só vai diminuir. O Amanã não seca, mesmo em anos de estiagem extrema, e serve de refúgio contra a caça predatória e o encalhe para esses mamíferos aquáticos.
"Os peixes-boi começaram a migração em tempo justo para atravessar os gargalos mais distantes, sugerindo que a sintonizaram para maximizar o período se alimentando sem comprometer a segurança", relata o artigo, coordenado pelo pesquisador do Inpe Eduardo Moraes Arraut.
"Esperar muito para fazer a travessia pode impedir a passagem dos peixes-boi pelo gargalo migratório. Por outro lado, sair bem antes da vazante significa ficar menos tempo se alimentando. Eles precisam acumular gordura pra aguentar a época seca, quando o alimento é escasso", informa Arraut. "Pelo monitoramento, nós identificamos que os peixes-boi passam por esses gargalos migratórios em média quatro, três e, às vezes, dois dias antes do gargalo secar".
Estimativa
Para a pesquisadora do Instituto Mamirauá, o estudo pode abrir caminhos para resolver uma das grandes questões ainda não respondidas sobre os peixes-boi amazônicos: quantos ao certo existem.
"O lago Amanã não é o único que serve de refúgio para todos os peixes-boi amazônicos que estão em várzea, existem dezenas de outros. Se monitorarmos esses animais nos diversos pontos de refúgio durante a vazante e a seca, vamos começar a ter uma ideia de abundância em locais pontuais e aí a partir disso pode ser desenvolvido um modelo matemático que faça uma estimativa para a área toda, até porque a Amazônia não é uma só", aponta.
Fonte: Noticias ao Minuto