
A ameaça do presidente americano Donald Trump de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros já começa a impactar os preços dos alimentos no Brasil. Com o país sendo um dos principais exportadores de carnes, café, frutas e suco de laranja para os Estados Unidos, o reflexo imediato tem sido a queda nos preços de carnes e frutas no atacado, enquanto o café registra forte alta.
No setor de carnes, os frigoríficos que exportam para os EUA já redirecionam seus produtos ao mercado interno. Segundo Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, isso amplia a oferta doméstica em um período de consumo mais fraco, o que pressiona os preços. Entre 24 de junho e 21 de julho, a carne caiu 7,8% no atacado, e a arroba do boi gordo recuou 7,5%.
O economista Fábio Romão, da LCA 4Intelligence, destaca que a queda é impulsionada pela incerteza causada pelo tarifaço e pela maior oferta provocada pela seca das pastagens. Ele prevê que o consumidor verá os efeitos entre agosto e setembro.
Sérgio Capucci, do Sindicato das Indústrias de Frios de MS, diz que o impacto no consumo ainda é pequeno, com queda de cerca de 5%, mas afirma que os frigoríficos conseguiram desviar parte da produção para países como Chile, China e nações do Oriente Médio. Em 2024, até junho, a produção de carne subiu 1,36%, enquanto as exportações cresceram 12,69%.
Frutas
Na fruticultura, o impacto é visível. A manga tommy, uma das mais exportadas para os EUA, caiu de R$ 1,50 para R$ 1,36 por quilo na última semana, segundo o Hortifrúti/Cepea. Lucas Bezerra, especialista em manga, aponta queda de 30% no quilo entre 3 e 18 de julho, devido à maior oferta e à redução no consumo causada pelo inverno e pelas férias.
O feirante Alex Pinheiro, que atua desde os 10 anos, confirma que alguns preços já caíram. “A uva ficou mais barata. No mês passado, eu pagava R$ 110 a caixa, hoje está R$ 40. Tem muita carreta de uva nos depósitos”, relatou.
Guilherme Coelho, da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas, alerta que, se as 48 mil toneladas previstas para exportação ficarem no mercado interno, o preço pode despencar para R$ 0,30, com risco de prejuízo e perda de colheita.
“O produtor pode ter prejuízo se baixar muito o preço e acabar não colhendo. Defendo que os alimentos fiquem fora do tarifaço”, disse Coelho.
Café
Já o café seguiu o caminho oposto. A cotação em Nova York subiu 6,8% entre 14 e 17 de julho, antecipando os efeitos do tarifaço. No Brasil, o café vinha em queda, mas voltou a subir: a saca de 60 kg, que custava R$ 2.627 em fevereiro e caiu para R$ 1.602 em 7 de julho, já apresenta nova alta.
José Carlos Hausknecht, da MB Agro, também afirma que os EUA terão dificuldades para substituir o café brasileiro, que representa 30% das exportações globais. Com isso, a tendência é de manutenção da demanda, apesar da tarifa.
Fonte: Diario do centro do mundo