De acordo com dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023, mais de 77% dos municípios do Piauí ainda destinam seus resíduos sólidos para lixões, em vez de usarem aterros sanitários adequados.
Em Teresina, a situação não é diferente. Lixões a céu aberto podem ser encontrados em diferentes zonas da cidade, refletindo um problema que vai além da simples questão ambiental – está diretamente ligado à pobreza. Segundo a doutora em Meio Ambiente Maria Carcará, “as comunidades mais carentes frequentemente recorrem a esses lixões em busca de resíduos que possam ser reaproveitados. Uma comunidade pobre vai ao lixão catar resíduos, e ali elas têm contato direto com substâncias perigosas, porque ninguém sabe exatamente o que está sendo descartado", afirma.
Além dos riscos ambientais, o acúmulo de lixo traz sérios problemas à saúde pública. Carcará destaca que, muitas vezes, as pessoas que frequentam esses locais acabam utilizando o lixo até para alimentação. "Elas recolhem objetos e alimentos descartados, e o contato direto com esses resíduos, seja pela pele ou pela inalação, é extremamente prejudicial. A decomposição da matéria orgânica libera gases como metano e dióxido de carbono, que afetam diretamente a saúde dessas pessoas", alerta Maria Carcará.
Outro grande impacto causado pelos lixões é a produção de chorume, um líquido altamente tóxico gerado pela decomposição do lixo. "Em Teresina, por ser uma cidade muito quente, a decomposição acontece mais rapidamente, e o chorume infiltra no solo, comprometendo a fertilidade da terra e, mais grave ainda, contaminando o lençol freático", explica a especialista. O chorume pode, portanto, alcançar poços de água, colocando em risco a saúde da população, especialmente em áreas onde o abastecimento é feito de forma precária.
A população do Residencial Francisca Trindade, na região da Santa Maria da Codipi, zona norte de Teresina, vive essa realidade. A moradora Laudiceia Amâncio, que reside no bairro há 20 anos, explica que o problema é antigo e persiste há anos. "Sempre foi assim. As pessoas jogam lixo, e quando a prefeitura não limpa, o lixo forma montes. E quem joga lixo aqui não são os moradores do bairro, são pessoas que vêm de fora para descartar seus resíduos", conta.
Laudiceia também menciona que, em épocas de eleições, os candidatos sempre prometem melhorias, como a construção de praças, mas essas promessas raramente se concretizam. "É sempre a mesma história, eles vêm, prometem, mas nunca cumprem", lamenta.
Supervisionada pela jornalista Marília Lélis