O físico Ricardo Galvão, um dos cientistas mais respeitados do Brasil, anunciou que deixará a presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para assumir um mandato na Câmara dos Deputados. A vaga era originalmente de Guilherme Boulos, que assumiu o cargo de ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República.
A decisão, divulgada nesta quinta-feira (30) nas redes sociais de Galvão, marca um novo capítulo na trajetória do pesquisador que ganhou projeção nacional justamente por um embate com o poder federal. Em 2019, Galvão foi exonerado por Jair Bolsonaro da direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) após defender a veracidade dos dados de desmatamento da Amazônia divulgados pelo instituto, que contrariavam o discurso do então presidente.
“A voz da ciência no Congresso Nacional. Em 2019, o negacionismo tentou calar a ciência. Mas resistimos. Em 2022, o povo mobilizado derrotou o autoritarismo. Hoje, a ciência brasileira ocupa um lugar na Câmara dos Deputados”, declarou Galvão em comunicado oficial.
Inicialmente, Galvão ponderou se valeria a pena assumir o mandato com um período tão curto pela frente. O impasse foi resolvido após conversas com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e com o próprio Guilherme Boulos. Eles garantiram ao físico que a vaga será sua ao menos até março de 2026, o que o levou a tomar a decisão final.
Em sua mensagem de despedida do CNPq, Galvão agradeceu a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e das ministhas Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) e Marina Silva. “Deixo o CNPq com o sentimento de dever cumprido. A ciência é o caminho, a democracia é o alicerce e a sustentabilidade é o destino”, afirmou.
O novo deputado, que foi candidato nas eleições de 2022 e obteve mais de 40 mil votos, já tem um foco claro na Câmara: integrar a Comissão de Ciência e Tecnologia para lutar por mais recursos para a área. “Temos várias unidades de pesquisa com poucos recursos, e o meu objetivo é ajudar a mudar isso”, disse.
Reconhecimento internacional
A credibilidade de Ricardo Galvão vai muito além do episódio com Bolsonaro. Doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ele foi considerado um dos dez cientistas mais influentes do mundo pela revista Nature em 2019, justamente por sua postura em defesa dos dados científicos.
Em 2021, recebeu o prêmio internacional da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) na categoria Liberdade e Responsabilidade Científica. Recentemente, foi condecorado pelo presidente Lula com a Ordem Nacional do Mérito Científico.
Com mais de quatro décadas dedicadas à ciência, Galvão é especialista em física de plasmas e fusão nuclear, professor aposentado da USP, ex-diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e membro de academias de ciências no Brasil e em São Paulo.
Sobre planos eleitorais futuros, ele se diz parte de uma "rede de pesquisadores engajados" e afirma que, mesmo sem uma nova candidatura, continuará atuando nos bastidores em defesa da ciência.
Fonte: Agência Brasil
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