
A Polícia Civil de São Paulo detalhou, nesta sexta-feira (17), o complexo caminho percorrido pelo etanol "batizado" com metanol que resultou em uma crise de saúde pública, com seis mortes confirmadas e 38 casos de intoxicação no estado. O metanol, um álcool industrial altamente tóxico, foi usado na falsificação de destilados como vodca e gin, causando cegueira e sequelas neurológicas nas vítimas.
O rastreamento do metanol: do ABC Paulista à capital
As investigações revelaram que o combustível adulterado percorreu uma rota que começa em dois postos no ABC Paulista e termina em bares da capital:
Compra do combustível: o etanol contaminado era comprado em dois postos de combustível localizados em Santo André e São Bernardo do Campo. Amostras colhidas nos locais confirmaram a presença de metanol acima do limite permitido até para uso veicular (0,5%).
Produção clandestina: de lá, o etanol era levado para uma fábrica clandestina em São Bernardo do Campo, fechada em 10 de outubro. No local, o etanol era misturado com metanol para falsificar bebidas alcoólicas, visando reduzir custos e aumentar o lucro dos criminosos. Perícias encontraram concentrações de metanol superiores a 40% em amostras apreendidas – um nível extremamente elevado.
Logística de embalagens: o fornecedor das garrafas usadas na falsificação mantinha um depósito exatamente em frente a um dos postos de combustível investigados, facilitando a logística do esquema.
Distribuição e venda: as bebidas adulteradas eram distribuídas e vendidas em bares e adegas de diversas regiões da capital, incluindo a Mooca (Zona Leste), onde ocorreram as duas primeiras mortes, e a Saúde (zona Sul), onde um homem ficou cego.
Líder do esquema presa
O esquema era liderado por Vanessa Maria da Silva, presa na semana passada. As investigações apontam que o grupo criminoso era composto por um núcleo familiar, incluindo o ex-marido, o pai e o cunhado de Vanessa, que atuavam no processo de produção, envase e distribuição das garrafas falsificadas.
Início da crise e alerta
O Ministério da Saúde aponta que os primeiros casos de intoxicação foram identificados no final de agosto. No entanto, o padrão incomum foi detectado em 22 de setembro, quando hospitais notaram que as vítimas apresentavam sintomas graves de intoxicação por metanol após ingerirem bebidas alcoólicas compradas em bares, e não combustível ou produtos industriais.
Adulteração tem ligação com o PCC?
Segundo o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, os suspeitos presos até agora não têm ligação com facções e foram, na verdade, prejudicados por uma organização criminosa que lucra com a adulteração do combustível.
Na visão do secretário, os adulteradores tinham a intenção de mudar as fórmulas das bebidas com etanol, mas compraram sem saber os combustíveis adulterados com metanol nesses postos. “É uma associação criminosa que foi prejudicada por uma organização criminosa”, disse.
Segundo o secretário, a adulteração de bebidas alcoólicas é uma prática antiga, mas o caso chamou atenção pelo alto índice de metanol encontrado. Uma das bandeiras dos dois postos de combustível suspeitos de vender etanol "batizado" foi citada na Operação Carbono Oculto, que apura a infiltração da facção criminosa PCC em todas as etapas de produção e venda de combustíveis no Brasil.
A Polícia Civil de São Paulo encontrou na sexta-feira (17) dois postos de combustível suspeitos de vender etanol "batizado" com metanol para ser usado na fabricação clandestina de bebidas alcoólicas ligadas a duas mortes.
Seis mortes
Até sexta-feira (17), seis pessoas morreram após consumir bebidas contaminadas com metanol: Ricardo Lopes Mira (54), Marcos Antônio Jorge Júnior (46), Marcelo Lombardi (45), Bruna Araújo (30), Daniel Antonio Francisco Ferreira (23) e Leonardo Anderson (37).
Fonte: g1 São Paulo