O caminho vivido e proposto por Teresa de Lisieux no seguimento de Jesus tem uma atualidade surpreendente. Suas reflexões sobre o seu cotidiano, fundamentadas sobretudo nos Evangelhos, revelam uma pessoa que encontrou na simplicidade do amor gratuito o caminho para a vida em plenitude. Ela, de forma esplêndida, expressou isso em uma de suas poesias(P 54, 22):
“Amar é doar tudo e doar-se a si mesma”.
Em seu poema "Lançar flores", Teresa nos diz:
"Lançar flores é oferecer-te como primícias / Os mais leves suspiros, as maiores dores. / Meus sofrimentos e minhas alegrias, meus pequenos sacrifícios: / Eis aí as minhas flores!". Para ela, cada vivência do cotidiano, agradável ou desagradável, deve ser transformada interiormente em “flores de gratuidade” ofertadas a Jesus.
No Manuscrito B, Teresa aprofunda o significado dessas "flores" de gratuidade. Ela explica: "Sim, meu Bem-Amado, eis como se consumará minha vida ... Não tenho outro meio de provar-te meu amor, senão lançar flores, isto é, não deixar escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra, aproveitar todas as menores coisas e fazê-las por amor".
No Manuscrito A ela esclarece: “...Decidi dedicar-me, mais do que nunca, a uma vida compenetrada e mortificada. Se digo mortificada, não é para levar a crer que praticasse penitências. Infelizmente, nunca fiz nenhuma.(...) Minhas mortificações consistiam em refrear minha vontade sempre prestes a se impor, em reprimir uma palavra de réplica, em prestar pequenos serviços sem pensar em retribuição.”
E no Manuscrito C ela complementa:
“Ah! Compreendo agora que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, não se surpreender com suas fraquezas, edificar-se com os menores atos de virtude que os vemos praticar. Compreendi, que a caridade não deve ficar presa no fundo do coração.” (...) “Sinto que quando sou caridosa é só Jesus que age em mim; mais unido fico a Ele, mais amo todas as minhas irmãs.”
Ao lançar suas "flores" de pequenos sacrifícios e gestos de amor, Teresa nos ensina que a santidade não é uma meta distante e inatingível, reservada apenas a alguns eleitos. Pelo contrário, ela nos mostra que a perfeição cristã está ao alcance de todos, pois se fundamenta no amor gratuito e na confiança em Deus. Não são necessárias grandes obras ou feitos extraordinários para agradar a Deus, mas sim um coração humilde e disponível, pronto a acolher Suas dádivas e a corresponder ao Seu amor.
Assim, Teresa de Lisieux nos apresenta um caminho de santidade(seguimento de Jesus) acessível a todos, baseado na gratuidade do amor. Ou seja, a prática desse amor gratuito é que nos santifica, nos torna verdadeiros irmãos seguidores de Jesus. Suas "flores" de pequenos sacrifícios, renúncias e gestos de caridade perfumam o mundo com a fragrância do Evangelho do amor gratuito, que pode ser resumido no mandamento: “Amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês. Ninguém tem amor maior do que alguém que dá a vida pelos amigos”. (Jo 15, 12-13)