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RELIGIÃO E FÉ

Democracia fraterna radical (Parte II)

Educação para a cidadania fraterna radical

Por Nazareno Fonteles

Quinta - 02/10/2025 às 11:32



Foto: Redes sociais A fraternidade é uma virtude humana
A fraternidade é uma virtude humana

Formar cidadãos capazes de exigir coerência institucional demanda currículos que preparem para as realidades do século XXI. O desenvolvimento do pensamento crítico através da análise comparativa de discursos políticos, a capacitação em negociação complexa via simulações multipartes, e a gestão transparente através de jogos de administração colaborativa representam apenas o início de uma revolução pedagógica necessária.

Caminhos concretos para a transformação

Para famílias, a mudança começa na implementação de Conselhos Éticos Familiares com participação externa periódica, envolvendo vizinhos e educadores que tragam perspectivas externas aos debates domésticos. O desenvolvimento de Projetos Solidários intergeracionais, como tutorias tecnológicas reversas onde jovens ensinam idosos sobre segurança digital, cria pontes que fortalecem tanto a coesão familiar quanto o tecido social mais amplo.

As instituições precisam estabelecer Ouvidorias Autônomas com poder investigativo real, não apenas caixas de sugestões decorativas. A adoção de Sistemas Integrados de Transparência que vinculem discursos públicos a relatórios internos auditáveis transformará a prestação de contas de exercício retórico em prática verificável.

A sociedade civil, por sua vez, pode criar Observatórios Cidadãos de Coerência Democrática que avaliem anualmente organizações públicas e privadas, promovendo Fóruns Híbridos que combinem participação online e presencial na construção colaborativa de políticas locais.

A revolução da integridade fraterna

A jornada rumo à coerência democrática radical não é utopia romântica, mas necessidade histórica urgente. Os dados revelam padrões preocupantes: entre 2010 e 2023, a percepção de hipocrisia institucional cresceu 73%, enquanto a confiança interpessoal regrediu aos níveis da década de 1980. Neste contexto, a máxima atribuída a Gandhi - "Seja a mudança que você quer ver no mundo" - adquire significado estratégico concreto.

As instituições que sobreviverão às crises deste século serão aquelas que compreenderem sua função ética de responsabilidade fraterna e comunitária: tornar visível e tangível os valores que professam. Para famílias, partidos políticos, igrejas e associações comunitárias, isso significa transformar seus espaços e reuniões em centros vibrantes de diálogo, solidariedade e ação radical, abertos e responsivos às necessidades da sociedade. Seu sucesso dependerá da capacidade coletiva em exigir - e viver - uma coerência ética que una lar e praça pública num único movimento transformador.

A democracia viva no cotidiano

A democracia do futuro não será aquela que cantamos em hinos, nem aquela que esculpimos em monumentos. Será aquela que tecemos diariamente nos microcosmos da vida cotidiana. Até lá, sigamos construindo pontes entre o ideal proclamado e o real praticado, tijolo após tijolo de coerência ética na grande obra civilizatória que nos cabe erguer juntos. Ela começa em casa, estende-se às comunidades e alcança as instituições maiores - uma transformação que não espera por líderes messiânicos, mas se constrói através da ação consciente de cidadãos comprometidos com a coerência entre seus valores e suas práticas.

A transformação democrática que propomos não acontece em grandes eventos ou marcos históricos, mas na textura fina do cotidiano. Cada conversa familiar sobre o orçamento doméstico, cada decisão coletiva em uma associação de bairro, cada momento em que escolhemos a transparência em vez do sigilo representa um ato revolucionário silencioso. É nessa escala microscópica que a democracia fraterna radical encontra seu terreno mais fértil.

Considere o impacto transformador de práticas aparentemente simples: quando uma família decide que as regras da casa serão discutidas e votadas por todos os membros, incluindo os mais jovens, está plantando sementes de participação cidadã que florescerão décadas depois. Quando uma igreja permite que seus fiéis questionem abertamente as decisões financeiras da instituição, está modelando a transparência que esperamos encontrar nos órgãos públicos. Quando um partido político submete suas estratégias eleitorais ao escrutínio de militantes de base, está demonstrando que a democracia interna não é incompatível com a eficácia política.

Tecnologia: aliada da participação raterna

A revolução digital oferece ferramentas inéditas para materializar esses ideais democráticos. A experiência do OPA (Orçamento Participativo Digital) do governo estadual do Piauí é um belo exemplo. Aplicativos de votação segura permitem que comunidades religiosas decidam coletivamente sobre investimentos e prioridades pastorais, assim como pais ou responsáveis possam opinar nas escolas de seus filhos. Plataformas de orçamento participativo digital capacitam famílias a ensinar educação financeira através da prática democrática real. Sistemas de blockchain garantem que as promessas eleitorais de candidatos sejam permanentemente registradas e facilmente verificáveis pelos eleitores.

Mas a tecnologia por si só não é panaceia. Seu potencial transformador só se realiza quando combinada com uma cultura de participação genuína e uso responsável controlado. Por isso, a formação de "alfabetizadores digitais democráticos" - pessoas capacitadas a ensinar tanto o uso técnico dessas ferramentas quanto seus princípios éticos subjacentes - torna-se estratégica para o sucesso dessa revolução.

SOBRE O AUTOR

SOBRE O AUTOR

José Nazareno Cardeal Fonteles é graduado em Medicina e Matemática. Fez residência médica em Ortopedia e Traumatologia e mestrado em Matemática. Atuou como ortopedista no HGV, na Casamater e nas clínicas Cot e Copil. É professor aposentado da UFPI. Exerceu mandatos de vereador, deputado estadual e de deputado federal. Fundou e presidiu por sete anos a Frente Parlamentar da Segurança Alimentar e Nutrcional do Congresso Nacional. Foi secretário de saúde do Piauí. Participa da direção do grupo educacional CEV. É casado com Nereida, pai de Deborah, Danielle e Rafael e avô de sete netos. Tem fé em Jesus de Nazaré, o Mestre do Amor Gratuito. Instagram do autor

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