Viver Pleno

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RELIGIÃO E FÉ

O Princípio da Esperança Resiliente

Por Nazareno Fonteles

Quinta - 27/03/2025 às 20:04



Foto: Reprodução/Redes sociais A esperança em Cristo é revigorante
A esperança em Cristo é revigorante

Em um mundo cada vez mais utilitarista, onde até mesmo as relações afetivas são frequentemente reduzidas a trocas e cálculos de custo-benefício, emerge uma verdade revolucionária e transformadora: "Tudo concorre para o bem dos que buscam amar como Jesus nos amou". Este é o Princípio da Esperança Resiliente, uma afirmação que vai além do mero otimismo. É um chamado à gratuidade do amor, àquele gesto que não calcula, não cobra e não espera retorno — como Jesus ensinou no Evangelho de João: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (João 13, 34-35).

Resiliência, no contexto cristão, não é apenas suportar a dor, mas encontrar nela um propósito que transcende o sofrimento. O Princípio da Esperança Resiliente nos revela que essa força brota do amor gratuito— aquele que Jesus viveu ao alimentar multidões e curar doentes sem exigir nada em troca, ao perdoar mesmo estando na cruz e que Ele mesmo o sintetizou durante a última ceia no gesto de lavar os pés dos discípulos e no novo mandamento: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”(Jo 13, 14) e “Como vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”(Jo 13, 34).

Amar como Ele amou é romper com a lógica do “merecimento”. É doar-se sem garantias, abraçar sem julgar, e servir mesmo quando o outro parece indiferente. Esse amor não é ingênuo; é corajoso. Ele entende que a gratuidade não é fraqueza, mas a única força capaz de transformar ciclos de ódio em histórias de redenção. Quando vivemos assim, as crises deixam de ser becos sem saída e passam a ser janelas para enxergarmos a ação cooperativa de Deus em nós.

Jesus não sugeriu um “estilo de vida alternativo”; Ele ordenou cordialmente que amássemos como Ele o fez. E como foi esse amor? Gratuito. Ele amou os discípulos antes que estivessem “prontos”, acolheu Maria Madalena em sua fragilidade, e ofereceu água à mulher samaritana sem cobrar moralidade. O amor de Cristo não era uma moeda de troca, mas um rio que corria para saciar a sede de quem se mostrasse disponível.

Esse é o cerne do Princípio da Esperança Resiliente: quando abraçamos a gratuidade do amor, passamos a enxergar todas as coisas — inclusive as dolorosas — como ajustes à vontade de Deus em nossa missão à Vida Plena. Crises deixam de ser becos sem saída e se tornam portais para vislumbrarmos a ação divina; perdas financeiras se convertem em lições sobre confiança e desapego; traições nos conduzem a exercícios profundos de perdão e compaixão; enfermidades nos recordam o valor da compaixão e do cuidado mútuo. Nada é desperdiçado quando o amor de Jesus é nossa lente.

Viver o amor gratuito exige desprendimento. Significa abrir mão da ilusão de que podemos controlar resultados ou manipular pessoas através de nossas ações. Jesus não curou todos os enfermos da Galiléia, não converteu todos os fariseus, e mesmo assim “amou até o fim”. Seu exemplo nos desafia a focar não no “impacto” do nosso amor, mas na sua autenticidade. 

Aqui, a esperança resiliente se revela: mesmo que nosso amor pareça não mudar nada, ele está mudando tudo. Como uma semente invisível sob a terra, a gratuidade trabalha em silêncio. Quem ama como Jesus não busca aplausos, mas confia que Deus usa até os gestos mais simples para gerar transformações profundas e duradouras.

Para incorporar o Princípio da Esperança Resiliente em nosso cotidiano, podemos adotar algumas práticas concretas:

Perdão Proativo: Seguindo o exemplo de Jesus na cruz, que intercedeu por seus algozes sem exigir arrependimento prévio (Lucas 23:34), busquemos perdoar antes mesmo de receber pedidos de desculpas.

Serviço Silencioso: Inspirados pelo ensinamento de Jesus sobre a discrição nas boas obras (Mateus 6:3), doemos tempo, recursos ou atenção sem transformar nossos gestos em espetáculos de autopromoção.

Amor Inclusivo: Assim como Jesus comeu com cobradores de impostos e ouviu ladrões, busquemos amar especialmente aqueles considerados "inadequados" pela sociedade.

Vulnerabilidade Corajosa: Permitamo-nos amar mesmo quando há risco de sermos feridos, lembrando que o amor gratuito é corajoso, não blindado.

Gratidão frequente: Cultivemos um coração grato, reconhecendo que cada oportunidade de amar é um dom, não um fardo.

Meditação Diária: Reflitamos regularmente sobre o amor de Cristo, alimentando nossa capacidade de amar gratuitamente.

Comunidade de Apoio: Busquemos nos cercar de pessoas que também valorizam e praticam o amor gratuito, fortalecendo-nos mutuamente.

O Princípio da Esperança Resiliente não é um truque para evitar o sofrimento, mas a certeza de que nenhuma semente de amor gratuito cai em vão. Jesus nos mostrou que a cruz, símbolo máximo da dor, tornou-se o maior exemplo de entrega sem reservas. E foi ali, na aparente derrota, que a ressurreição floresceu. 

Hoje, somos convidados a viver essa mesma lógica paradoxal: quanto mais nos doamos de graça, mais descobrimos que a verdadeira esperança não está no que conquistamos, mas no que entregamos, pois, como escreveu Teresa de Lisieux, “amar é tudo dar, e dar-se a si mesmo”. E João da Cruz completa: "No fim da vida, seremos julgados pelo amor". Este julgamento não será baseado em nossas conquistas, títulos ou posses, mas na qualidade e gratuidade do nosso amor.

Que possamos, então, abraçar o Princípio da Esperança Resiliente com todo o nosso ser, permitindo que o amor gratuito de Jesus Cristo flua através de nós, transformando não apenas nossas vidas, mas todo o mundo ao nosso redor.

Foto/reprodução/Internet 

SOBRE O AUTOR

SOBRE O AUTOR

José Nazareno Cardeal Fonteles é graduado em Medicina e Matemática. Fez residência médica em Ortopedia e Traumatologia e mestrado em Matemática. Atuou como ortopedista no HGV, na Casamater e nas clínicas Cot e Copil. É professor aposentado da UFPI. Exerceu mandatos de vereador, deputado estadual e de deputado federal. Fundou e presidiu por sete anos a Frente Parlamentar da Segurança Alimentar e Nutrcional do Congresso Nacional. Foi secretário de saúde do Piauí. Participa da direção do grupo educacional CEV. É casado com Nereida, pai de Deborah, Danielle e Rafael e avô de sete netos. Tem fé em Jesus de Nazaré, o Mestre do Amor Gratuito. Instagram do autor
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