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Aposentados são vítimas de descontos ilegais e denunciam casos à PF

Depois de fazerem empréstimos consignados, os aposentados são surpreendidos com uma série de descontos em seus contracheques

Cintia Lucas

Quarta - 03/01/2024 às 09:56



Foto: Montagem Piauí Hoje Aposentados têm descontos indevidos em seus contracheques
Aposentados têm descontos indevidos em seus contracheques

Teresina (PI) - Aposentados e pensionistas do INSS da cidade de São João do Sóter, no Maranhão, denunciam que estão sendo vítimas de descontos não autorizados em seus contracheques e que, por conta disso, ficam com menos da metade do dinheiro a que tem direito. A maioria deles recebe a remuneração pelo banco Agibank no valor de um salário mínimo. A reclamação vem do Maranhão, mas casos como esses têm se tornado cada vez mais comuns no país, principalmente em cidades do interior e zonas rurais, onde o acesso à informação e garantia de direitos são mais difíceis.  

O problema começa quando o idoso ou idosa faz um empréstimo consignado. Ao fazer o acordo com o banco é fechado o valor de uma determinada parcela que deverá ser descontada mensalmente direto no contracheque. O problema é que, junto a essa parcela, começam a vir uma série de descontos que não foram autorizados e, muitas vezes, nem informados aos aposentados.

Os valores dos descontos são tão altos, que, somados à parcela do consignado, representam mais de 50% do pagamento deixando os idosos em situação difícil até mesmo para alimentação. A maioria são trabalhadores rurais, idosos e com saúde debilitada devido à idade.

“Quando a pessoa vai receber no caixa, vem recheado de desconto, tem seguro, tem arrecadação, tem contratos que se repetem com a mesma numeração. Procurei o gerente para saber o que era, ele disse que não sabia explicar, que precisava da pessoa mesmo para poder abrir o processo, para saber que tipo de arrecadação é essa. Aquela pessoa simples e humilde, sem saber de nada, sem ter contratado nada, recebe R$ 500,00, recebe R$ 350,00, ou seja, esse dinheiro é tão pouco que não dá para ele se manter, ele vive em estado de miséria”, disse a assistente social Antônia Amorim, que descobriu sobre os descontos quando o esposo se aposentou e precisou fazer um consignado.  

Antônia se informou e descobriu que outros vizinhos em São João do Sóter também passavam pelo mesmo problema. Um exemplo é o senhor Bento Viana da Silva. No contracheque dele, a renda mensal é de R$ 1.320, porém, ele fez consignado que desconta R$ 550,16, assim, era para ele receber um valor líquido de R$ 769,84, porém, recebe muito menos, apenas R$ 580, devido aos descontos bancários que incluem até mesmo título de capitalização.

“Procurei o gerente sobre os descontos e, no mês seguinte, comecei a receber R$ 700. Quando fui falar com ele, disse que saí premiado e perguntei a ele: como assim? Não entendo nada, mas o título de capitalização não veio mais depois que fui reclamar”, disse o aposentado.

A assistente social buscou ajuda com a Polícia Federal, mas foi informada que, a partir do momento em que a Previdência paga a renda mensal, não é mais responsável pelo dinheiro, e quem deve gerir a renda é o aposentado, ou seja, a PF não pode intervir. Antônia buscou a Polícia Civil e registrou um Boletim de Ocorrência.

O aposentado Laurentino Rodrigues, esposo de Antônia, tem duas contas contratos em seu contracheque nos valores de R$ 159,20 e R$ 4,71, além do consignado e ainda uma arrecadação do banco de R$ 10. O valor final que ele pôde sacar foi de R$ 600. Foram quase R$ 200 somente de descontos com taxas para o banco.

A aposentada Teresa Maria Simão de Andrade tem descontado em seu contracheque, com a sua autorização, um consignado e um desconto sindical no valor R$ 462 e R$ 26,40, respectivamente. Porém, quando ela foi sacar recebeu somente R$ 580, dos R$ 831,60 a que tinha direito. A diferença ficou com o banco por tarifas e seguros que ela não contratou.  

“É tanta coisa descontada que nem sei dizer o que é. O que sobra só dá para viver muito ruim, comprando fiando, não dá para comprar frutas e nem verduras, não sobra nada”, disse Teresa Maria.

Raimundo Ferreira da Silva recebe R$ 841 do INSS, porém, com os descontos não autorizados do Agibank fica com apenas R$ 590. “Faz tempo que isso acontece, quando vou ao mercado não sobra nada”, disse.

Recebendo apenas R$ 340 dos R$ 712 a que tem direito, a aposentada Maria Luiza da Silva foi até o Agibank saber o motivo de tantos descontos, além do empréstimo consignado que foi feito. “O gerente não soube me dizer direito, não fico com nada”, disse.

Para receber seus proventos, os beneficiários do INSS recebem um cartão e que já está vinculado a um banco, de escolha do próprio INSS. Não existe agência bancária do Agibank em São João do Sóter. Os beneficiários precisam se deslocar para a cidade de Caxias, também no Maranhão, para receberem seus proventos.    

“Estive com o gerente do Agibank em Caxias. Gostaria que o INSS se manifestasse sobre o que está acontecendo com esses idosos. São pessoas leigas, cansadas de trabalhar e quando chega na idade de aposentar recebe um valor irrisório que não dá para comprar nem as medicações”, disse Antônia Amorim.

OUTRO LADO
O Piauí Hoje entrou em contato com o Agibank em Caxias pelo número (99) 3521-3023, mas não obtivemos retorno.

O INSS disse que realiza normalmente os pagamentos dos aposentados e que não é responsável pelos acordos feitos entre eles e o banco.

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Cintia Lucas

Cintia Lucas

Cintia Lucas é jornalista formada pela Universidade Federal do Piauí e mestra em Comunicação pela mesma instituição. A coluna vai abordar os bastidores da notícia, com foco em temas de interesse público. Contato: cintialuc1@hotmail.com

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