Somente as coisas belas teriam direito à proteção? E o que é beleza? E a feiura, que é? Ou não há feiura?
Beleza e feiura existem. O que não se pode esquecer é que se trata de algo relativo às instâncias insondáveis da percepção dos sentidos...
O que faria uma cidade ser percebida como bonita ou feia? Entre mais, que impacte a alma de quem a contemple visualmente ou que sinta seu pulsar pelas conexões de espírito que sua gente manifeste à alteridade.
Mas concordemos com o poetinha: “beleza é fundamental”. E se a beleza exprime o fazer da mão dos ventos, das águas, de lavas ferventes ou nevascas gélidas... E se saem da mente e mão humanas; se é artefato da genialidade e cultura dos viventes capazes do encantamento?
Essas observações me vêm a propósito de livro sobre monumentos arquitetônicos da cidade de Parnaíba, há pouco editado. Trata-se de publicação assinada pelo acadêmico e empresário Valdeci Cavalcante, filho-amante desse lugar. Valdeci é um apegado às ligas que imantam interessantes expressões da mui atraente metrópole equinocial do delta dos taramembés de guerra. Sobre o dorso desses guerreiros cálidos a cidade de hoje elabora seu destino.
Um livro bonito para mostrar expressões monumentais da arquitetura parnaibana. Nele se cruzam – fundem-se – a Fotografia e a Arquitetura, isto é, a arte de brincar com a luz e a brincadeiras da luz com as faces trazidas ao alento e fruição pelo arquiteto. Fotografia predominante de João Carlos Araújo.
Quais as escolhas do autor? O edifício da Alfândega: talvez, de todos, o mais icônico e revelador das traduções das vidas da cidade, de sua relação com os fluxos metropolitanos conotados na economia das trocas, por águas e terras, e pela cruz. Sacada legal ser agora esse lugar a sede da Federação do Comércio.
A União Caixeral, obra neoclássica que orna a via getuliana da cidade; agora é um monumento, uma instância museal, na forma de casa de cultura de eclética funcionalidade em múltiplos espaços.
O Ginásio Parnaibano: prédio escolar que abrigou a grandeza significante de uma cidade com curso ginasial há quase 100 anos. Ouso dizer que é o mais belo monumento, de pé, da arquitetura escolar civil do Piauí – de par com a Escola Normal, em Teresina, hoje sede da municipalidade. O Sesc, filho da contingência social do mundo do trabalho, certeza o descasernará e devolverá à civilidade.
Edifício do Parnaíba Palace Hotel: arquitetura do meado do século XX. Hoje restauradas, sua feição arquitetônico e suas funções de Hotel charmoso no boulevard de Vargas.
Os casarões de Doca Machado, de Maria da Penha, de Ozias Correia – revitalizados, inclusive com equipagens internas de muito valor, compõem o livro-álbum, misto de texto do próprio Valdeci e fotografia; fotos que falam e textos que suspiram historicidade. Assim o registro do chamado Castelo do Maracujá, ou Castelo do Tó.
Parnaíba, filha das salgas, das vias de velas e vapores, também se deixa representar, na paisagem e no livro em comento, pela evocação do “trem de ferro” em variados vestígios citadinos. Pois o livro documenta a transformação de uma locomotiva de 95 toneladas, havida por ferro velho, e vagões, num espaço de Biblioteca atraente – “Dilma Ponte” – que suscita tradições literárias parnaibanas.
O livro todo – edição garbosa da Sieart – é o filho-autor apaixonado pela póvoa natal, gostosamente escancarando provas inequívocas de sua parno teluricidade. Valdeci lidera o Sesc e conexos. Mobiliza, piauiensizando, os meios que essa potente organização dispõe para encaminhar realizações que, há muito, muitos no Piauí queriam ver andar.
Somente essa prediaria da Parnaíba faustosa exprime sua beleza plástica? Não. Tem mais o que de si mostrar a tricentenária “metrópole das províncias do norte”, carmelita e cheia de Graça. No singular, claro, pq Divina e Plena.