Muita gente aclamando a fala do presidente do Brasil na ONU. Tanta outra gente detestando e xingando contra, dentro e fora do País.
Quem tem o mínimo de bom senso, respeita. Até porque as afirmações presidenciais no dito foro não constituem novidade absoluta. Novidade é um líder brasileiro, na presidência da República, dizer tudo o que disse, no lugar que disse. Afinal, o lugar-mundo depois chamado Brasil, historicamente, comporta-se tal a mera colônia aqui configurada por anglo-peninsulares-senhores, a partir do século XVI de nossa era.
O que mais importa, acentuar: 1. Lula reafirmou o projeto brasileiro de levantar a Independência do Brasil. Projeto de muitos ao longo da história, mas ainda sem constituir a força capaz de politicamente acontecer, no modo de fazer valer sua real soberania.
O Brasil é um imenso espaço continental-territorial sob o controle de uma coligação euro-norte-americana, que determina seu lugar na história destes últimos cinco séculos. Isto é, o Brasil é uma roça do mundo; paraíso mineral dos industriosos; um provedor de ar puro aos sujismundos.
É uma potência de natureza o Brasil! Essa sua qualidade melhor para nela habitar um povo nutrido, cheio de vigor, e livre, sobretudo da miséria. É o contrário: a riqueza do Brasil é para os outros; aos brasileiros em sua maioria, sobras e sobejos.
Evocando o sentido da obra de Celso Furtado: Brasil um produtor de matéria alimentar boa para ricos povos. De lavras não alimentares, o algodão, por exemplo. Coletas vegetais abundantes, madeiras das melhores, festim medicinal... Monoculturas de sobremesa: açúcar, café, cacau, soja, laranja, melões, castanhas, bananas de toda espécie... Já os produtos da mesa: arroz, feijão, trigo, milho... Importe-se.
Carnes? Aos chic do mundo, os filés todos do “agrocurral” brasiliano. Aos milhões de brasileiros trabalhadores reais da roça e curral do mundo, o lixo dos frigoríficos, os ossos para roer, as vísceras, os bofes. Pés, asas, pescoço, moelas de galeto aos milhões de pobres. O peito e coxas de frango comidos nas Arábias. Soja para os porcos saudáveis da China. Rejeitos ao consumo dos famintos.
2. Lula acusou, na própria furna deles, os rapinos colonialistas, de subtraírem a bilhões de humanos o direito ao mundo justo, igual, sem fome, em paz. Neoliberalismo: Lula teve a coragem de citar essa regra de morte, para condenar, dando nome à coisa, os donos das armas assassinas de países, idem, e ditadores da economia que cria a fome e insondáveis misérias, entre estas, a violência em todas as formas e por todos os meios.
Uma dessa formas de violência é a “rebeldia” da Natureza contra as agressões que lhe impõe a ganancia diabólica da acumulação capitalista. Cresce a mortandade de seres diversos, na morte apressada do dito “sapiens”.
Lula condenou as guerras, frente a frente com alguns dos senhores dela, chefes de nações vilãs da Humanidade, algozes do futuro.
Teve a coragem, Lula, de apontar a esperteza da extrema direita, câncer aparentemente incurável cuja violência anti-fraterna esgarça o corpo social.
Lula disse tudo isso porque tem legitimidade para agir assim. Quer reinserir o Brasil nas articulações que tendem a preponderar no mundo de agora em diante, após a hecatombe presidencial do bosomorismo e a sabotagem da democracia, no extremo, reacendendo no Brasil as hostes fascistas.
A direita enfrenta estes dias instilando ódio ante evidências de acertos do presidente nascido na Vargem Comprida dos Caetés. A militância do ódio caminha pro cárcere por tentativa de golpe ditatorial. Lula cumpre o papel para o qual foi eleito.
Mas ele não pode fazer tudo que quer e seus mais chegados. A eleição que o consagrou, escolheu também um Congresso de direita. Que fazer? O que vem fazendo.